domingo, 6 de abril de 2008

Despedimentos colectivos

Embora procure não me prender com casos concretos e singulares e manter-me na área dos conceitos, ou melhor, distanciando-me na estratosfera para ver o mundo sem me deixar influenciar por politiquices, fui estimulado a fazer um comentário sobre o tema que agora serve de base para este post.

Os despedimentos nas empresas Delphi e Yazaqui Saltano, ambos noticiados em 5 de Abril, vierem relembrar outros casos semelhantes ocorridos com empresas multinacionais que se instalaram, em Portugal a troco de benefícios fiscais de que as empresas nacionais não podem usufruir. E, apesar desses benefícios, não hesitaram em encerrar, deixando centenas de desempregados com família.

Estes casos podem ser analisados segundo vários aspectos de que escolhemos os seguintes:

1. Na óptica das empresas nada há a dizer, porque são administradas para fazer face à economia livre em que impera a livre concorrência e o efeito da oferta e da procura. A sua finalidade é o lucro através da venda dos seus produtos e, por isso, reorganizam a produção, alteram a lista de produtos e a estratégia de gestão conforme as suas conveniências, para reduzir custos e ampliar os benefícios. É pena que não tenham mais consideração pela mão de obra e pela sociedade relacionada com a empresa, mas isso também se compreende nestes tempos em que se desprezam valores não traduzíveis em dinheiro.

2. Na óptica dos trabalhadores despedidos, é uma tragédia, principalmente quando a preparação técnica é de tal modo estreita que não lhes torna fácil a adaptação a outro tipo de trabalho, e tornando difícil a obtenção de outro emprego. Fica assim em causa a deficiente programação do ensino que não dá aos estudantes ferramentas válidas para enfrentar a vida prática, na luta com a concorrência, global. Há pouco tempo um gestor espanhol que instalou uma empresa de exploração de granito em Trás-os-Montes, ao ser interrogado sobre a quantidade de emprego que ia criar na região, respondeu que ia empregar cerca de duas centenas, mas que vinham todos de Espanha, porque embora tivesse mais custos, acabava por ser compensador devido à sua maior produtividade.

3. Do ponto de vista sindical, deve haver a preocupação de obter o máximo de indemnizações aos trabalhadores despedidos, e, principalmente, retirar conclusões que levem a incrementar uma formação profissional mais ampla que permita aos operários uma rápida e eficaz adaptação a novo emprego, a novas especialidades. Nos tempos actuais, parece errado, perante as circunstâncias vigentes, um trabalhador prever ficar toda a vida numa mesma empresa, sendo mais vantajoso ir saltando de uma para outra à procura de melhores remunerações e de novas experiências, aumentando a variedade das suas capacidades.

4. Do ponto de vista do Governo, há que rever o sistema de incentivos a empresas estrangeiras que acabam por nada perder com estas aventuras, pois a redução de impostos acaba por só lhes trazer benefícios sem obrigações. Essas empresas não vêm com compromissos de ficarem para sempre, mas apenas durante o tempo em que nisso tenham vantagens. Logo que as circunstâncias se modifiquem, não fazem a mínima cerimónia em se «deslocalizarem» para países onde os custos de produção sejam menores e obtenham outras vantagens no fabrico e na distribuição dos seus produtos.

5. Acerca dois efeitos da globalização, será conveniente convencer todas as pessoas de que têm necessidade de compreender quanto a globalização lhes pode ser prejudicial ou útil conforme ignorarem ou souberem como se defender e como aproveitar as oportunidades. Os tempos que correm exigem muita atenção às evoluções do mercado de trabalho e à frequente tomada de decisões, sem exageradas afeições aos patrões actuais. É conveniente ser eficaz e competente para contribuir para o êxito da empresa a que pertence, mas essas qualidades devem ser apreciadas e remuneradas justamente, o que pode ser mais compensador numa outra empresa concorrente, ou mesmo num ramo diferente.

6. Como pano de fundo de tudo isto, um ponto a considerar é a necessidade urgente de o ENSINO se tornar mais prático de forma a formar técnicos competentes para, em empresas especializadas, merecerem bons ordenados e se tornarem imprescindíveis. Seria um óptimo sinal que as empresas multinacionais, ao deslocalizarem-se, levassem alguns técnicos portugueses por terem óptima qualidade.

Há, sem dúvida, outros aspectos interessantes para a melhor compreensão do tema, para o que convido os visitantes a deixarem comentários que contribuam meditação mais profunda, que o assunto merece.

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