Trago aqui mais um texto de Manuela, a precursora do Iluminismo do século XXI, que nos incita a meditar em aspectos essenciais da vida da humanidade e a procurar respostas para as suas dúvidas. Um desafio aos comentadores de blogs.
Iluminismo, Ilusionismo ou "Iluminatismo"?
Às vezes, depois de passar horas a ler posts em blogs interessantes, comentando aqui e ali, "linkando" de link em link (até me perder da página onde comecei), absorvendo informação desconhecida, outra que reconheço, mas sob diferentes pontos de vista, dou comigo a pensar… sim, também me acontecem destas coisas…!
Até onde e quando serei capaz de argumentar sobre um Mundo ideal, já nem sei se cristão nos seus princípios, e conciliar as minhas ideias com os meus desejos de progresso e de desenvolvimento de um país, que é o meu, mas que se me revela quase desconhecido?
Até quando irei conseguir resistir a uma propaganda, utilizada de forma tristemente admirável por extremistas de um passado recente, aperfeiçoada para que "conquiste adeptos", e continuamente repetida por mãos de mestres que a manipulam de forma quase perfeita? Uma propaganda que me tenta convencer que a Salvação do Mundo em que vivo, e a concretização dos meus ideais, só é possível através da construção de um governo global, uniforme, previsível e regular, (ou seja, "formatado" sob uma "ordem" internacional)!? Supostamente, um governo menos individualista e mais participante por meio de organizações multilaterais, também elas, supostamente prestigiadas e eficazes… Se estas não ficassem reféns de interesses de Estados ou de indivíduos mais poderosos, o meu cepticismo não seria tão grande…
Como vou continuar a defender ideais liberais e democráticos, que julgo saber (re)conhecer, precursores de uma sociedade onde a solidariedade, a igualdade de oportunidades, de raças e de sexos imperem, sob a ameaça simultânea e constante de uma teoria profética que, tal como todas as profecias, "se cumprirá", e que dita que o meu Mundo é regido apenas por poderes políticos e económicos? Na verdade, se for reler as decisões, tomadas por gente sábia e "voluntariosa", sobre a universalidade dos direitos do Homem, sobre a intervenção humanitária em cenários de guerra, sobre o falhado Protocolo de Quioto ou, ainda, sobre o "stand-by" do desarmamento ou… ou… a minha desilusão aumenta.
Estupefacta, chego à conclusão que, sem me ter apercebido, tenho vivido num Mundo esotérico e oculto, instruído por doutrinas secretas e, dependendo da subjectividade ou emotividade de cada um, assustadoras pelas suas coincidências ou, então, únicas salvadoras condicionadas por uma fé inquestionável… mas, por fim, castradoras da liberdade (sem medo) de expressão ou, até mesmo, do pensamento. Afinal, o destino está traçado, não apenas nas linhas da mão ou nas borras do café turco, mas também nos textos bíblicos onde é "lida" e "anunciada" a chegada do Anticristo (embora este, ao longo dos séculos, já tenha nascido e ressuscitado diversas vezes)…
Ou, optimista, talvez viva, "apenas", rodeada de bem elaboradas técnicas de Marketing, com resultados estatísticos bem visíveis, que propõem a contínua satisfação do potencial consumidor através dos 4 P's:
-desenvolver o Produto e diferenciá-lo dos outros,
- sondar quanto o consumidor está disposto a Pagar, (ou, neste caso, a vender de si próprio),
- distribuir pelo Ponto de venda mais rentável e, finalmente,
- Promover esse produto.
Cada um de nós, Seres pensantes e críticos, fará, a seu modo, a leitura destes 4 P's e far-lhe-á a legenda que mais lhe convém, pois sabemos há muito, muito tempo, que é o PODER da Comunicação, da Informação, da Publicidade, leia-se Propaganda, seja ele subliminar, persuasivo ou ostensivo, o factor principal de promoção do produto perante o potencial "cliente". Satisfazendo as suas necessidades fantasistas vai, lentamente, seduzindo e penetrando no âmago das suas emoções.
Com um misto de sentimentos, noto que não importa a qual destes "sub-mundos" já direccionados, proféticos e potenciadores de emoção me vou submeter. Sempre terei de arcar com as consequências da minha escolha e, de entre elas, destaca-se uma, que neste caso importa referir, que é a castração da faculdade que me diferencia dos outros animais, o pensamento racional e lógico, aquele que me tentam roubar pela homogeneização de ideias, princípios, valores, crenças e comportamentos…
Ilusão ou realidade?
