sábado, 14 de junho de 2008

A União Europeia após o referendo da Irlanda

Transcreve-se este texto de Renato Nunes, emigrante nos Estados Unidos da América recebido por e-mail de Alô Portugal, pela análise perspicaz, realista e oportuna, de forma muito irónica, que faz da situação da União Europeia após o NÃO ao referendo da Irlanda.

Consórcio franco-germano

O "não" do povo irlandês foi "areia na engrenagem" da máquina criada pelo consórcio franco-germano que domina a Europa mas os dedicados lideres "europeus" não desistem e preparam já uma "alternativa 'C' "

Os burocratas e lacaios de Bruxelas, a começar por Barroso e a acabar em Sócrates sentem hoje um misto de pesar e de raiva.

Depois de tanto trabalho a alinhavar um Tratado que tão bem servia os interesses dos quatro grandes - Franca, Alemanha, Inglaterra e Itália - não e que os ‘marginais’ Irlandeses resolvem torpedear aquilo que Lisboa aconselhou e aprovou ?
Como se atreveram a tal? Como se atreveram a ter opiniões diferentes das dos seus lideres?
Já se conhecia - depois do que aconteceu em Franca e na Holanda há anos atrás - do perigo que é submeter a voto directo (pelo Povo) assuntos importantes, coisas como o futuro da hegemonia Franco-Alemã na Europa.

Então, para que servem os Parlamentos Nacionais cheios de políticos com saber e visão ?
Aí, ao menos os donos da U.E. contam com maiorias de políticos inteligentes e fiéis aos princípios do "Europeísmo" e que votam SIM nos projectos que lhes são enviados de Bruxelas para serem impostos para bem dos seus compatriotas.
Pois se vem de Bruxelas só pode ser bom !
Em Portugal é assim que se faz e o exemplo Lusitano devia ser seguido em toda a Europa.
Os sábios dirigentes de Portugal nunca sujeitariam um Tratado feito por gente genial, brilhante, ao voto de gente que não sabe o que quer.

Nos Parlamentos sim, não se correm perigos desnecessários.
Como tal, especialmente os partidos predominantes são os de Centro-Esquerda -- em Portugal PS & PSD - o voto é obviamente um SIM.
Para que correr riscos deixando nas mãos do Povo - quase sempre ignorante e desconhecedor do que é bom para ele, se não forem as Elites a dizer-lhe! - decisão que podem forçar a ter-se de arranjar nova forma de fazer passar o Tratado? É só para dar trabalho.

Pois amigos, já neste momento os valorosos e abnegados dirigentes Europeus se preparam para activar a "Alternativa 'C'" !
A tal que diz que bastara SIMPLES MAIORIA para que o Tratado possa ser imposto a todos os países membros e que não é necessário referendo popular, pois bastará o voto da maioria simples dos representantes eleitos pelo Povo.
Portanto, basta 14 Parlamentos votarem SIM e a coisa está concluída e aprovada sem entraves, nem surpresas.

Não se entende porque insistem ainda alguns políticos em querer o voto directo popular sabendo que as massas nem sabem sequer no que estão a votar e preferem ser lideradas do que ter que pensar e tomar decisões?
Então não se viu já que o Povo até é dado a reeleger uma vez e outra as maiores nódoas e vigaristas políticos nos seus países?
Eles não são difíceis de levar. É preciso é saber dar-lhes Pão & Circo na altura devida.
E que mais seria de esperar de gente de baixo nível mental e intelectual cujo comportamento é altamente previsível há anos?

O futuro da UNIAO EUROPEIA e das riquezas fabulosas que vai trazer aos grandes consórcios do Capitalismo Globalista Euro-Americano não pode ser refém de votos NÃO de alguns simplórios que pensam que são alguém!

Renato Nunes, Carolina do Sul, EUA

12 comentários:

Xelb disse...

Completamente de acordo.
É a democracia europeia a funcionar em todo o seu esplendor...

A. João Soares disse...

Xelb,
Não há dúvida que que é democrático. Mas não vejo que a denominada «democracia» europeia tenha esplendor.
Nem é democracia, porque não aceita os votos dos cidadãos e, agora perante o «não» dos irlandeses, vai tornear a questão, impondo aquilo que os inteligentes políticos desejam.
Esta imposição, a qualquer custo, da vontade dos poderosos nada tem a ver com democracia (soberania popular).

