Ao ler o artigo de João César das Neves «O terrível erro estratégico» que recomendo aos leitores, ressaltou-me um pequeno trecho que aqui trago porque não pode ser ignorado pelos responsáveis e pelos que sofrem as consequências das decisões.
Diz o autor que, com as obras faraónicas que não trazem benefícios na actividade económica, o Governo compromete a solidez estrutural das contas públicas e, tal como Guterres, irá bloquear com dívidas o próximo surto de crescimento económico.
O erro económico de José Sócrates está em acreditar que o investimento público é bom em si mesmo. O primeiro-ministro demonstra uma fé cega na virtualidade imperativa dos projectos: basta anunciá-los e gastar dinheiro para a economia arrancar. Esquece que todo o dinheiro que gasta vai tirá-lo ao bolso dos contribuintes. Tal como o investimento privado, os projectos do Estado têm de ter utilidade e justificação. Aliás até têm de ter mais, pois usam o dinheiro dos pobres. Apostar milhões em obras faraónicas nunca resolveu nenhuma crise.
Não quero ser longo para que a atenção se concentre nestas poucas palavras. Os interessados podem seguir o link para ir ao texto completo. E a quem queira ter uma ideia de como estes erros se podem evitar sugiro a visita ao post «Pensar antes de decidir».
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Estratégia é olhar para depois de amanhã
Publicada por A. João Soares à(s) 07:08
Etiquetas: dinheiro público, gestão pública, pensar antes de decidir
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6 comentários:
Caro João,
Concordo inteiramente com o exposto na totalidade do artigo. Só que infelizmente a teimosia e a cegueira dos (des)governantes não permitirá inverter os disparates que "estão na calha" para "mostrar serviço". E que mau serviço vão prestar ao País!!!!
Caro Luís,
Aqui nem se trata de partidarismo, trata-se de total falta de bom senso, de sentido de Estado, de respeito pelos interesses nacionais e pelo dinheiro dos contribuintes. Se para criar emprego se constroem monstros inúteis que não irão dinamizar a economia para benefício da Nação (conjunto das pessoas portuguesas), então mais vale deixar os trabalhadores em casa e enviar-lhes o salário!
É um apelo ao bom senso das decisões que se dirige o post Pensar antes de decidir. Um Governo não pode dispor do dinheiro do povo por capricho ou para ostentar aquilo que não existe e faz falta em sectores mais necessitados. Não foi para isso que os eleitores votaram nele.
Um abraço
João Soares
Um artigo simplesmente fabuloso!
Um familiar meu costuma dizer que os portugueses somos uns "maria-vai-com-as-outras", por outras palavras: uns carneirinhos bem mandados. E ai está Sócrates para o provar! Vai atrás da conjuntura actual de endividamento e investimento público, mas vai mal! Pelo menos que nos endividemos com algo útil e prático.
Mais uma vez fica provado que quem nos lidera não deve ser grande amigo da ponderação e da reflexão.
Caro AP,
A sua frase «Mais uma vez fica provado que quem nos lidera não deve ser grande amigo da ponderação e da reflexão.»
resume o grande problema do nosso País e que resulta do recrutamento dos políticos.
Não se compreende que, sendo a função de governança tão complexa, ninguém se preocupe em obter preparação académica adequada. Entra-se na política muitas vezes por dificuldades nos estudos e para arranjar um «emprego» bem remunerado e pouco trabalhoso, sem responsabilidades, com impunidades e imunidades e, depois, com todas as carências de saber resultantes desse começo, seguem a carreira, podendo chegar ao topo dos governos. Hoje qualquer um pode ser político desde que conquiste a amizade de um político ou seu familiar.
Outro problema grave é os partidos e a AR estarem nas mãos de gente da área do Direito, faltando engenheiros, gestores, médicos, professores, etc., pessoas que dariam aos actos de governança a solidez de conhecimento do País real, actual e voltado para o futuro. Os do Direito estão habituados ao passado, a leis feitas noutra época para resolver problemas que já eram antigos e aprimoram-se no uso das palavras e dos argumentos para convencerem os juízes. Mas não estão vocacionados para a estratégia de preparação de decisões para o futuro.
Como diz, falta aos políticos a ponderação, a reflexão, um esforço de previsão que perita tomar as melhores decisões para depois de amanhã. Parecem macaquinhos num circo em que ouvem chamamentos de todos os lados e sentem a indecisão de saber que fazer. Acabam por tomar decisões ao acaso que, para pior, teimam em manter contra tudo e todos.
Assim, o futuro vai ser terrível porque entretanto gastam-se os últimos recursos inutilmente.
Se alguém me oferecesse metade do preço de um Ferrari, eu não comprava, porque é que o Governo «compra» o TGV Lisboa-Porto se ele não vai trazer benefício proporcional à economia e ao bem-estar dos portugueses?
Mas... alguém irá ganhar com isso!!!
Abraço
João Soares
Caro João,
As suas sábias palavras fazem-me recordar o Professor Henry Mintzberg quando ataca os MBA´s, ao afirmar que este diploma forma as pessoas erradas, da forma errada e com consequências erradas, já que coloca a gerir e a liderar pessoas que nunca geriram na vida. Saltam da cadeira da Universidade para a Administração das grandes empresas. O mesmo se passa com os nossos políticos. Como é possível alguém liderar o Ministério da Educação nunca tendo sido professor? Ou o das obras públicas nunca tendo exercido gestão ou eng.? Ou o da Justiça nunca tendo sido advogado ou juiz? Ou da economia nunca tendo ensinado ou exercido economia? E por aí fora...
O resultado está à vista.
Ora se um bom gestor e um bom líder levam anos a "fazer", porque é que em Portugal os políticos são instantâneos e na sua maioria nunca tiveram outra profissão conhecida?!
Caro AP,
Na política há dois pólos extremos, mas em nenhum deles há pessoas com experiência do mundo real, salvo eventuais excepções. Num extremo há os professores universitários que não têm dado boa imagem do seu saber nas lides da governança. No outro há ignorantes que calcorrearam a «carreira» política pelo braço de amigos e com os seus favores conseguiram diploma académico , mas que como lhes falta sensibilidade e experiência para as realidades da economia e dos sectores sociais e outros, não são grande trunfo.
E assim vai um País e os seus habitantes.
E o povo vota numa lista abstracta que em pouco corresponde aos governantes que depois vai ter de aturar.
Um abraço
João Soares
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