Estarei "iluminada" pela Luz da Razão, ou estarei a ser iludida pela "Luz" que me querem fazer ver?
Manuela
NOTA: Porque não conciliar as suas ideias com a média geométrica das ideias alheias? Em vez de querer conciliar estas com as suas? Compreendo que as nossas ideias são mesmo nossas, embora tenham nascido e crescido com aquilo que ficou do muito que soubemos e fomos esquecendo. Nada nasce por acaso, mas não é seguro mudar de ideias ao sabor de ideias alheias, porém estas sempre deixam uma poeira que fica a cobrir os nossos apontamentos e os vão deformando, obrigando-os a modernizar-se. E é desse pó, que todos vamos deixando, que há-de vir o iluminado que criará a doutrina do novo mundo.
O mundo é sempre desconhecido, ou dito de outra maneira, é diferente a cada momento, e já não é o que conhecíamos antes. A estrutura do nosso conhecimento não pode ser rígida, mas flexível para assimilar as mudanças que ocorrem em permanência, em nosso redor.
Único e global ou plural, um governo deve resultar da vontade dos eleitores, ou não se tratasse de democracia. E deve ter sempre presente que a sua missão é criar melhores condições de vida para esse povo trabalhador e que precisa de ter confiança nos eleitos. E estes não são tão bons em Marketing como possa parecer, pois, se o fossem, não criariam tanto descontentamento nos eleitores, naqueles a quem devem dar felicidade. A aparente valia da propaganda resulta da apatia, indiferença e ausência de sentido crítico do povo que não confia na própria capacidade de intervenção, mas que, apesar do seu aparente adormecimento, silenciosamente, se vai preparando para obter eficácia. E, quando isso acontecer…!
Nesta análise que a autora faz de múltiplos cenários, em bom estilo de «brainstorming», com que se iniciam as reflexões que precedem grandes estudos, ressalta uma certeza, a de que os poderosos são obcecados pela manutenção das suas prerrogativas, e esta é a essência da estratégia que tudo condiciona, pisando os cidadãos tal como o futebolista pisa a relva do estádio sem nela pensar minimamente. E para essa estratégia entra em perfeito conluio, mais ou menos discreto, o poder económico, em permanente jogo de influências, troca de favores e de gratidões, que acaba sempre nos «tachos dourados», um pouco como no «apito dourado».
E, a propósito da referência discreta a projectos de poder mundial único, verifica-se que a literatura publicada cita uma união muito íntima entre os poderes político, financeiro, económico, comunicação social, monarquias reinantes, etc. Também há estruturas de índole religiosa, e de formato iniciático, com traços de hierarquia e de disciplina parecidos com instituições militares ou clericais.
Depois destas tentativas de incursões nas dúvidas citadas pela autora, concluo que elas têm razão de ser e que este seu trabalho constitui um índice da sua tese de doutoramento, que precisa de ser mais sistematicamente ordenado e, depois, aprofundado em cada capítulo, de forma coordenada, coerente, sem perder o rumo para o objectivo que talvez seja a conclusão sobre a definição do que desejará ser o mundo dos próximos anos, aquele que deve absorver todas as energias criativas e inovadoras dos iluministas do século XXI. Há mais de século e meio, apareceram uns poucos teóricos que traçaram uma concepção do mundo que deu muito que falar e que ainda hoje tem apoiantes que encontram nela muito de válido. É altura de aparecer um grupo de teorizadores que criem uma nova concepção que dê esperanças aos seres humanos mais carentes de segurança e perspectivas futuras. Sem esperança não é fácil encarar o futuro.
A Decisão do TEDH (397)
Há 1 hora
8 comentários:
Não há, julgo eu, necessidade de um tal grupo de teorizadores para abrir no mundo uma janela de esperança renovadora. Está tudo dito e sabido, que é como quem diz, os diagnósticos estão todos feitos, falta só curar o mundo das suas doenças!...
Por outros termos, há livros «velhos» fundamentais que continuam iluminantes e dignificadores da cultura e da civilização humanas, são decerto mais fiáveis do que certas elocubrações muito pós-modernistas que por aí circulam (de resto cheias de compromissos)!
Bem faz esta excelente comentadora, Manuela, insistindo e teimando em pensar pela sua cabeça, tentando sempre discernir na amálgama densa o melhor caminho! Parabéns!