Abraço
A. João Soares

Xelb disse...

Estava a ser irónico...

Anónimo disse...

Será o sangue Viking que lhes corre nas veias, o responsável?
Ai..ai..
Manuela

A. João Soares disse...

Caro Xelb,

Realmente, só podia ser ironia!
Hoje não tenho a menor dúvida de que a UE não tem a mínima condição para se denominar democrática. O facto de haver eleições e um ou ouro referendo não basta. Ninguém no Poder liga a esses pormenores.

Em 2001, a Irlanda votou «não» ao Tratado de Nice. Em 1992, a Dinamarca votou não ao Tratado de Maastricht. Em 2005, a França e a Holanda votaram não ao Tratado Constitucional.
Apesar disso, os dirigentes políticos actuais, e os anteriores, teimaram em continuar com o projecto do regime que nos querem impor. Por enquanto, ainda não se trata da ditadura de um homem mas de um grupo, ao estilo da Junta Militar do Myanmar! O povo que devia ser o soberano (essência da democracia) não passa de um escravo sujeito aos apetites dos poderosos.

E, para mais, estes não se dão ao trabalho de disfarçar e não usam linguagem democrática, não simulam a humildade de se sujeitarem ao voto do povo, mas falam como ditadores terceiro-mundistas. Sócrates diz, a propósito do não irlandês: "Com certeza é uma derrota pessoal para mim. É uma derrota para mim e para todos aqueles que se empenharam no Tratado de Lisboa e no projecto europeu. Todos [os líderes europeus] estarão tão desapontados quanto eu estou neste momento." E acrescenta: «Este resultado provoca um profundo desapontamento a mim e a todos aqueles que lutam por uma Europa mais forte, que ultrapasse a crise institucional e se afirme no mundo e dê um sinal de confiança à sua economia e ao seu futuro". Isto não é a humildade de quem deve ouvir a vontade do povo e a ela se subordinar. Não é linguagem democrática.

Também Sarkozi promete todo o seu empenho para a construção da UE, ultrapassando este incómodo vindo da Irlanda. Também não mostra ser democrata, mas apenas defensor daquilo que pensa serem os interesses do seu País, que tenta impor aos europeus contra a vontade destes. Napoleão não diria melhor.

Já a chanceler Ângela Merkel se apresenta mais cuidadosa quanto às palavras com que se refere ao futuro da Europa. Isto não significa que a Alemanha não vá fazer tudo para que o Império franco-alemão vá para a frente, mas o seu raciocínio subtil leva-a a pensar muito bem antes de falar. Talvez seja próprio da sensibilidade feminina!

Mas cá no rectângulo lusitano o PM é genial na espontaneidade do seu autoritarismo arrogante que agora assumiu sem papas na língua. Considera que o não irlandês é uma derrota para ele e que «a Europa precisa do tratado de Lisboa para resolver os seus problemas». Acrescenta que o Tratado permitirá que «a Europa desempenhe o seu papel na economia junto dos cidadãos europeus». Mesmo que estes não queiram!

Pelo contrário, Paulo Portas diz que "a construção europeia não pode ser feita por decreto, não é um processo automático, tem que contar com os povos, não pode ser feito sem eles nem contra eles. Há uma dificuldade, é preciso ultrapassá-la com inteligência." Esta parece uma posição mais sensata, embora o fundamento de todas estas reacções possa ser sempre o mesmo, o de os detentores do Poder quererem impor a sua própria vontade aos europeus.
Isto não pode chamar-se democracia.

Abraço
A. João Soares

A. João Soares disse...

Cara Amiga Manuela,
Talvez mais celta do que Viking.
Por volta do séc.IV a,C. tribos célticas da Gália conquistaram a Irlanda e fundaram a civilização gaélica. Estas tribos converteram-se ao cristianismo, a partir do séc.V, mais concretamente, a partir da chegada à ilha de S. Patrício, em 1432.
Alvo de cobiças, foi resistindo às sucessivas tentativas de invasão até ao séc VIII. Mas, desde 795, a presença dos Vikings fez-se sentir durante cerca de dois séculos. Em 1104, o rei viking Brian Boramba foi derrotado e morto na batalha de Contarf. A seguir a esta vitória, os irlandeses puderam respirar, durante século e mei, até à invasão anglo-normanda em 1169.
Cara Manuela, estes dados e o referendo, talvez nos façam reflectir sobre as diferenças entre os galegos e os nossos minhotos!

