sábado, 26 de abril de 2008

Cavaco, Jovens e a democracia

Foi agradável ouvir as palavras proferidas pelo Presidente da República na AR, durante a 34ª Sessão Comemorativa do 25 de Abril. Muito aqui tem sido escrito no mesmo tom. Mas este discurso tem para o povo a vantagem de este ver que os mais altos responsáveis conhecem as realidades do País.

Porém, esse conhecimento dá aos senhores do Poder mais responsabilidade pela resolução dos problemas, porque deixam de ter a desculpa de nada saberem! Um dos males de Marcelo Caetano foi, nas primeiras «conversas em família» em finais da década de 1960 ter mostrado que estava ciente das dificuldades dos portugueses e, depois, não os ter resolvido e, passado um ano, voltar a referi-los.

Quem tiver lido com alguma atenção este blog, nos posts e nos comentários, terá encontrado variados pontos de reflexão sobre as causas do desinteresse dos jovens pela política e algumas pistas para inverter essa tendência.

Hoje, que muito se fala em cidadania activa, são colocadas mordaças a todos os que levantem a voz para dizer «o rei vai nu»: Na DREN foi o caso do professor Charrua e recentemente os jornalistas que fizeram eco da notícia do caso do telemóvel na Escola Carolina Michaelis, no Distrito de Viana do Castelo foi a substituição da directora do Centro de Saúde de Ponte de Lima, houve o caso do bloguista António Caldeira, e agora o do Ten Cor Luís Alves de Fraga.

Mas, felizmente, apesar da má qualidade do ensino, de que tanto se fala, há vários jovens, nas Escolas Secundárias e Universidades que deixam muito bem colocado o nome de Portugal no estrangeiro, com prémios recebidos pelo seu saber, por artigos científicos publicados em revistas muito conceituadas, por descobertas científicas e competições de competência. Há também exemplos de inovações nas tecnologias de base científica e em indústrias de ponta que muito honram o País.

Mas, sintomaticamente, não consta que qualquer desses jovens que se distinguem pela sua inteligência, capacidade de estudo e competência pertença a políticos ou seja militante de qualquer partido. No outro extremo, verifica-se que entre os assessores, deputados, governantes e autarcas, aparecem apenas, salvo eventuais raras excepções, parentes e amigos de políticos influentes, nomeados por «critérios de confiança política» e não por concurso público que privilegie a inteligência, a competência a capacidade de estudo honesto e isento.

Este estado de coisas leva o jovem que não tem «padrinhos» nas cadeiras do poder a não ter qualquer interesse na política e a desprezar os companheiros de escola que sendo protegidos dos clãs de S. Bento, não precisam de se dedicar aos estudos, porque têm pela frente, garantido, um futuro opulento, sem trabalho e sem necessidade de competência. A maioria dos jovens que não têm tal garantia precisam de se dedicar responsavelmente ao estudo e é de entre eles que saem os premiados internacionalmente, os cientistas que dão lá fora boa imagem ao País.

Infelizmente, a maior parte desses jovens geniais acabam por trabalhar toda a vida, ou grande parte dela, no estrangeiro onde encontram melhores condições para desenvolver as suas investigações. Se se mantivessem cá, seriam objecto de invejas e perseguições e limitações de vária ordem, segundo o arreigado princípio de nivelar por baixo, da mediocridade, dificultando a vida aos que sobressaem pelo seu valor.

Das conversas informais nos locais onde a pessoas param, compreende-se que jovens e adultos pouco se interessem pelas tricas políticas, pois ouve-se com frequência que «eles são todos iguais, e votar é escolher do mesmo». Aparece quem se incline para a abstenção e quem, com presunção de mais esclarecido, diga que todos devem ir às urnas para que os políticos não digam que o povo está indiferente à política, mas devem entregar o boletim em branco, porque sendo branco é válido e faz com que o vencedor, receba uma pequena percentagem dos votos válidos e não tenha base para a arrogância de dizer que foi escolhido pela maioria do povo, pois apenas recebeu o voto expresso de uma ninharia de compadres do seu clã.

