Recebido do amigo Soares da Cunha, com autorização para publicar.
Ao ler um e-mail que me enviaram sobre o racismo em Angola, contra os não negros, lembrei-me de duas experiências vividas, aos 18 anos, na África do Sul.
A primeira foi não me aceitarem num hotel por estar de tal modo bronzeado da praia que me julgaram mulato e, apesar de o meu Pai afirmar que era seu filho, ouviu da boca do responsável do hotel que os Portugueses tinham filhos mulatos mantendo a recusa de nos hospedarem nesse hotel. Por sorte, acabamos por não ter qualquer problema na recepção de um outro hotel e assim pudemos dormir uma noite descansada.
A segunda foi também muito estranha, pois como não estava habituado ao apartheid, entrei num edifício dos Correios pela porta mais próxima, que por sinal era a dos não brancos, mas que eu não me apercebi de tal facto.
Porque não havia ninguém a atender nesse balcão passei por uma porta de vidro de separação de outra área onde havia igualmente um balcão mas este com pessoal a atender onde procurei comprar um selo para enviar uma carta para Lisboa.
Qual não foi o meu espanto ao não me quererem atender e mandarem-me para trás para a outra sala de onde tinha vindo para aí ser atendido. Expliquei que lá não havia quem me atendesse e por isso estava ali.
Foi o cabo dos trabalhos para me fazer entender e percebessem as minhas razóes. Finalmente depois de muitas explicações acabaram por me atender desfeito que foram as dúvidas da minha etnia.
Como é de calcular, estas duas experiências nessa idade marcaram-me para todo o sempre contra todas as formas de racismo ou de exclusão social.
Assim, ao ler esse e-mail, sobre o tipo de racismo primário nele apresentado fiquei não só indignado com o que li mas também muito preocupado com o futuro da Sociedade Angolana pois desta maneira haverá um novo tipo de apartheid e agora de sinal contrário.
Aproveito para lembrar que durante o chamado "Holocausto em Angola" foram os brancos e os mulatos quem mais sofreram ainda que também muitos negros tivessem sofrido horrores.
Por outro lado e ainda que não aceite qualquer situação desse tipo, lembro que, ao falarem da História da Negritude, se estão a esquecer que eram os Sobas que vendiam os escravos aos brancos no tempo da Escravatura. E que fomos nós dos primeiros senão mesmo os primeiros a acabar com tal mercado desumano.
Por outro lado, a existência de mulatos é prova provada que o Português não é por norma racista. Existirão, infelizmente, aqueles que o possam ser mas são uma minoria para, como excepção, confirmarem a regra de não o serem.
Foi pois com muita tristeza que li esse mail eu que tanto prezo as minhas cunhadas e os meus sobrinhos que são mulatos mas merecedores de toda a consideração pelas suas qualidades profissionais e humanas.
Como Militar tive oportunidade de trabalhar com tropas de naturais de Angola, Moçambique e Guiné de diferentes etnias e sempre os respeitei e fui por eles respeitado, tendo feito grandes amigos, pelo que me repugna esta maneira de pensar.
Lembro, no entanto, que muitas dessas tropas foram, pelos então governantes do nosso País, vergonhosamente abandonadas e desprezadas aquando da “descolonização exemplar” e por tal motivo muitas delas acabaram às mãos dos responsáveis por esses novos Países enquanto outras continuam esquecidas aqui em Portugal!
Não aceito de maneira alguma qualquer tipo de Racismo ou Exclusão Social! Razão pela qual sempre estarei lutando para quebrar essas barreiras!
Soares da Cunha
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Contra qualquer tipo de racismo
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