Meu caríssimo Amigo,
Junto uns pensamentos de Miguel Torga que repesquei por os achar muito actuais.
Ele que até preso esteve pelas suas ideias revolucionárias mostrou-se avesso ao que resultou do MFA e dos "revolucionários de pacotilha" que depois proliferaram e continuam a pontificar na nossa "política"!
Quanto mais o leio mais me identifico com este transmontano rude mas honesto que sempre soube ser frontal na apresentação das suas ideias.
É pena que não aprendam com os seus pensamentos e continuem com malabarismos e experiências bacocas deitando tudo a perder para o futuro de Portugal e dos portugueses.
Um forte e amigo abraço,
Soares da Cunha
Miguel Torga e os seus pensamentos sobre a política portuguesa pós 25 de Abril
Sobre os políticos:
A política é para eles (os políticos) uma promoção e, para mim, uma aflição.
Sobre os partidos:
É escusado. Não posso ter outro partido senão o da Liberdade. O meu partido é o mapa de Portugal.
Sobre o Golpe militar:
Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares.
Sobre a Revolução (20/06/75):
Estranha revolução esta que desilude e humilha quem sempre ardentemente a desejou.
Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos numa roleta de loucos, que tanto anda como desanda.
O espectáculo que damos neste momento é o de um manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um electrochoque aberrante e desumano.
Sobre a Descolonização:
Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem grandeza de uma grande aventura.
Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.
Sobre a entrada de Portugal no Mercado Comum:
Não apoia nem tem a mínima simpatia pela União Europeia. Ela ofende o seu espírito patriótico e o seu ideal de Pátria. Insurge-se contra a ideia de subserviência às ordens de uma Europa sem valores, incapaz de entender um povo que nela sempre os teve… É o repúdio de um poeta português pela irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe alienaram a soberania(…) e Maastricht há-de ser uma nódoa indelével na memória da Europa.
Sobre a Regionalização:
O mundo a braços com o drama das diversidades e nós, que há oitocentos anos temos a unidade nacional no território, na língua, nos costumes e na religião, vamos, desmioladamente destruí-la?
El País
Há 1 hora
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