Há pouco mais de 30 anos foram encerradas as escolas técnicas, comerciais e industriais de onde saíam óptimos profissionais, com capacidade para iniciarem uma vida produtiva em que eram eficientes e de onde obtinham sucesso em todos os aspectos. Se o objectivo era fazer chegar todos os cidadãos às universidades, era um engano, porque delas também era possível tal acesso, conheço professores universitários que vieram daí.
Agora, reconheceu-se que a falta de tal tipo de ensino tem sido prejudicial ao país e está a iniciar-se o funcionamento de cursos especiais de formação, cujos programas foram elaborados sem o mínimo de sentido prático e utilitário e merecem críticas. Transcreve-se uma carta de uma professora ao 'Expresso' sobre o ensino de português nestes cursos.
SER PROFESSORA
Este ano lectivo, a minha escola abriu dois cursos de educação e formação: Electricista de Instalações e Assistente Administrativo. Sou professora de Língua Portuguesa e, normalmente, é possível aos docentes que pertencem ao quadro escolher os níveis que querem leccionar. Mesmo não tendo sido opção minha leccionar em turmas destes cursos, fui presenteada com quinze seres, projectos de electricistas de instalações, com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos. ( ... )
Fotocopiei o programa curricular dos módulos correspondentes ao 1º dos dois anos do curso. Fiquei logo céptica quando vi que, para futuros electricistas, os programas previam a leitura orientada de obras literárias como 'Falar Verdade a Mentir', de Almeida Garrett e 'A Saga' de Sophia de Mello Breyner Andresen.
É certo que a cultura nunca ocupa lugar e também é certo que fica sempre bem a um electricista saber as características do teatro do séc. XIX ( ... ), assim como a interessante história do mentiroso Duarte do 'Falar Verdade a Mentir', não vá de repente ser preciso que o electricista, no exercício da sua profissão, precise mesmo de falar verdade, embora estando a mentir ...
Também pode, a qualquer momento, ser necessário que o futuro electricista precise de dividir orações ( ... ).
Por favor, cérebros iluminados e destacados para conceberem os programas curriculares deste tipo de cursos, não sejam líricos!!! ( ... ) Venham até Condeixa-a-Nova ( ... ) e assistam à minha aula de Língua Portuguesa. Vão gostar de ver os 15 fabulosos projectos de electricistas a pedirem que não lhes ensine tais matérias pois não lhes servirão para exercer melhor a profissão e porque lhes tinham dito que, nestes cursos, 'as coisas' iam ser diferentes, sem matéria 'chata', só com assuntos ( ... ) relacionados com a vida mais prática (…)
E assim vamos andando, rindo até com certas tiradas dos formandos, com as suas análises de texto boçais e bestiais, vazias de encanto poético mas cheias de conteúdo telúrico, para ser eufemística... Se não, vejam a veia poética de um formando, que, após a leitura da frase '... e Hans foi pai de cinco filhos', do conto 'A Saga' de Sophia de Mello Breyner, o único comentário de análise textual que conseguiu fazer foi:
- É cum caraças, o homem fartou-se de martelar!!!' ....
Anabela Rosa Louro Gomes Estêvão, Coimbra
A Decisão do TEDH (399)
Há 29 minutos
2 comentários:
Com o 25A apareceu a ideia peregrina que todos deviam ir para as Universidades e ter um "canudo". Um lunático dito "progressista" acabou com o ensino técnico-profissional dando origem a toda esta bagunça do nosso ensino actual. É verdade o que dizes- este ensino era de facto tão bom pois preparava as pessoas para a vida profissional e caso quizessem seguir poderiam ir para as Universidades, até com melhor preparação que os alunos que seguiam do liceu. Agora tentam remediar o assunto mas igualmente com reformas feitas à pressa e com poucos resultados. É tudo "feito nos joelhos" sem qualquer consistência! Desta maneira nem temos licenciados nem profissionais que possam servir convenientemente o País. O exemplo dado por esta Professora é tipico e demonstra bem como está o ensino em Portugal!
Caro Luís,
É como dizes, tudo feito nos joelhos, tudo resolvido para ontem para fazer face a buracos, pondo remendos. Falta visão de futuro de planeamento de estratégia de projectos a longo prazo. Agora com a actual crise, isso é mais visível, procuram fazer face a cada reivindicação esquecendo o conjunto, mostrando que não houve previsão nem planeamento estratégico.
Assim não é governar, nem gerir. Os bispos estão a estudar com quem sabe, os políticos deviam seguir esse exemplo, mas nem sequer têm capacidade para aprfender!
Um abraço
João
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