Do poeta insigne, e também sábio e filósofo Luís Vaz de Camões, um soneto que ajuda a compreender as realidades nacionais actuais. Outro português mais recente, defendendo que as mudanças devem ser feitas com sensatez para delas resultarem bons efeitos, disse que «mudar por mudar é disfarçar o vazio íntimo»
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Miguel Sousa Tavares - Uma opinião corajosa
Há 6 horas
6 comentários:
Concordo inteiramente com o Camões neste soneto...beijinhos.
Não é fácil discordar dele. Por isso o considero sábio e filósofo, pois tinha um conhecimento vastíssimo tanto em abrangência como em profundidade, numa época em que não havia Internet (!) e em que era muito difícil contactar as fontes.
A propósito, deixo aqui para reflexão dos leitores a curiosidade de Os Lusíadas encerrarem com a palavra INVEJA. Certamente ela não caiu ali por acaso e não se cingia à situação da época, mas provavelmente, à pior característica do povo português.
Beijos
João
Meu caro João
Sempre gostei e continuo a gostar muito de Camões, que considero o maior poeta português.
Outros grandes valores há, sem dúvida, tanto na poesia como na prosa.
Ao menos nisso Portugal é grande!
"Contiuamente vemos novidades...",
mas a esperança de mudança morre à nascença.
Será a INVEJA que "os" torna tão mesquinhos???
Beijinhos
Mariazita
Querida Amiga Mariazita,
A nossa amizade e as discussões anteriores, sempre em tom respeitoso (!) permitem-me fazer um reparo. Acho que não devemos dizer «eles» quando nos referimos aos portugueses. Prefiro «nós» embora não sejamos todos invejosos, vaidosos, etc.
Mas, dizendo «nós», sentimo-nos obrigados a participar no esforço que todos devemos fazer para melhorar o País, para fazer a mudança para melhor, mais moderno, civilizado, desenvolvido, com mais justiça social, etc.
Camões era uma pessoa excepcional que admiro pelos conhecimentos tinha e que eram difíceis de adquirir naquela época. Os Lusíadas são um repositório de quase todos os conhecimentos científicos da altura.
E, na obra lírica, mostrou ser um conhecedor profundo do ser humano.
Beijinhos
João
Meu querido João
Quando NÃO há amizade, da discussão nasce...o bofetão!
Quando há amizade, da discussão nasce a luz!
Li e reli o meu comentário à procura do "eles", que não encontrei.
Deduzi que deve referir-se ao "os", dando-lhe o sentido de "eles", nós, portugueses.
Não, meu querido amigo. Receio ter-me explicado mal.
Não me refiro aos portugueses. Os "os", entre aspas, tão mesquinhos, são os que podiam e deviam operar mudanças que nos dessem esperança, e não o fazem.
Os que falam em mudanças, e as fazem, mas para ficar tudo na mesma, ou ainda pior.
Era isso que eu queria dizer.
Não consegui fazer passar a mensagem...
Estou mesmo a precisar de férias!!!
Beijinhos
Mariazita
Querida Amiga Mariazita,
Faça-se luz! Há campainhas que provocam reacções esperadas, como as do Pavlov que faziam salivar o cão. Sempre que aparece os ou eles, reajo. Mesmo referindo-se aos políticos, como eles são oriundos na nação e nem sempre da nação mais respeitadora de valores cívicos, eles trazem os defeitos da sua origem. E não serão eles a resolver seja lá o que for, além dos interesses próprios das pessoas do clã.
É preciso que cada um de nós portugueses, faça tudo o que estiver ao seu alcance para restaurar o Portugal que já foi grande no mundo e, agora, é muito pequeno entre os da Europa.
O poovo tem de deixar de andar anestesiado com a propaganda da mentira e das sucessivas promessas que já enjoam. Um governo que tem validade de mais uma ano, anda a fazer promessas até meio da próxima década. Não é honesto até porque não coordenou essas promessas com potenciais governantes de então. Uma reforma ou um projecto que se concretizará em próximos governos não deve ser aprovado sem ter sido coordenado com a oposição, a fim de não vir a ser bloqueado, com custos para o País, como aconteceu com a barragem de Foz Côa.
Beijos
João
Enviar um comentário