Transcrevo para este espaço o comentário que Luís Alves de Fraga colocou no post «Na crise é preciso optimismo» por conter dados informativos muito interessantes que são um óptimo contributo para o aprofundamento do tema, em benefício dos leitores. NOTA: Este texto, mostrando que, nos tempos em que Portugal avançava à velocidade do mundo desenvolvido, havia Homens com visão correcta dos problemas e que adoptavam as melhores soluções, para obter efeitos a longo prazo, reduz o optimismo que agora se queira ter com a actual geração de políticos presos ao imediatismo e pouco ousando além do curto prazo. Aquilo que o autor refere do nosso País de antanho, é frequente nos Países que experimentaram êxito no desenvolvimento e recordo a Índia. A sua independência e os primeiros passos ficaram a dever muito ao Mahatma Gandhi e a Jawaharlal Nehru. Na sua acção coordenada, não faltou uma pequena divergência, mas ambos estavam de acordo em que era necessário começar pelo equilíbrio da balança comercial, reduzindo as importações, para o que havia de começar pela produção para as necessidades internas. Se Gandhi se inclinava para priorizar a existência de um tear em cada aldeia a fim de explorar directamente o algodão e evitar a importação dos tecidos vindos da Inglaterra (produzidos com algodão levado da Índia), Nehru inclinou-se para ultrapassar a produção artesanal e avançar para a indústria do aço e da maquinaria pesada, o que valeu à Índia, em poucos anos, tornar-se um importante exportador de equipamentos industriais. A fórmula de desenvolvimento era «engenharia e máquinas industriais pesadas, instituições de investigação científica, e energia eléctrica» e, a partir daí, veio aquilo que hoje é uma das grandes potências económicas mundiais (Ver «The Commanding Heights» de Daniel Yergin e Joseph Stanislaw, Edit Touchstone, 1998). Essa mentalidade de navegar na crista da onda ficou e desenvolveu-se, sendo hoje um dos grandes exportadores de «know-how» informático. A Portugal resta, como diz o texto no último parágrafo, saber analisar as realidades olhar para a panóplia dos remédios já comprovados em países desenvolvidos e escolher aqueles que mais nos convêm. Mas cuidado, porque os nossos dirigentes têm caído na asneira de adoptar soluções que lá fora já foram postas de lado por ineficazes. Os políticos precisam de competência, bom senso e dedicação ao bem nacional.
Meu Caro Amigo,
Algumas das conclusões citadas no seu interessante texto são velhas de quase 400 anos. Realmente, já D. Luís de Menezes, conde da Ericeira e ministro de D. Pedro II, aconselhava e defendia entre nós a criação de manufacturas para acabar com as importações e, se possível, dar início a um ciclo de exportações. Vivia-se a época do colbertismo e não do livre câmbio. Mas, se na História recuarmos mais outros cem anos - ao final do século XVI - encontramos relatos da forma pobre e rude como se vestiam os Portugueses (ver de A. H. de Oliveira Marques, "Portugal Quinhentista") por determinação real para evitar as importações de tecidos caros e exóticos, defendendo assim o erário público.
Em Portugal, como em certas regiões onde imperam o latifúndio, ao invés de «fome de terra», impõe-se a «fome de consumo». Consumir tudo o que vem de fora numa demonstração bacoca de riqueza é uma característica secular dos Portugueses! Não era Salazar quem mandou dizer que «beber vinho (produto de produção interna) era dar de comer a um milhão de Portugueses»?
Ora, o que é que se fez para remediar esta nossa característica estruturante? Integrou-se o país no maior mercado de consumo organizado politicamente que existe no Mundo! Integrou-se e subsidiou-se o consumo através da entrada de dinheiro às catadupas. Quer dizer, disse-se aos Portugueses: - Gastai, porque gastais o que não é vosso e, tal como no reinado de D. João V, esbanjou-se o ouro europeu de forma semelhante ao que se fez ao ouro brasileiro: enriquecimento privado - normalmente faustoso e economicamente inútil - esbanjamento em umas quantas obras públicas, quase sempre, também, não geradoras de riqueza permanente.
Na falta de qualquer mina de ouro que pudesse alimentar a fome de consumo, qual foi, afinal, a solução adoptada? Procurar o arrimo à mesa do Orçamento, seja ele erário real ou fruto da cobrança de impostos. Já no reinado de D. Manuel I o monarca, para saciar a fome da nobreza que lhe cobiçava os falidos cabedais, dava-lhe autorização para que fosse à Índia comerciar e trazer especiarias que lhe servisse de esteio ao gosto do gasto.
A presença berbére entre nós, com marcada influência arábica e egípcia, foi excessivamente longa - mais de 500 anos - e deixou-nos a matriz de origem que a miscigenação cultural obrigava: o gosto pelo consumo, pela "pequena" independência individual proveniente do minúsculo negócio familiar, a capacidade de sobrevivência em qualquer meio ambiente social e, acima de tudo, uma desmedida vaidade apoiada numa enorme inveja do vizinho.
Governar este Povo só é possível através de medidas muito seleccionadas no estrangeiro - daí o êxito (?) do marquês de Pombal - ou com o látego iluminista na mão para refrear-lhe as características centenárias e, aí, limitar as ambições de todos, a todos educando para a moderação iluminada da civilidade. E foi nesta segunda parte que Salazar falhou, pois não passava de um provinciano, apegado à tradição e incapaz de ver nas "Luzes" estrangeiras o "farol" orientador de um Povo que anda à míngua de rumo há muitos séculos!
Necessitamos de governantes que saibam muita História de Portugal e tenham bons rudimentos de Antropologia Cultural capazes de estabelecer sínteses históricas que orientem as decisões legislativas.
Desculpe-me a prolixidade da exposição, mas julgo que é necessário deixar claros os defeitos dos Portugueses - os nossos defeitos - para, depois, sabermos escolher da panóplia de remédios aqueles que mais nos convêm.
Luís Alves de Fraga
A Necrose do Frelimo
Há 2 horas
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