Concluindo, o Professor Cavaco Silva tem razão para estar preocupado, mas o primeiro passo para atalhar a tal epidemia será passar já a proceder à nomeação por concurso público honesto e acabar com as nomeações políticas por critérios subjectivos e inconfessáveis. Se, depois, um assessor admitido por concurso, for desleal sobrepondo à racionalidade e independência, as suas tendências partidárias e deixar de cumprir com rigor as suas tarefas, será demitido, nos termos do contrato de admissão.

Então, ficando os «tachos» da política abertos a todos os jovens, aumentará o apetite destes pelos altos cargos da Função Pública e da Governação, passando estes a ser colocados como hipóteses de futuro para os jovens portugueses mais válidos. E convém não esquecer que o combate à corrupção é indispensável para que se não ouça «ninguém honesto quer ir para a política para não ver o seu nome misturado com o de muitos que por lá vegetam». Talvez sejam exageros, mas valerá a pena meditar no problema e nos factores que o enformam.

Notícias acerca do discurso:
- Discurso do PR no 34.º Aniv do 25 de Abril
- Clique aqui para ouvir
- estudo sobre as atitudes e comportamentos políticos dos jovens em Portugal
- Cavaco impressionado com ignorância política dos jovens
- Cavaco e os jovens
- Jovens preocupam presidente
- A revolta silenciosa dos jovens cidadãos

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8 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Soares
Muito a propósito, no DN de hoje, sábado, a edificante notícia sobre a pequena elite lusa em Bruxelas.
Os deputados e seus acompanhantes.
Como acessores, nada de mais indicado que familiares directos, parentes e afilhados.
Lembro-me que os concursos da revista Selecções, eram vedados a funcionários da empresa.
Por aqui, vale tudo.
Votar, para quê?
Barroca Monteiro

A. João Soares disse...

Caro Barroca Monteiro,
O ensino, por deficiente organização e programação, tem estado a preparar os jovens muito mal para a vida. E, sem boa preparação de base, os técnicos não ajudarão o País a desenvolver-se para competir com os outros.
A preparação política será espontânea se acabarem com as nomeações por critérios políticos de compadrio e passarem a ser por concurso público, caso que afectará todos os cidadãos à procura de emprego e de carreira em serviços públicos. Tal como está a política é negócio dos clãs e isso não pode ter interesse pra os outros, os cidadãos normais que têm de trabalhar com seriedade para viver.
O caso dos assessores e assistentes pessoais, secretários etc., como é o caso dos eurodeputados e de muitas outras situações, inclusive nas autarquias é um exemplo daquilo que está no post.
Dizia a ex-vereadora da CML Maria José Nogueira Pinto numa entrevista quando muito se falava das centenas de assessores da CML que eles não são nomeados por competências mas sim por critérios de confiança política. Isto é, não estão ali a ganhar à grande, para trabalhar, mas apenas para terem emprego!!! ´É o culto da mediocridade. Por isso, a leis e outras decisões são os autênticos abortos que todos conhecemos, e que dão origem a despesas inúteis e evitáveis e a recuos do governo.
Há pouca honestidade e sentido económico na gestão dos dinheiros públicos. Os contribuintes que apertem os cintos, que se lixem.

Um abraço
A. João Soares

Luis disse...

Meus bons amigos,
Sinceramente não fiquei nada espantado com os resultados obtidos no estudo encomendado pelo Senhor Presidente da República. Ficaria isso sim se indicasse que a nossa juventude era culta e tivesse conhecimentos suficientes para estar preparada para uma vida profissional.Felizmente há excepções, essas têm representado bem o País pois também só vêm os seus méritos considerados se forem para o estrangeiro! Tristeza a nossa em que, neste País, as pessoas válidas são mal vistas e invejadas! E o compadrio é outro factor importante para que a juventude se desinteresse de estudar, para já não falar nas múltiplas reformas que se têm verificado na educação, em que cada uma que aparece é pior que a anterior.....São experiências atrás de experiências feitas por quem nada sabe do assunto. Se assim não é imita muito bem!Nas leis como nas reformas parece haver "diarreia mental" de quem as faz!!!!! Muita coisa haverá para fazer mas a primeira seria parar para pensar e estudar convenientemente os diversos assuntos e só depois com muito bom senso apresentar as leis e reformas a implementar. Por outro lado haverá que novamente criar carreiras nas diversas actividades incluindo na Função Pública para incentivar através dos concursos de admissão ou de promoção as pessoas sentirem necessidade e conveniência de se cultivarem. Ainda me lembro de ver pessoas já de certa idade a estudarem para concorrerem a lugares que a isso obrigavam. Agora basta ser familia ou amigo de alguém no poder para terem acesso a esses lugares e, depois admiram-se da "ignorância dos macacos"!!!! Muito mais havia para dizer mas por agora aqui me fico!

