Uma cereja contém uma semente. Uma semente pode conter milhões e milhões de cerejas, se for devidamente utilizada. Também é costume dizer que a corrida da maratona é iniciada por um passo.
Como escreveu João César das Neves, vivemos momentos de «alarmes, medos e acusações e ouve-se dizer que a sociedade está perdida, que bandidos infames roubam e corrompem o sistema e a nossa vida e felicidade estão gravemente ameaçadas». Mas merecem ser referidas duas sementes, dois primeiros passos tendentes a iniciar a recuperação da sociedade - em Londres e em Guimarães - regressando ao significado original de DEMOCRACIA, como poder do povo.
Em ambos os casos, perante a insuficiência da autoridade legalmente instituída para garantis a boa ética e a segurança social, surgiram populares voluntários que se propõem suprir a incapacidade, incompetência ou falta de vontade para manter a ordem.
Em Londres, depois de manifestações de violência, de vandalismo, de saque vitimizando inocentes trabalhadores e proprietários de pequenos estabelecimentos, há muitos voluntários a limpar as ruas, os cidadãos mobilizam-se para garantir a segurança e, para armar as milícias, recorrem a tacos de basebol cuja venda dispara 5000%. O povo sente que não pode esperar mais do poder constituído.
Quanto a Guimarães, as circunstâncias e os alvos são de natureza diferente mas, na essência, o problema é semelhante. Para gerir as comemorações da Capital Europeia da Cultura, em 2012, foi nomeada Cristina Azevedo que, vendo uma oportunidade para enriquecer em curto prazo, juntamente com um grupo de amigos, criou a FUNDAÇÃO CIDADE DE GUIMARÃES, para funcionar entre 2010 e 2015, provavelmente esperando ser prorrogável.
Auto-atribuíram-se elevadas remunerações e mordomias, durante 5 anos (2010-2015) à administração e ao Conselho Geral, Guimarães 2012 gasta 1,3 milhões de euros por ano em salários.
O verdadeiro objectivo parece ter ficado por aí, pois estando a poucos meses a entrada do ano 2012, o Presidente da Câmara Municipal, pressionado pela Assembleia Municipal, não vendo nada preparado, retirou a confiança à administração da Guimarães 2012.
O Conselho Geral que também não tinha mostrado qualquer interesse na sua função, viu-se, perante a posição do autarca, na necessidade de reunir e decidir exonerar a Presidente da Administração, Cristina Azevedo e substituí-la por João Serra que era o segundo na hierarquia da Administração. João Serra assume presidência da Guimarães 2012. Mas o Poder não teve a ousadia de extinguir a fundação e substituí-la por um grupo de trabalho menos oneroso para o dinheiro público e mais motivado para as tarefas a realizar
Perante isto,um grupo de cidadãos patriotas achou que, estando tanto dinheiro em jogo e havendo necessidade de fazer um bom trabalho de propaganda da cidade de Guimarães em favor do Turismo e, principalmente, da Cultura, decidiram observar de perto tudo o que a Fundação faz, avaliando o seu desempenho, e tornar público, com o máximo de transparência. Prometem, a partir do próximo mês, organizar sessões públicas de discussão do evento. Será um meio de pressão para que os nababos bem pagos se tornem um pouco merecedores de algum do muito dinheiro que recebem.
Deste grupo são conhecidos os nomes de Francisco Teixeira que foi vereador da Cultura na Câmara de Guimarães e é presidente da Associação Artística Vimaranense, uma das mais antigas instituições culturais da cidade, o arquitecto Nuno Silva Leal e Rui Dias, jovem que trabalha na área da produção audiovisual. Trata-se de um grupo multidisciplinar, juntando elementos de vários quadrantes políticos, artistas, membros do tecido associativo, incluindo pessoas que nem residem em Guimarães mas vêm acompanhando com expectativa a preparação da Capital Europeia da Cultura de 2012.
Esta atitude é exemplar, muito positiva e vai obrigar a gerir melhor o dinheiro público, à semelhança das iniciativas britânicas acima referidas e em campo oposto às manifestações violentas e selvagens usadas em vários pontos do mundo, inclusive na Grã-Bretanha.
Oxalá estas duas sementes aqui realçadas sejam os primeiros passos para um mundo em que impere o civismo, o respeito pelo interesse colectivo e um sentido ético da DEMOCRACIA e do sentido da responsabilidade.
Imagem do Google
Sexta-feira na Rua do Benformoso em Lisboa
Há 2 horas
2 comentários:
Enquanto os partidos "esmagarem" ou "absorverem" a mobilização popular não iremos a lado nenhum, e isso é o que se tem passado.
Abraço do Zé
Caro Zé Povinho,
Não posso alinhar na sua ideia de submissão do povo aos políticos. Quem tem poder é o povo, que com ele elege os seus representantes. Precisa de ter coragem de controlar a forma como os servidores cumprem a vontade de quem os escolhe, defendam os interesses dos eleitores. As iniciativas do povo inglês e do vimaranense são merecedoras de elogio e de serem sementes a germinar e frutificar. Tem sido visto que o povo, está a acordar e a colocar os políticos na ordem ou atirá-los para fora da carroça. Mas deve aprender a agir de forma mais eficaz e menos nociva para o povo inocente. É preciso não ficar pela crítica e exoneração, mas ir até às sugestões de «como fazer bem». É preciso limpar as ruas de Londres e os gabinetes de ministros e autarcas, eliminar as fundações e instituições sem real utilidade que apenas servem para engordar incompetentes e incapazes de viverem com o «suor do seu rosto», reduzir a burocracia à mínima expressão, para que a economia e a vida privada possa frutificar no melhor sentido. Queremos um SIMPLEX verdadeiro em cada acto da vida nacional.
A complicação só serve para aumentar a corrupção, usada para olear processos emperrados.
Abraço
João
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