segunda-feira, 9 de junho de 2008

Outrora, démos novos mundos ao mundo

Em frases epicamente elogiosas ficou dito que os nossos antepassados «deram novos mundos ao mundo», «em perigos e guerras esforçados mais do que prometia a força humana». Mas hoje chega a notícia de que estamos a dar ‘novas democracias à democracia’. Os Portugueses de hoje, com diferente valentia, rompem as barreiras da humana sensatez e, com a ajuda do «cheque tecnológico» e do «simplex», fizeram uma nova inovação neste mundo monótono e rotineiro!

Segundo a notícia
«Chefes militares vetaram reforma que foi aprovada», numa instituição de gente respeitável onde é suposto haver exemplar respeito pelas regras da democracia, o Conselho de Chefes Militares, constituído por quatro oficiais generais, votou contra o modelo de comando conjunto operacional, com apenas um voto contra (o CEMGFA votou vencido). E o Conselho de Ministros acabou por aprovar esse modelo. Afinal, pelos vistos, nesta nova modalidade de democracia, a maioria não conta para nada, O Chefe máximo conta mais do que os seus três colaboradores mais próximos, e o ministro aprova o seu obediente general e despreza os outros. Para que serve o Conselho de Chefes? Porque não se elimina tal figura da Organização das Forças Armadas?

Como cidadão, isto deixa-me atónito, custando a acreditar que a notícia do DN seja verídica. Se não o é, o jornal deve ser já encerrado, para não continuar a difundir falsidades. Mas, se é verdadeira, já começa a ser tarde para se conhecer a reacção dos três oficiais generais que se viram desautorizados e desprestigiados. Segundo o jornal, ficaram surpreendidos, mas parece que em vez de uma decisão de rotura, preferiram «fazer das tripas coração» e colaborar com a reforma que lhes é imposta mas que, oficialmente, tinham rejeitado.

Vai longe o tempo em que se deram «novos mundos ao mundo», porque havia estratégia conhecia-se o objectivo nas suas linhas gerais e permanentes e as rotas não variavam por caprichos de ocasião. Os teorizadores políticos e das Forças Armadas não devem perder esta oportunidade de brilhar, explicando ao País este caso que, da forma como é noticiado, se apresenta muito estranho.

4 comentários:

Anónimo disse...

Explicar? Quem vai ser o "explicador"? Se o próprio governo está identificado e compreendido sem ser necessário explicar-se, explicá-lo, explicar....
(E eu sem tempo para dizer mais...) :-(
Manuela

A. João Soares disse...

Cara Manuela,
Poderá faltar coragem para explicar com isenção. Mas os analistas têm «pano para mangas», porque este caso tem muitos factores a analisar. Ainda não vi nenhum general a bater com a porta. Não compreendo que explicação pode dar um general que votou contra a norma e depois vem dizer que
«o primeiro assegurou estar de "alma e coração" com o futuro Comando Operacional Conjunto, pois "não tem nada contra"; o segundo, general Luís Araújo, afirmou que concorda "em teoria e doutrinariamente" com esse órgão - mais, "estou receptivo e profundamente vinculado aos princípios orientadores da Resolução do Conselho de Ministros".
Será que o voto foi capricho infantil ou a atitude posterior foi acomodação subserviente para manter os Mercedes?
Um abraço
João

Anónimo disse...

Amigo João,
Pelos vistos foram as duas coisas: capricho infantil seguido de acomodação subserviente para ter mais uma estrela do mercedes.Já no antigamente se dizia o mesmo mas agora ainda é pior, não há mesmo coluna vertebral que aguente um sopro sequer.É tudo erva daninha que baloiça conforme a brisa! Estranho Portugal este em que vivemos e não me chamem velho do restelo eu que sempre fui tido por progressista no bom sentido da palavra, já se vê......
Até amanhã em Belém e um forte abraço

A. João Soares disse...

Meu caro Amigo,
O que muito se lamenta é que numa instituição com tradições de rigor e bom exemplo, esteja minada pelos vícios da política. Que preparação especial é dada aos «candidatos» a general, além da sua maleabilidade política? Qual o critério de escolha para os mais altos cargos?
Depois, aprecem as atitudes menos dignas daqueles que deviam ser inatacáveis na sua personalidade, moralidade e rectidão.

Um abraço
João