sábado, 5 de abril de 2008

De Miguel Torga, patriota transmontano

Meu caríssimo Amigo,

Junto uns pensamentos de Miguel Torga que repesquei por os achar muito actuais.

Ele que até preso esteve pelas suas ideias revolucionárias mostrou-se avesso ao que resultou do MFA e dos "revolucionários de pacotilha" que depois proliferaram e continuam a pontificar na nossa "política"!

Quanto mais o leio mais me identifico com este transmontano rude mas honesto que sempre soube ser frontal na apresentação das suas ideias.

É pena que não aprendam com os seus pensamentos e continuem com malabarismos e experiências bacocas deitando tudo a perder para o futuro de Portugal e dos portugueses.

Um forte e amigo abraço,

Soares da Cunha

Miguel Torga e os seus pensamentos sobre a política portuguesa pós 25 de Abril

Sobre os políticos:

A política é para eles (os políticos) uma promoção e, para mim, uma aflição.

Sobre os partidos:

É escusado. Não posso ter outro partido senão o da Liberdade. O meu partido é o mapa de Portugal.

Sobre o Golpe militar:

Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares.

Sobre a Revolução (20/06/75):

Estranha revolução esta que desilude e humilha quem sempre ardentemente a desejou.
Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos numa roleta de loucos, que tanto anda como desanda.
O espectáculo que damos neste momento é o de um manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um electrochoque aberrante e desumano.

Sobre a Descolonização:

Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos em traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem grandeza de uma grande aventura.
Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.

Sobre a entrada de Portugal no Mercado Comum:

Não apoia nem tem a mínima simpatia pela União Europeia. Ela ofende o seu espírito patriótico e o seu ideal de Pátria. Insurge-se contra a ideia de subserviência às ordens de uma Europa sem valores, incapaz de entender um povo que nela sempre os teve… É o repúdio de um poeta português pela irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe alienaram a soberania(…) e Maastricht há-de ser uma nódoa indelével na memória da Europa.

Sobre a Regionalização:

O mundo a braços com o drama das diversidades e nós, que há oitocentos anos temos a unidade nacional no território, na língua, nos costumes e na religião, vamos, desmioladamente destruí-la?

Sem comentários: