Os valores que servem de forma e fundo à sociedade actual estão em permanente mudança, o que vem dar força à referência de Manuela ao «iluminismo do séc XXI».
Apesar dos «discursos obsoletos» a puxar a brasa a sardinhas diferentes ou iguais mas com temperos diferentes, há uma linha condutora entre aquilo que todos pretendem, como ideal. A equidade, igualdade e oportunidades, embrulhadas no termo «justiça social», a necessidade de boa gestão de recursos, as vantagens do ensino, a importância do conhecimento, do saber, o poder embrutecedor do mau uso da televisão, da Internet e, em geral, da comunicação social, o significado da desigualdade do saber, mais do que do dinheiro, estão a constituir um conjunto de factores que, segundo certas ópticas, são pequenas revoluções tecnológicas, culturais, de trabalho e de relacionamento que, depois de amadurecidas e coordenadas por um ideólogo, podem constituir a grande revolução social do século XXI tal como o foi a Revolução Francesa em fins do século XVIII.
Mais do que o fosso entre ricos e pobres, tomará forma mais marcante o fosso que separa os dotados de capacidade de aprender e aqueles que não dominam a arte do conhecimento e que, por isso, lutam com dificuldade de relacionamento com os primeiros.
A este propósito, valerá a pena ler o artigo do DN a seguir transcrito.
Já que falam de igualdade
Pedro Lomba, jurista
Caros senhores políticos da esquerda e da direita, Nos próximos tempos, até às eleições, vamos ouvir-vos falar muitas vezes de igualdade. Os que estão à esquerda vão querer amarrar Sócrates e têm aí o Relatório da União Europeia que mostrou Portugal no fim dos países onde a riqueza é mais mal distribuída. Os que estão à direita irão argumentar que a justiça social precisa menos de retórica do que de um Estado eficiente na gestão dos recursos. A probabilidade de uns e outros pegarem no tema com discursos obsoletos, os primeiros em 1974 e os segundos a reagir a 1974, é elevada. Antes que venham com as vossas receitas, há talvez algumas coisas em que devem pensar.
Vivemos a época mais igualitária que Portugal e o mundo alguma vez conheceram. No século XIX, era preciso ter dinheiro para votar, quando não para existir. No século XX, era preciso ter dinheiro para estudar. No século XXI, partimos de uma situação mais confortável. Um ensino predominantemente público expandiu as hipóteses de aprendizagem e ascensão para aqueles que o usam bem. Uma economia privada permite que os mais talentosos e esforçados triunfem. A maioria de nós é exposta desde cedo ao mesmo tipo de estímulos, da televisão e da Internet, respondendo, para o mal e para o bem, com normas de comportamento mais ou menos idênticas.
Ao mesmo tempo, as coisas estão a mudar todos os dias. Estamos a passar por uma série de revoluções tecnológicas, laborais e culturais que tornam a vida muito mais difícil para os que não aprendem e não se adaptam. Vivemos uma era em que a informação é abundante e circula depressa, em que muita coisa acontece em simultâneo, em que a diferença entre o que sabemos e não sabemos pode acabar por ser decisiva.
Neste tempo, a grande desigualdade não é financeira, entre os que têm mais e os que têm menos, mas cultural e de conhecimento. Os estudos mostram que aqueles que tiram bons cursos superiores têm melhores empregos do que os outros. Os estudos mostram que há uma nova elite culturalmente apetrechada que só se relaciona com outras elites culturalmente apetrechadas.
Na era cognitiva, como lhe chamou o fantástico colunista do New York Times David Brooks, precisamos de tratar a sério do conhecimento e do modo como as pessoas interagem umas com as outras a aplicar esse conhecimento. Precisamos de combater o abandono escolar para diminuir o fosso entre os educados e os não educados. Precisamos de pensar na informação como um novo espaço para políticas que permitem às pessoas mais oportunidades de usar os seus méritos.
O nosso tempo dispensa que desenterrem as velhas políticas igualitaristas e redistributivas que só criam uma falsa segurança num mundo cada vez mais exigente. Lembrem-se: são as oportunidades.
A Decisão do TEDH (397)
Há 2 horas
2 comentários:
E..não é que tem razão?? :)
Manuela
Achei interessante trazer para aqui este artigo de opinião e estou satisfeito por merecer a aprovação de uma pessoa que admiro.
Obrigado pelas suas palavras muito significativas
Cumprimentos
João
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