Um abraço
João

A. João Soares disse...

O artigo de que se deixa o link, França quer irlandeses a repetir referendo, mostra que a França teima em fazer da Europa aquilo que mais lhe convém, quer o povo queira ou não. No caso presente, o povo irlandês tem de acabar por aceitar aquilo que lhe é imposto, tal como aconteceu aos outros povos em que o povo já disse NÃO, mas que agora ninguém lhe pergunta! Será este o novo conceito de DEMOCRACIA que a Europa quer pôr em acção? Os gregos que criaram o conceito já morreram há muitos anos e estão inteiramente esquecidos!!!
A. João Soares

Anónimo disse...

Tem toda a razão, João, quando refere a resistência irlandesa, mas eu, na altura do comentário, estava a pensar no "sangue viking" proveniente da Noruega, país que recusou a adesão a uma União Europeia após 2 (dois!)referendos.
Manuela

A. João Soares disse...

Cara Manuela,
Contra o gosto de muitos , os líderes hão-de arranjar forma de nos impingirem a UE, que irá alastrando à Ásia mais próxima, ao Norte de África e por aí fora, cada vez com mais centralização do poder e cada vez mais controlo das pessoas, com coerência com o plano Bilderberg para criar um governo único mundial. A ONU não conseguiu por ter sido iniciativa de políticos, agora vai para a frente com a força do poder económico e financeiro mundial.
Não menosprezemos a força das multinacionais e de quem está por detrás delas. Imagine qual pode ser o resultado da actual crise, e não esqueça que os organismos internacionais já dizem que durará tanto como as pilhas duracel!!!

Beijos
João

A. João Soares disse...

Como vem dar mais luz a este tema e deixar-nos a dúvida sobre quanto tempo durará a ficção da União Europeia, transcrevo parte do editorial do DN do dia 16 http://dn.sapo.pt/2008/06/16/editorial/index.html

O não da Irlanda ao Tratado de Lisboa colocou a Europa numa situação estranha. É difícil de acreditar que os 27 líderes experimentados dos países europeus não tivessem, de facto, um plano B. Admitia-se que o anunciassem numa espécie de chantagem consentida aos eleitores irlandeses, antes da votação - como fez Durão Barroso. Mas não tinham.

Este "não" traz-nos mais dúvidas do que certezas. E se houvesse mais referendos? Quantos países votariam contra o Tratado? Não seria demasiada a arrogância dos líderes pensar que todos os cidadãos da Europa iam aceitar o Tratado sem mais, sobretudo nesta época de crise económica?

E é grave também o que esta situação nos diz sobre a distância que a instituição União Europeia tomou das pessoas. A instituição e os seus líderes. Dá ideia de que pensam e agem como num clube privado. E foi essa a sensação que transmitiram na reacção ao desaire irlandês.

Este "não" significa de outra forma a distância dos povos em relação a Bruxelas. A Irlanda foi das melhores alunas europeias, das que mais beneficiou de subsídios e ajudas sem fim. O recente sentimento isolacionista é, de certa forma, um desagradecimento significativo do desfastio com que os seus cidadãos olham para o projecto europeu.

Este pode ser o choque necessário para dar a volta à situação. Para fazer acordar os líderes e aproximar a UE dos povos. Uma boa forma de começar era acabando com a eurocracia. Porque não traduzir o Tratado para a linguagem que se fala nas ruas europeias?

Pata Negra disse...

Areia na engrenagem - bem dito! Apenas isso, o tratado será tratado com outro nome - carta?
O que mais choca nisto tudo é a "legitimidade" dos parlamentos para aprovarem aquilo que sabiam que perderiam em referendo!
Independentemente de avançarem ou não e de serem certas ou erradas as suas intenções, a grande derrotada é a democracia!
Votem neles!

A. João Soares disse...

Caro Pata Negra,
Sem dúvida que a democracia é a grande derrotada. Só não é grande , porque praticamente já morreu, pois nada corresponde ao significado inicial da palavra.
Mas, infelizmente, poucas palavras do jargão político correspondem à realidade. É tudo virtual, só não o sendo o sofrimento causado ao povo que é permanentemente explorado e enganado.
Um abraço
A. João Soares