Depois do post «Reagir pela positiva» e de outros anteriores, deparei hoje, dia da abertura das aulas, com dois textos interessantes que ajudam a melhor compreender o problema e a forma como este está a ser encarado pelos políticos.
O milagre socrático na educação
Sofia Barrocas
Em Global Notícias 080915. Editora-executiva da ‘Notícias Magazine’
Milhares de estudantes e professores começam hoje um novo ano escolar que o Governo gostaria que deixasse uma imagem de idílico: alunos “de ponta” especializados em informática graças à distribuição dos Magalhães a custo reduzido, crianças bilingues devido à introdução do Inglês curricular nos primeiros anos, adolescentes esclarecidos mercê das novas aulas de Saúde agora com a componente de Educação Sexual, melhoras espectaculares nos resultados dos exames nacionais de Português e Matemática convenientemente “almofadados” pelas provas intercalares que dão a medida do saber (?) dos alunos e permitem a elaboração de enunciados finais “à medida” para o sucesso escolar que se pretende.
Um verdadeiro “milagre socrático” na Educação que, infelizmente, deixa a sensação de não ter tradução na vida real das escolas.
Políticos inspiram-se na 3.ª classe
Isabel Stilwell
Destak . Editorial 15 | 09 | 2008
Esta mania de inventar o que já foi inventado, pondo-lhe um nome novo é um tique nacional insuportável. Com a agravante de que a recriação é geralmente pior do que o original. Foi a conclusão a que cheguei ao (re)ler o Livro de Leitura da 3.ª Classe, agora reeditado. Nele existe matéria-prima para todos os discursos e declarações dos nossos políticos. Não resisto a dar algumas sugestões.
Cavaco Silva, por exemplo, tinha poupado esforço se, na visita ao Douro, se tivesse limitado a citar o texto da pág. 5: «É nossa Pátria todo o território sagrado que D. Afonso Henriques começou a talhar para a Nação Portuguesa, que tantos heróis defenderam com o seu sangue ou alagaram com sacrifício de suas vidas (...) Na Pátria estão os campos de ricas searas, os prados verdejantes, os bosques sombreados, as vinhas de cachos negros, os montes com as suas capelinhas votativas.»
José Sócrates, por seu lado, só tinha vantagem em usar o texto da pág. 161; «Com o Estado Novo (alterar para "o Governo socialista") abriu-se uma época de prosperidade e de grandeza. Começámos a ter dinheiro para todas as despesas do Estado (...) Os nossos campos foram mais bem cultivados. A nossa indústria tornou-se próspera, desenvolveu-se o comércio. Repararam-se as estradas. (...) Levou-se o telégrafo e o telefone (substituir por "o Magalhães") a muitas localidades (...). Construíram-se escolas, e hão-de construir-se as que forem precisas (...).» Depois de uma pausa, deixar cair a bomba: «agora os patrões e os operários entraram em boas relações e passaram a estimar-se e a auxiliar-se uns aos outros.»
Santana Lopes, que pondera candidatar-se a Lisboa, devia fazer uso do programa eleitoral descrito na pág. 130: «Os benefícios de que precisamos, tais como a protecção à escola, o arranjo das estradas e caminhos, a abertura de fontes e a construção de lavadouros, só podem conseguir-se (...) por pessoas aqui nascidas e criadas que tenham amor a tudo o que é nosso (...).» Convém que termine dizendo que, como o pai do Rui, o menino da história, todos os bons cidadãos «aceitam com a maior boa vontade os incómodos e sacrifícios, para que o País possa ser bem administrado». Esta, aliás, dava jeito a todos!
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
O ensino é mais complexo do que os políticos pensam
Publicada por A. João Soares à(s) 16:50
Etiquetas: bom senso, eficiência, ensino
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2 comentários:
Meu caro João
1º.ponto
Sobre os Magalhães já me pronunciei, não vale a pena repetir-me.
Inglês – crianças com 11 anos sabem dizer, em inglês 1, 2, 3… Se lhes perguntamos “What is your name” respondem: o que estás a dizer?
Educação sexual – desnecessária nas escolas. A TVI encarrega-se de os esclarecer, com pormenores, nas novelas que transmite a horas “convenientes” para serem vistas por crianças e adolescentes.
Milagre??? Nem pensar! Fruto de muito trabalho e organização “governático/socrática”.
2º.ponto
Com verdade se diz que, “ D. Afonso Henriques andava pelos ares olhando cá para baixo, admirado com tantas coisas novas, para ele totalmente desconhecidas. Até que, de repente, exclamou: olha! Lá está Portugal!”
E mais não digo.
Beijinhos
Mariazita
Cara Amiga Mariazita,
Pois é! Eles pensam e exercem «muito trabalho e organização», com muito suor. O crânio cheira a queimado com tanto esforço.
Mas não devemos ser muito exigentes na «avaliação do desempenho» dos políticos. Eles são uma amostra da sociedade portuguesa onde é notória a ausência de valores.
No entanto, seria de esperar que essa amostra não fosse aleatória, mas seleccionada, representando o que há de melhor.
Basta olharmos para o percurso curricular da maioria dos iluminados que gerem os interesses do País. A realidade torna evidente que na adolescência, os maus alunos, filhos de gente ligada ao orçamento, vendo-se sem capacidade para enfrentar a competição da vida privada, inscrevem-se numa juventude partidária, habituam-se a aplaudir os oradores de comícios, a agradar aos líderes e, com essas «qualidades», serem escolhidos para assessores, deputados, depois governantes e... por aí acima até «merecerem» um «tacho dourado».
Porém, com tal experiência de aplausos e de subserviência disciplinada, não obtêm capacidade para «avaliar a realidade». Vê-se na eficácia do corpo legislativo que nada melhora, antes pelo contrário.
O ensino, que devia merecer as mais altas prioridades porque dele depende o futuro do capital humano de que dispomos, está como se vê transformado em montra de vaidades, ou melhor, de falsas vaidades.
E assim vai este País...
Abraço
João
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