quinta-feira, 5 de junho de 2008

Fome, combustíveis, agricultura

Estão reunidos em Roma 191 representantes dos países membros das Nações Unidas durante três dias para discutir a subida dos preços dos alimentos e as dramáticas consequências que afectarão mais violentamente os países mais pobres.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, sublinhou aos participantes da reunião extraordinária da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) que a solução mais simples para responder ao previsível aumento da procura será o aumento da produção mundial de alimentos de 50% até 2030. E salientou que estamos perante uma "oportunidade histórica para revitalizar a agricultura". É a forma mais positiva de reagir à escalada dos preços das matérias-primas agrícolas e ao aumento dos custos de produção - em especial devido aos recordes dos combustíveis. E é a prova de um grande erro cometido pela EU, ao ter reduzido e condicionado a nossa agricultura. Será desejável que a Europa aprenda a trabalhar com coerência e boa estratégia para conquistar uma posição de liderança e de exemplo no mundo.

Segundo os números da FAO, a actual crise provocou situações de fome em perto de 100 milhões de pessoas em todo o mundo. A emergência do actual contexto foi de tal maneira traumatizante e resultou em que a maior parte dos principais responsáveis políticos fizesse questão de estar em Roma durante o encontro.

A FAO avançou com algumas sugestões para aliviar o peso da crise actual. E o seu director, Jacques Diouf, numa chamada ao bom senso e ao realismo, declarou que "se os países em vias de desenvolvimento tivessem investido na agricultura o que gastaram em armas, o problema alimentar estaria neste momento resolvido". Ban Ki-Moon, no discurso de abertura, não hesitou em criticar os presentes, dizendo que "os governos puseram de lado decisões muito difíceis, nestes últimos tempos, e subestimaram a necessidade de investimentos na agricultura. Hoje, o mundo inteiro paga um preço demasiado alto". Mais claro não pode ser quanto à falta de capacidade e ao mau desempenho dos políticos actuais que não sabem sintonizar-se com a construção de um bom futuro para os seus cidadãos e para o mundo.

O presidente do Brasil, Lula da Silva, referindo-se aos mais de 800 milhões de pessoas que em todo o mundo, em cada noite, se deitam sem jantar, propôs encontros anuais entre países desenvolvidos e outros em vias de desenvolvimento como forma de arranjar novas fontes de recursos de financiamentos. Seria bom que tal intenção se tornasse realidade, para evitar uma catástrofe humanitária e social

Apontando o dedo aos subsídios agrícolas nos países industrializados, o presidente brasileiro solicitou a sua eliminação total, acrescentando que "é preciso evitar que a culpa do preço dos alimentos recaia e afecte os mais pobres". "Subsídios provocam dependência, quebram sistemas inteiros de produção, e provocam fome e pobreza onde poderia existir prosperidade. A verdadeira segurança alimentar deve ser global e baseada na cooperação". Os subsídios impedem o comércio internacional e a livre concorrência, fechando a exportação de países pobres que disporiam de excesso. Mas, na realidade a produção nesses países, mercê desses apoios, torna-se impossível por os Países ricos ali colocarem produtos mais baratos do que custaria a produção local. O ideal seria apoiar esta, para as populações locais deixarem de ter carências graves.

Segundo Jacques Diouf, director-geral da FAO, o momento é de acção rápida, pois "não há mais tempo para conversas, a instabilidade climática e os desastres dos últimos anos, provocam anualmente 262 milhões de vítimas de calamidades naturais, dos quais 98% vive em países em desenvolvimento".

O director geral da FAO, indicou que o mundo, em 2006, gastou 1,2 mil de dólares em armamento, enquanto se estragou comida no valor de 100 mil milhões de dólares. E o excesso de consumo por pessoas obesas chegou a 20 mil milhões a nível mundial. Isto denuncia incapacidade e incoerência dos responsáveis mundiais.

Também José Luís Zapatero, chefe do Governo espanhol, afirmou que "as instituições internacionais não têm sabido dar resposta às emergências económicas e sociais destes últimos anos". E considerou fundamental para a defesa da agricultura, "ajudar os pequenos agricultores criando condições que hoje não existem".

José Luís Zapatero, referiu que "as instituições internacionais não têm sabido dar resposta às emergências económicas e sociais destes últimos anos". E considerou fundamental para a defesa da agricultura, "ajudar os pequenos agricultores criando condições que hoje não existem".

Enfim, não parece ser necessário dizer muito mais para definir a doença. É, agora, imperioso que seja decidida a terapia e que os políticos de todo o mundo sejam capazes de a aplicar com eficiência, para bem da humanidade. E as grandes empresas económicas devem não esquecer que, sem essa humanidade com boas condições de vida e poder de compra ,não conseguem fazer um nível de negócio suficiente para continuarem a operar. O desenvolvimento equilibrado com a justiça social será proveitoso para todos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Esse seu último parágrafo resumiu tudo, João. Resta saber se os políticos estarão realmente interessados em trabalhar em conjunto para o bem da Humanidade.Por uma reunião já começaram, e palavras-chave como "revitalizar a agricultura" ou "cooperação" e ideias subentendidas como "urgência" e "reconhecimento de erros cometidos no passado", já fazem prever que se possa ter esperança num futuro, senão melhor, pelo menos mais consciente.
Manuela

A. João Soares disse...

Cara Manuela,
Uma pessoa informada e isenta, na calma de sua casa, consegue ver mais do que os que estão metidos no problema e submetidos a muitas pressões de interesses variados e muitas vezes contraditórios.
Oxalá as seus mentes se iluminem para bem da humanidade.
Cumprimentos
João