Caro Arsénio,
Gostei do seu comentário que abre uma discussão que, se houver mais comentadores a entusiasmarem-se, pode dar um debate enriquecedor.
Comparando o seu comentário com a minha Nota, sobressai logo um aspecto do problema: Há dois níveis de abordagem que se completam: o trabalho de preparação ao nível individual, adequado aos direitos e deveres dos cidadãos e o de trabalho de equipa da governação.
O Amigo Arsénio aborda com muita sensatez o papel do cidadão, que se prepara para votar em consciência, pensando pela própria cabeça, com base em leituras de clássicos que podem passar por Bíblia, Corão, livros do Dalai Lma, clássícos como, por exemplo, Carl von Clausewitz, René Descartes, Peter F. Drucker, Antoine Henri Jomini, Paul R. Lawrence, Nicolas Machiavel, Robert B. Reich, Alvin Toffler, Francis Fukuyama, John K.Galbraith, Samuel P.Huntington, Joseph A. Schumpeter, Engels, Marx, etc.
Depois de lidos os mais conhecidos clássicos, fica-se com o sótão coberto de poeira de entre a qual sai a filosofia individual com determinados princípios e valores gerais, com ideias adaptadas às realidades actuais, conforme a habilidade e a idiossincrasia de cada um.
Trata-se de uma solução muito heterogénea que não pode servir de ponto de partida para a governação, por esta ter de ser o resultado do trabalho de uma equipa organizada, disciplinada, com metodologias comum a todos os elementos da equipa, unidade de doutrina, em busca de um mesmo objectivo.
É para apoio da governação que deve haver «manuais» «vade mecum» que cada ministro siga, depois de o chefe da equipa decidir concretamente o que se pretende. No caso recente português, depois de os ministros da educação, saúde, justiça, MAI, terem esvaziado o interior de muitos serviços dos seus ministérios, dando um forte impulso para a desertificação, o PM disse, na cidade da Guarda, que pretendia evitar a desertificação, para o que ia dar apoios fiscais às empresas que desejassem instalar-se nas regiões mais afastadas do oceano. Houve vários recuos de decisões já tomadas principalmente no sector da saúde.
O tal teorizador, não é obrigatoriamente um teórico utópico, mas um intelectual, respeitável, isento e honesto, que faça a síntese daquilo que foi definido pelos clássicos, pelos vários autores, pelos actuais opinadores, pelos defensores da modernidade, e construa um modelo perfeitamente adequado às condições actuais por forma a fazer evoluir o Pais para uns degraus acima.
Se este efeito não pode ser obtido por acções individuais desencontradas e raramente convergentes, também ele não invalida os esforços dos cidadãos isolados continuarem as suas reflexões para melhor se informarem e emitirem as suas críticas aos teóricos.
Toda esta actividade seria simplificada e mais eficaz se os políticos tivessem uma preparação prévia adequada às funções de governação, a qual sem esse substrato cultural não passa de sucessivos improvisos intuitivos, de que resulta desperdício de recursos de toda a ordem. Tais desperdícios acontecem quando tem de haver recuos, em consequência de manifestações populares de desagrado contra decisões tomadas sem a devida ponderação
Um abraço.
A. João Soares
Caro A. João Soares:
Diz bem, no meu comentário coloquei-me numa perspectiva individual (ou, se quiser, vertical). Parece-me que cada ser pensante deve tentar responder às questões fundamentais da sua vida. É verdade que o bom senso não se ensina, aprende-se (e digo-o lembrando um velho amigo meu, licenciado em Filosofia: há dias declarou-me duvidar do bom senso por ver nele uma «resignação»!).
A livralhada que acima nos «receita» apenas serviria para toldar as inteligências e aumentar a confusão de valores. De qualquer modo, o bom senso de cada leitor filtra o que for daninho, ou nega-se.
Quanto à capacidade intelectual para uma boa governança, estamos conversados. Creio que não é por aí que aferiremos a pureza de tal diapasão. Será, sim, pelo tipo dos interesses (culturais, sociais, económicos, etc.) que cada governante entenda defender na acção concreta que desenvolva.
Em suma, será pela posição social que cada um defina para si mesmo no seio da sociedade em cada momento que, embora requerendo a preparação cultural absorvida, determina a orientação a seguir por cada governante.
