Transcrição:
Estou farto de salvar a Pátria
Texto de Henrique Monteiro, Director do "Expresso", publicado na edição do Expresso de 13 de Março de 2010
Quando comecei a trabalhar, a pátria precisava de ser salva dos desvarios do PREC e por isso pagámos mais impostos. Depois, nos anos 80, houve um choque petrolífero, salvo erro, e tivemos de voltar a salvar a pátria. Veio o FMI, ficámos sem um mês de salário e pagámos mais impostos. Mais tarde, nos anos 90, houve mais uns problemas e lá voltámos a pagar mais, para a pátria não se afundar. Por alturas do Governo de Guterres fui declarado 'rico' e perdi benefícios fiscais que eram, até então, universais, como o abono de família. Nessa altura, escrevi uma crónica a dizer que estava a ficar pobre de ser 'rico'... Depois, veio o Governo de Durão Barroso, com a drª Manuela Ferreira Leite, e lembraram-se de algo novo para salvar a pátria: aumentar os impostos! Seguiu-se o engº Sócrates, também depois de uma bem-sucedida campanha (como a do dr. Barroso) a dizer que não aumentaria os impostos. Mas, compungido e triste e, claro, para salvar a pátria, aumentou-os! Depois de uma grande vitória que os ministros todos comemoraram, por conseguirem reequilibrar o défice do Estado, o engº Sócrates vê-se obrigado a salvar a pátria e eu volto a ser requisitado para abrir mão de mais benefícios (reforma, prestações sociais, etc.), e - de uma forma inovadora - pagando mais impostos.
Enquanto a pátria era salva, taxando 'ricos' como eu (e muitos outros, inclusive verdadeiros pobres), os governantes decidiram gastar dinheiro. Por exemplo, dar aos jovens subsídios de renda... por serem jovens; ou rendimento mínimo a uma pessoa, pelo facto de ela existir (ainda que seja proprietária de imóveis); ou obrigar uma escola pública a aguentar meliantes; ou a ajudar agricultores que se recusam a fazer seguros, quando há mau tempo; ou a pedir pareceres para o Estado, pagos a peso de ouro, a consultores, em vez de os pedir aos serviços; ou a dar benefícios a empresas que depois se mudam para a Bulgária; ou a fazer propaganda e marketing do Governo; ou a permitir que a Justiça seja catastrófica; ou a duplicar serviços do Estado em fundações e institutos onde os dirigentes (boys) ganham mais do que alguma vez pensaram.
E nós lá vamos salvar o Estado, pagando mais. Embora todos percebamos que salvar o Estado é acabar com o desperdício, o despesismo, a inutilidade que grassa no Estado. Numa palavra, cortar despesa e não - como mais uma vez é feito - aumentar as receitas à nossa custa.
Neste aspecto, Sócrates fez o caminho mais simples. Fez exactamente o contrário do que disse, mas também a isso já nos habituámos. Exigiu-nos que pagássemos o défice que ele, e outros antes dele, nunca tiveram a coragem de resolver.
Texto recebido por e-mail de Maria João F
NOTA: Mas há muitos, das simpatias dos detentores do Poder, que ganham «pipas de massa», que recebem prémios sem se saber porquê, que recebem indemnizações por se despedirem em vez de pagarem penalizações por falta de resultados e por poucas vergonhas. E há também deputados e assessores em quantidade exagerada. E há ricos a ver perdoadas dívidas fiscais, e a continuarem a usar ‘off-shores’ para fuga aos impostos, etc, etc. É muito difícil ser obrigado a apertar o cinto para salvar a Pátria colocada em perigo por tais ricos.
sexta-feira, 19 de março de 2010
Para salvar a Pátria
Publicada por A. João Soares à(s) 21:01
Etiquetas: injustiça social, pobreza
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3 comentários:
Caro João,
A propósito deste post e do post que coloquei na Tulha com as declarações de Manuel Alegre comentei:Segundo ele (MA) "Falar mas nada dizendo, pronunciar-se mas nada propondo ou intervir mas nada acrescentando é um exxercício vazio ou nulo de propósito."