A. João Soares disse...

Caro Luis,
O seu comentário toca em vário pontos muito importantes que merecem ser meditados pelos que têm supostamente a responsabilidade de governar o País. Mas a «diarreia» a que se refere, evidencia uma debilidade muito grave, uma doença endémica que não pode ser curada apenas com discursos.
Sugiro uma passagem pelo Do Miradouro, onde estão comentários muito úteis para uma visão mais completa do tema.
O País está gravemente doente é a conclusão a que chegamos. Repare na pouca vergonha referida no comentário de Barroca Monteiro. Toda a gente saca quanto pode dos cofres do Estado em benefício de familiares e amigos.
Agora que o problema está diagnosticado e fundamentado num estudo, como é referido no discurso do PR, veremos qual é a capacidade dos governantes e que atitude tomará o PR para o fazer valer em benefício de Portugal. E Portugal não é apenas o rectângulo, mas, principalmente, é a população, são os portugueses.
Faça-se mais um estudo, desta vez para analisar o relacionamento (com os políticos em funções agora e antes) dos detentores de cargos pagos pelo erário, uma lista do emprego de todos os ex-governantes, ex-deputados, ex-assessores, ex-autarcas e dos seus familiares. Quem será o político com coragem para propor tal estudo???

Abraço
A. João Soares

anamarta disse...

É de louvar que o mais alto Magistrado da Nação se preocupe com a falta de politização dos nossos jovens! só que deveria também reconhecer a suas responsabilidades neste estado de coisas, ele já foi 1º Ministro e na altura não me apercebi que tivesse tomado algumas medidas para inverter esta situação, pelo contrário! E mesmo actualmente ao aceitar as regras impostas pelo J. Jardim, aquando da sua deslocação à Madeira, só contribuiu para desacreditar as Instituições democráticas(Assembleia Regional) que foi um Orgão eleito pelo povo da Madeira. O senhor Presidente deve ser adepto do ditado(Ouve o que eu digo, não sigas o que eu faço)
um abraço

A. João Soares disse...

Cara Ana Marta,
A situação de um Presidente não é fácil. Como humano, tem os seus defeitos e comete erros, mas como supremo magistrado tem que ser impecável. Ora isto não é muito fácil!!!
Outro dilema é fazer discursos de elevada erudição para se mostrar digno do cargo, mas por outro lado interessa ser compreendido pelo povo eleitor
E, por trás de tudo isto está a sua personalidade própria. E Cavaco, como tímido e cauteloso, acaba por não agir como o povo gostaria. Enfim, acho que é muito difícil ocupar cargos que exigem grande visibilidade. E, com o desprestígio que a política está a granjear, este poderá ser o último Presidente com boa formação académica e com grande preocupação de ser sério e patriota.

Beijos
A. João Soares

João Soares disse...

Cavaco Silva comemora o 25 de Abril a passar raspanetes aos "políticos". Como se ele não fosse um político.
Além disso não usou mais uma vez o cravo na lapela. Quando Primeiro-Ministro teve tempo e dinheiro para falar de Abril aos jovens de então. Contudo teve ministros da educação mais preocupados em cortes orçamentais.
Um abraço com um cravo na mão!!!

A. João Soares disse...

João Soares,
Parece que se tornou tradicional, o PR aproveitar a data para dar uma lição ao governo e ao País. Não seria mal que as lições fossem aprendidas e praticadas na vida corrente. Uma boa lição é aquela que produz efeitos, tal como a árvore que dá boa fruta. Veremos desta vez se os responsáveis captam o interesse da população mais jovem, os executivos de amanhã. Para isso, será conveniente que a actividade política se torne impecável, exemplar, que possa servir de espelho à vida dos cidadãos. Quando isso acontecer, não faltarão pessoas válidas a darem um passo em frente para colaborar na gestão da causa pública.
Abraço
A. João Soares