sábado, 27 de setembro de 2008

Casamento «gay»

Recebi de João Mateus, já conhecido neste espaço, este texto, escrito com uma erudição muito superior à média nacional, que poderá suscitar polémica, mas que constitui uma visão muito partilhada. Também me choca que os homossexuais, insistindo em evidenciar de forma espectacular, em manifestações de rua, a sua diferença, não tenham a criatividade de adoptar uma palavra também diferente para simbolizar a sua união, sem terem de usar o termo casamento, que não aceitam na sua plenitude. Porquê copiar os outros? A união traduzida por palavra inovadora poderá dar-lhes prerrogativas civis, legais, iguais ao casamento, sem irem chocar mentalidades menos flexíveis e mais rigorosas no significado da instituição.

Eis o texto e João Mateus:

Entendeu o Deputado Francisco Louçã, na interpelação parlamentar de 4ª feira, fazer uma incursão pelos domínios do latim, jogando ao 1º Ministro com um 'Habemus Papam', omitindo as palavras que imediatamente antecedem estas no anúncio católico de uma eleição papal, e que são 'gaudium magnum'. Não espanta, aliás, visto que nenhum gáudio lhe virá por certo de haver Papa, atentas as suas crenças... ou descrenças.

Conduz-nos o facto, porém, ao uso de uma outra expressão latina, esta de multissecular cântico universitário e que reza 'gaudeamus igitur', alegremo-nos pois, traduzindo, e com que aqui pretendo manifestar, sim, o gáudio pela afirmação categórica do Eng. Sócrates de não fazer parte dos programas nem do Governo nem do P.S. o lançamento da discussão do problema do alcunhado 'casamento gay', esperando só que a afirmação seja convicta quanto baste para não incluir a intenção de no próximo programa eleitoral, em entrelinha ou em letra miudinha o vir a introduzir, sobrepondo-o aos problemas sociais ingentes.

Mas porque nos regozijarmos? Tão só pelo facto de, por obscuras artes, os partidos que na União Europeia se proclamam de esquerda e que têm vindo a manifestar estranha apetência pelas causas ditas fracturantes, em lugar das sociais, que vemos, aliás, como devendo ser transversais a toda a sociedade, estarem progressivamente a ser afastados do poder que, cada vez mais, vai caindo nas mãos do neo-liberalismo em crescente situação de acasalamento com a política de George Bush, geradora do caos que nos atingiu.

Mas qual a causa desta deriva da esquerda, substituindo a sua preocupação tradicional com as classes desprotegidas pelas preocupações das franjas radicais de uma esquerda folclórica?

Magna questão esta, por certo, para a qual, à míngua de credenciais para dar cabal resposta, nos abalançamos apenas a lançar uma pergunta:

Será que a 'queda do muro de Berlim', símbolo apenas do ruir fatal da mais longa e obscena ditadura do século XX, levou as esquerdas à convicção da chegada do 'fim da História', defendida por Fukuyama, deixando o Homem de ser o objectivo último de todas as políticas para passar a mero instrumento de uma larvar ditadura do 'económico'?

Será que deixaram as esquerdas de crer na sua velha luta e que, para se auto-justificarem, se convenceram que ser de esquerda é defender a causa daqueles que esquecendo que, antes de serem 'humanos', são seres vivos, animais como os outros animais, sem falar das plantas, cujas funções vitais são a nutrição, a relação e a reprodução, sendo que esta é a mais relevante como capacidade de transmitir o dom da vida e de garantir a sobrevivência da espécie, sem prejuízo do mérito de todo aquele que, para se dar a uma causa maior, por uma mais vasta parcela da sua espécie, voluntariamente renuncie à construção da célula base que, para qualquer espécie desenvolvida do reino animal, é a família?

E tudo isto aceitando acriticamente considerar como discriminação o não poderem os homossexuais aceder ao casamento, acto concebido à nascença como forma de coroação, sacramental ou somente contratual, da constituição da dita família que, sem prejuízo de outras relevantes funções, é, em primeira linha, o ambiente natural para a reprodução e para o desenvolvimento harmonioso do seu fruto?

Como nos deixamos, ingloriamente, ultrapassar por um simples casal de passaritos que amorosamente prepara o ninho para os que vai gerar...

Qual será, ao fim e ao cabo, entre nós e eles a 'obra prima' da natureza? '

Tinha ou não razão no que disse a abrir?

João Mateus

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