Ora depois destas palavras estava à espera que propuzesse reduções no número de deputados, ministros, secretários de estado, assessores, gestores públicos etc., etc., reduções nos salários e "mordomias" da "nomenclatura" ( deputados, gestores públicos, etc.), as reformas só entrarem em vigor quando as pessoas atinjam a idade dos 65 ou 70 anos e nunca antes, contenção nos prémios de produtividade que actualmente atingem valores astronómicos e outras disposições do mesmo tipo que pelo bom exemplo dariam a todo o mundo razões para pensar que ali estava Alguém de Bem mas não, ficou-se "por falar mas nada dizendo"! Assim lembrou-me o provérbio: "Diz o roto ao nu porque não te vestes tu?"...
Salvar a Pátria aumentando impostos só desta "gente" pois não querem perder as "mordomias" a que se alcandoraram sem saber ler nem escrever!!!
Um abraço amigo e solidário.
Caro Luís,
Temos que ser compreensivos. O Manuel Alegre, tal como a maioria dos outros políticos e, agora, até os juízes, sentem uma tentação irresistível de falar para terem notoriedade e visibilidade. Os políticos têm que falar, para colher votos para as eleições a que concorrem. E não entram em factos concretos, ocultam o mais importante para os portugueses porque receiam as verdades que são funestas para eles e os seus cúmplices. Não falam dos salários e reformas 'chorudos', dos prémios de «produtividade» mesmo que as empresas, os institutos ou outros organismos tenham prejuízos ou maus desempenhos. E, no caso do MA, além da reforma da RTP e da AR, como estas coisas são como as cerejas acabava-se por falar da sua acção 'patriótica' em Argel que contribuiu para a morte de muitos portugueses que tinham sido obrigados a ir combater no Ultramar, para defender a Pátria.
Caro Luís, os políticos usam a palavra da forma mais habilidosa para seu benefício próprio!!!
Eles consideram-se a Pátria e o povo é pisado por eles tal como a relva dos estádios pelos jogadores.
Um abraço
João
O artigo seguinte tem interesse:
Alguém tem de pagar
http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentid=2D857C7F-93EF-4216-B778-90DE80A9C74E&channelid=00000093-0000-0000-0000-000000000093
Correio da Manhã
21 Março 2010 - 00h30. por Armando Esteves Pereira, Director-Adjunto
O PEC significa más notícias para milhões de portugueses. Tira apoios sociais, aumenta impostos para 3,5 milhões de pessoas e privatiza mais empresas. A classe média é o alvo de uma pressão fiscal nunca antes vista.
As famílias vão perder poder de compra e pagar mais impostos. Obviamente ninguém gosta deste plano de austeridade. Alegadamente até no próprio Governo há ministros que criticam o programa de Teixeira dos Santos. O problema é que governar é difícil, e Portugal tem mesmo de seguir um rigoroso e doloroso plano de austeridade, porque se não o fizer em dois anos está como a Grécia de hoje. Sem credibilidade externa e a pagar fortunas pelos juros da dívida e com o risco de não conseguir mais crédito. Pode--se dizer que aplicar o PEC é um trabalho sujo, mas alguém tem deo fazer.
Com o PEC, o Governo assume pela primeira vez que a festa das promessas faraónicas acabou. O PEC mostra a dura realidade de um país com uma economia anémica, que gasta mais do que aquilo que produz. Em suma, um país pobre e endividado que vive acima das suas possibilidades. Era inevitável que isto acabasse num desastre.
Antes da entrada no euro Portugal disfarçava as fragilidades com a desvalorização do escudo. Agora temos a mesma moeda dos alemães, mas com produtividade marroquina.
NOTA: Mas os poderosos, cúmplices do Poder, passam incólumes continuando a amontoar fortunas. E, assim, aumenta a injustiça social.
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