Há poucos anos, um grande estratega da época dizia, por outras palavras, que é preciso esperar que o capim cresça e seque e, então, basta um fósforo para incendiar toda a savana. Ontem um companheiro de almoço dizia que o Bush foi vítima de uma campanha, de dimensões desproporcionadas, demolidora e injusta. E houve quem respondesse que ele foi o pólo aglutinador de muitos efeitos de desagrado (o capim a crescer e a secar).
O mal de muitos pensadores políticos e estratégicos actuais é pecarem muitas vezes por se deixarem obcecar por interesses privados ou de grupos, parcelares, aparentemente efémeros e não procurarem descortinar o provável efeito final proveniente da conciliação, do somatório de efeitos de pequenos desagrados generalizados que podem criar uma situação explosiva quando aparecer o tal fósforo que faz arder toda a savana.
A falta de visão a longo prazo e a concentração sobre aspectos marginais do curto prazo ou do imediato, é um dos defeitos mais graves dos políticos actuais, de que um dos mais visíveis resultados é o desprezo pela ética e a falta de escrúpulos de o declararem em público.
Embora este blogue não esteja vocacionado para casos isolados, mas apenas para reflectir nos conceitos e na sua concretização ou no seu atropelo em relação aos interesses nacionais, foi aqui publicado o post «Liberdade de expressão em perigo» por ser vista ali uma perspectiva do germe de um problema significativo. Um comentador anónimo que se declarou fanaticamente apoiante de Sócrates, parece ter tido essa visão, só lhe faltando capacidade de alertar os detentores do poder para encararem o problema da melhor forma a fim de o esvaziarem antes de atingir perigo de explosão.
Nada foi feito com visão de longo prazo, pelo menos até depois das eleições e eis que, depois de José Alberto Moniz ter saído do seu cargo, sai agora a Manuela Moura Guedes, o que faz lembrar o perigo de ocorrer algo parecido com o que decorre na Venezuela de Hugo Chávez, amigo de afectos de Sócrates.
Manuel António Pina, no JN, usa do seu estilo irónico e perspicaz para dar uma explicação «oficial» do caso, no artigo
Outra "cabala"
Nunca vi o tão falado "Jornal Nacional" das sextas e agora, depois da decisão da Administração da TVI de acabar com ele, fico com a impressão de que perdi alguma coisa. Porque quando uma empresa privada, que supostamente produz tendo em vista o lucro, retira do mercado o seu produto mais vendável (o "Jornal Nacional" era líder absoluto de audiências), das duas uma: ou o lucro afinal não lhe interessa ou a coisa envolve algum negócio ainda mais lucrativo.
E há-de ter sido um negócio dos chorudos porque tudo sugere que, de caminho, a Administração da TVI tenha vendido também a hipótese de vitória do PS nas próximas eleições. Com efeito, do que o PS nesta altura menos precisava era da suspeita de estar por detrás (coisa que toda a gente sabe que seria incapaz de fazer) da bolivariana medida. O que aconteceu foi uma cabala, desta vez dos socialistas espanhóis da Prisa, feitos com o PSD, contra o PS, a sua credibilidade democrática e o seu respeito pela liberdade de informação. Eu, se fosse a Sócrates (que tanto contava com o "Jornal Nacional" para ganhar as eleições), cassava-lhes já a licença.
NOTA: Só me apetece um curto comentário, também com humor a tentar imitar o falecido Solnado, «Tá-se mesmo a ver, não tá-se?». A lógica é como o algodão: não engana ninguém…
E a justificar a imagem do fósforo e da savana, deixo aqui alguns links da imprensa de hoje, por ordem alfabética para evitar insinuações:
Administração da TVI reitera "independência, rigor e profissionalismo"
BE compara cancelamento do Jornal Nacional a afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa
Cancelamento do Jornal Nacional de Sexta na imprensa internacional
"Comigo, o Jornal de Sexta nunca teria existido", diz Paes do Amaral
Decisão de afastar Manuela Moura Guedes partiu de Lisboa, garante a Prisa
Dona da TVI necessita de injecção de capital e pondera vendas
Impresa dispara mais de sete por cento em bolsa com demissões na TVI
Intervir nas notícias é inconstitucional
José Eduardo Moniz diz que “há um cerco à liberdade de informação”
Manuela Moura Guedes: "Não sou uma alforreca"
Manuela Moura Guedes: "Temos pronta uma peça sobre o Freeport"
Manuela sai mas deixa peça para hoje
Marcelo saiu da TVI por pressão
Miguel Pais do Amaral: "Comigo, o Jornal de Sexta nunca teria existido"
Moniz: "Desespero leva as pessoas a fazer coisas irreflectidas"
Moura Guedes afastada por dono da Prisa
O homem verdadeiramente forte da TVI
Oposição acusa PS... e PS exige explicações
Outra "cabala"
PCP atribui suspensão do Jornal da TVI ao incómodo do Governo e Sócrates
Portas atribui “censura” do Jornal Nacional a "ordem socialista"
Prisa nega interferência no fim do Jornal de Sexta, Sócrates admite prejuízo para o PS
Prisa remete qualquer comentário sobre Jornal Nacional para Media Capital
Redacção da TVI repudia suspensão do Jornal Nacional
Santos Silva desafia TVI a explicar decisão e a pôr no ar notícia sobre Freeport
Sócrates nega ter tido alguma influência na suspensão da emissão do Jornal Nacional de 6ª feira
Sócrates nega pressões, mas teme efeito eleitoral
Suspeita eleitoralista
TVI: Aguiar-Branco afirma que "Portugal e a democracia estão de luto”
TVI: ERC decide abertura "imediata" de processo de averiguações
TVI: Ferreira Leite está “preocupada” mas prefere comentar caso quando regressar a Lisboa
TVI: Sindicato dos Jornalistas recebe com “repulsa” a “ingerência ilegítima” da administração
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
TVI caso actual que contagia o futuro
Publicada por A. João Soares à(s) 17:12
Etiquetas: ética, liberdade, TVI, visão estratégica
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1 comentário:
Amigo João,
Faço minhas as tuas palavras. Espero que estas atitudes alertem os Portugueses para os perigos que vivemos!
ALERTA SEMPRE!
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