O actual governo, quando iniciou as funções, cheio de «fúria» matinal, atacou em todas as direcções, contra juízes, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, professores, militares, polícias, etc e insistiu na igualdade de direitos de todos os servidores do Estado, excepto os políticos, chamando-os funcionários públicos. Na sua pressa, não reparou que nem todos os servidores do Estado são iguais em deveres e nos direitos correspondentes.
Agora, quando se completam 19 anos sobre a carga dos secos contra os molhados no Terreiro do Paço, é levantada novamente a revindicação do direito à greve, por parte dos polícias. E, logicamente, para haver coerência nas posições governamentais, não há razão para ainda não terem esse direito, à semelhança dos outros funcionários públicos como juízes, médicos, professores, etc.
Se os governantes lhes retiraram, com muito regozijo sádico, todos os direitos que os distinguiam dos vulgares funcionários públicos, e se estes têm direito a sindicato e a greve, como acontece também com os meritíssimos juízes, que até se consideram órgão de soberania, porque não os polícias poderem usufruir desse direito? Qual a razão de os polícias estarem privados dessa forma democrática de luta permitida aos outros funcionários públicos? Algo está errado nesta falta de lógica, nesta incoerência e contradição que actua como um pau de dois bicos.
Pessoalmente, não quero imaginar o que serão as grandes cidades num dia de greve da PSP. Nesse dia os prevaricadores agem impunemente, a qualquer hora, em qualquer local, sem qualquer receio. Realmente, não posso aceitar que a PSP faça greve, mas o Governo tem o dever de compensar os agentes dos sacrifícios que lhes exige, com risco e disponibilidade diferente de qualquer funcionário. Não é fácil imaginar o sofrimento de agentes que se vêm igualados aos «mangas de alpaca», mas a quem em dado momento tudo é exigido. A sua prontidão permite, em caso grave, contar com a sua presença a qualquer hora, em qualquer dia, enfrentando riscos que por vezes vão até à perda da vida, o que não acontece a um vulgar funcionário público. Se o Governo não os prestigiar, se os tribunais não derem seguimento ao seu trabalho de fiscalização e repressão da criminalidade, a segurança dos cidadãos é gravemente lesada.
Agora, esquecendo as anteriores posições do Governo, os dois principais partidos políticos «afirmam-se contra direito à greve dos polícias». Estranho!!! Então eles são ou não são funcionário públicos semelhantes aos funcionários das Finanças e outros? Se lhes são feitas exigências especiais, quais as compensações inerentes?
Parece que os responsáveis estão neste caso a usar a mesma lógica do Estado Novo, esquecendo que têm sido tomadas medidas diferentes e que nada têm a ver com os raciocínios e as prioridades dessa época. Há um conjunto de factores interligados que devem se apreciados em conjunto, para que exista coerência dentro de uma estratégia adequada.
Este tema, de forma mais ou menos directa já aqui foi referido nos seguintes textos:
- Polícias diferentes de simples funcionários públicos
- Forças de Segurança e seus sindicalistas
- Polícias querem direito à greve
terça-feira, 22 de abril de 2008
Polícias sem os direitos dos funcionários públicos
Publicada por A. João Soares à(s) 11:51
Etiquetas: governo, greve, incoerência, polícias
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5 comentários:
Já fui Oficial da Policia e sei os sacrificios que os Agentes de Autoridade sofrem no seu quotidiano. Discordo também que tenham direito à greve mas por isso mesmo deveriam usufruir de regalias que minimizassem os seus eternos problemas. Pagam os seus fardamentos, os motoristas em caso de acidente pagam os prejuízos havidos, cada vez mais lhe estão a ser cerceadas as regalias que tinham em relação à saúde, etc etc.Comparadas as regalias que deveriam ter com as mordomias que se vêm em alguns ditos "funcionários públicos" eram de inteira justiça e evitavam-se todas estas situações! A governação tem que começar a deixar de olhar para o seu umbigo e ser mais solidária com quem tem de ser! O Mérito tem que ser pago mas o Risco também! Os ditos "funcionários públicos" dizem-se pagos pelo Mérito e os que arriscam o "pelo" todos os dias porque não??? É o umbigo a funcionar e isso tem que acabar de vez!!!!!
Soares da Cunha
Meu caro João
Em meu entender, o que está errado é a necessidade de os polícias fazerem greve, reivindicarem direitos que lhes deveriam estar consagrados automaticamente.
Mas, a partir do momento em que os consideraram funcionários públicos, e não, como deveria ser, uma profissão de alto risco (que é) só lhes resta exercer o seu direito à greve.
Como o João muito bem diz, o que seria das cidades um dia sem polícia? Um paraíso para os meliantes, que agiriam sem receio de represálias.
Mais uma das leis feitas em cima do joelho, sem pensar nas consequências.
Esperemos que haja o bom senso de evitar situações extremas.
Beijinhos
Mariazita
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Caro Soares da Cunha e cara Mariazita,
O que faz falta é sensibilidade dos políticos para as realidades, para estabelecer prioridades, para ser justo nas compensações aos sacrifícios que se exigem.
Por outro lado, seria de esperar que os respectivos chefes defendessem de forma mais eficiente os seus subordinados e não fossem tão subservientes aos ministros.
São as contingências de uma sociedade degradada, orfã de valores e princípios.
Cumprimentos
A. João Soares
A subserviência fica a dever-se ao facto de quererem sobreviver pois ou estão com o poder ou vão para o buraco. E como bem dizes há falta de valores e principios éticos ninguém defende os seus subordinados . Isso era antigamente e nós sempre o fizemos sem qualquer medo de represália! É verdade que nem todos, mas agora? É o salve-se quem puder.....
Soares da Cunha
Caros Soares da Cunha,
Realmente, nesta época selvagem do apego ao dinheiro como objectivo fundamental e prioritário, cada um procura salvar os próprios interesses, a sua sobrevivência nas melhores condições. E assim se grava o fosso entre os mais ricos e os desprotegidos. Estes, chegados aos limites, para sobreviverem, entregam-se a todas formas de luta inclusive ao crime.
E a sociedade está como se vê.
Abraço
A. João Soares
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