Todavia, este é um terreno no qual pouco ou até nada quero aventurar-me. Não é o meu habitual. Se avanço nestes termos é só para tentar não deixar fugir o diálogo. Que outras vozes se façam ouvir!
Caro Arsénio Mota,
Sobre este tema, coloquei o mesmo poost também no Do Mirante, onde pode encontrar comentários interessantes.
É certo que cada um tem de procurar soluções para os seus problemas, mas a governação dos países ou do mundo transcende os interesses individuais.
A apologia do bom senso traz-me à memória as palavras que Luís Vaz de Camões colocou na boca do Velho do Restelo, um fundamentalista do bom senso, da aceitação do «satus quo», do conformismo, da aversão a qualquer espécie de aventura. Hoje, com tais extremismos, os jogos de azar da Santa Casa da Misericórdia perderiam todos os clientes, pois o bom senso desaconselha jogar quando a probabilidade de ganhar é ínfima.
Os grandes passos na evolução do Mundo foram dados pela aventura e a loucura de uns quantos homens de génio que souberam compreender as experiência do passado e adaptá-las ao presente, com a mente no futuro, num momento qm que os sinais mostravam que o estado de maturação da sociedade estava preparado para a colheita.
Os autores que referi podem, depois de encontrada a síntese (e cada pensador encontra a sua), indicar a directriz e algumas regras fundamentais, mas a acção, essa, devem ser de ousadia, de inovação, embora os resultados devam ser imaginados com pormenor e flexibilidade suficientes, para permitiram a coerência e convergência dos sucessivos ajustamentos, sempre convenientes.
Daí eu considerar a conveniência de haver em cada época um pensador genial que estabeleça a doutrina que pensa ser a melhor para a evolução do mundo. Mais difícil é prever quem será o líder da acção, pois será a organização informal do povo no momento do arranque que permitirá a sua aparição e a sua aceitação pelos populares.
Muito se poderá dizer sobre estas hipóteses imaginárias.
Um abraço
A. João Soares
:)Estou a gostar muito mesmo do vosso diálogo e, se me permitem, vou meter a minha “colherada” também em relação a este assunto.
Julgo, (às tantas até tenho a certeza!), que a autora do texto se limitou a fazer um resumo do que lê, e não apenas em blogs, como afirma, mas também um retrato da paisagem que nos rodeia: gritos de revolta, denúncias de mal estar e tentativas de fazer girar a engrenagem num sentido mais favorável.
Penso poder dizer que este “trio” de comentadores (não há mais ninguém?) está de acordo em vários pontos que são imprescindíveis:
1. Numa boa formação cultural,de cidadãos e governantes,sempre necessária, que permita fazer a triagem de aprendizagens;
2.No veicular de uma informação isenta (a outra será propaganda);
3.Na participação crítica de todos, porque sem esta não há verdadeira democracia.
...
O resto fica para os outros :)
Manuela
Estamos de parabéns. Já não é diálogo, já é quase uma mesa quadrada!!! Vamos lá ver se chega a ser redonda!!!
Abraços para os intervenientes
João
Gostaria de sugerir ao amigo A. João Soares que vá a Camões confirmar o que o Poeta põe na boca do velho do Restelo. Talvez colha uma surpresa, sentindo que a ideia vulgar atribuída à figura não coincide com o que se lê!
Quanto a aspirar pela emergência de uma inteligência irradiante tão forte que marque e encaminhe realmente o nosso tempo, acho que a teremos já no Pensamento Único que percorre os media mundiais. São os media porta-vozes do poderio americano e adjacências? Então talvez estejamos aí a bater à porta do Génio saído da garrafa! :-))
Abraços.
Caro Arsénio Mota,
Há coincidências. Estive há pouco a folhear os Lusíadas à procura precisamente do Velho do Restelo com cujas palavras Camões encerra o canto IV e decidi copiar para um post duas das dez estrofes que lhe são dedicadas. Esta ideia veio no momento em que me referi a ele num comentário anterior.
Quanto ao governo único mundial, confesso que tenho muito receio pelo que isso signifique no atrofiamento do livre arbítrio das pessoas, mas há dias em conversa com um juiz meu vizinho, verifiquei que ele aceita essa ideia como uma alavanca para criar e manter a Paz no mundo. Ela não acentuará o domínio americano nem outro em especial, pelo que os actuais detentores do poder escusam de ter ilusões, isto baseado na literatura existente sobre este movimento muito discreto mas activo.
Abraço
A. João Soares
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