Transcrição
Notícias do século XXI
Jornal de Notícias. 12-03-2010. Por Manuel António Pina
Há dias em que (como as greves, na opinião do presidente da TAP, homem do século XXI com um salário do século XXII e uma gestão do século XIX) me sinto "do século passado ou do anterior". Nesses dias, enquanto não sou apanhado com a boca do século passado na botija do século XXI, estranho que a Privado Holding, dona do privadíssimo BPP, queira que os contribuintes a indemnizem por o Estado não lhe ter "recuperado" o "seu" banco.
Acho "rasca, absurdo e estúpido" que a mulher de Saramago ache "rasca, absurda e estúpida" a contestação aos 2,2 milhões que a Câmara de Lisboa gastará na Fundação autocelebratória do marido (no Porto, a Fundação Eugénio de Andrade recebe do Estado e Câmara 0 euros). Devo, contudo, ter uma costela do século XXI. Percebo que a deputada socialista Maria de Belém ache a comissão de inquérito ao negócio PT/TVI um porta-aviões, quando, para resolver o caso, bastava "um mero submarino" (que, como o mero Rui Pedro Soares, se move debaixo de água). E concordo com o ministro das Finanças que financiar autarquias é "money for the boys" e financiar "boys" é "money for the people".
NOTA: O autor do artigo, no seu habitual estilo sintético, consegue, em poucas linhas definir a complexidade do desnorte que constitui uma endemia das mentes das pessoas públicas. Tão grave desnorte com consequências que podem ser dramáticas para o futuro do País, precisa de ser já tratado com uma boa terapia. Para começar é preciso nortear os responsáveis, dotando-os de bússolas de boa qualidade. Vejam lá se conseguem orientar-se e levar o navio a bom porto. Não me refiro ao significado popular do termo «orientar-se» porque disso sabem demais, para mal dos portugueses.
Sócrates de novo
Há 1 hora
2 comentários:
Caro João,
Gostei do post que achei delirante e muito a propósito mas olha que a tua nota não lhe fica atrás!!!
Realmente o "desnorte" é demais... e já será difícil mesmo com boa bússola levar "a carta a Garcia"!!!
Um abração amigo.
Caro Luís,
Já não é necessário inventar a pólvora. Tem aqui sido sugerida a elaboração de um Código de bem governar e agora juntou-se uma tua achega Para um código de conduta dos políticos.
Seria mais transparente, verdadeiro, honesto, um regime em que o Governo publicasse os objectivos que pretende alcançar para o País, que dissesse o que pretende para os portugueses. Sem isso, não há bússola que os salve porque não decidiram o porto onde querem chegar.
Sem essa definição, justifica-se o que o povo suspeita: que querem o nosso voto para se enriquecerem, às suas famílias, aos amigos e cúmplices, à custa da exploração do povo.
O Povo que já ganha pouco vê os seus proventos reduzidos mas continua a ver indivíduos, como o «adepto do FCP», sem valor real, a ganhar milhões injustamente.
Aumenta assim escandalosamente o factor de multiplicação, ou o quociente entre os salários mais baixos e os mais altos.
Qual a razão? O que é que logicamente pode explicar esta diferença? O que pretendem os políticos com mais poder de decisão?
No ensino devia ser ensinado às crianças civismo e normas de gestão das suas vidas e dos problemas mais complexos. Mas ninguém cuida disso, procurando passagens de ano fáceis para não esforçar os alunos, como fez a ministra dona Lurdes que preparou condições para alunos e professores se suicidarem e para se criarem adultos incapazes e incompetentes como já vem acontecendo na política com impulso para agravamento devido às reformas mais recentes na Educação.
As bússolas são necessárias, mas exigem que se saiba para onde se pretende avançar.
Um abraço
João
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