A poucos dias das eleições legislativas, surgem alguns pontos que merecem ser profundamente meditados. No meio de muitas mentiras, saem verdades daquelas que eles só dizem quando estão muito «pedrados». Como é o exemplo da ética do Maquiavel e da afirmação de que a ética e a política são coisas inconciliáveis.
E há um ponto muito curioso em que só Mário Soares tocou ao de leve. É a importância do BE na formação de Governo. Tal referência ao BE mostra muita sabedoria da velha raposa.
Se as sondagens não errarem muito, no próximo domingo, o partido que obterá mais votos será um dos dois maiores – PS ou PSD – mas o mais beneficiado será o terceiro classificado – BE – porque será ele que decidirá quem será o PM, que poderá ser eventualmente de um partido que não tenha sido o mais votado.
A democracia tem destas coisas.
Com efeito, para um governo poder governar terá de ter um programa aprovado pela AR. E como nenhuma dos partidos obterá maioria absoluta de deputados no hemiciclo (repito: se as sondagens não errarem muito), o BE será o partido indispensável para dar ao PS ou ao PSD a maioria de votos para a aprovação do programa de governo, mesmo que um ou o outro ainda possam precisar de votos da CDU ou do CDS.
Ora o BE está nas mãos de gente inteligente para saber negociar esse apoio e cobrar bem por esse trabalho, ficando com a possibilidade de escolher a qual dos grandes cobrará mais contrapartidas.
Ironia da democracia!!! O poder para formar governo depende mais do terceiro classificado do que do 1º ou do 2º. É isso que leva bons analistas a prever que teremos eleições dentro de menos de 4 anos. Já imaginaram o que seria Louçã só dar apoio se fosse ele o PM??? Mas que vai exigir algumas pastas para os seus é absolutamente previsível, por ser lógico.
Esta hipótese só deixa de ser lógica se PS e PSD se aliarem e formarem o «centrão» ou se o BE não tiver tantos votos como as sondagens indiciam e o vencedor puder obter a aprovação do programa através de negociação com um dos partidos menores. A incógnita mantém-se até ao fim. Mas que há cenários curiosos, há!!!
A. João Soares
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