O assunto do artigo «Direitos humanos: China pede a Washington para parar de dar lições» merece ser devidamente ponderado pelos diplomatas e pelos que pensam um pouco sobre os aspectos que podem influenciar a paz mundial e a felicidade dos povos.
O Departamento de Estado Americano no seu relatório anual sobre o estado dos direitos humanos, o primeiro da Administração de Barack Obama, promete dar o exemplo e aponta o dedo às violações registadas na China, Irão ou Rússia. A China reagiu de imediato, pedindo aos Estados Unidos para pararem de se apresentar como guardiões dos direitos humanos no mundo.
“Pedimos aos EUA que se ocupem dos seus próprios problemas de direitos humanos e que parem de se considerar guardiães dos direitos humanos”, declarou esta manhã à imprensa o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ma Zhaoxu.
“Neste 30 anos, a China experimentou um forte crescimento económico e realizou progressos democráticos constantes e protege plenamente a liberdade religiosa”, assegurou ainda o porta-voz, citado pela AFP. “Os grupos étnicos gozam dos seus direitos e da sua liberdade” na China, acrescentou. “O mundo inteiro sabe isso.”
Porém, o relatório americano, publicado quarta-feira à tarde, sublinha violações das liberdades individuais na China. “O balanço do Governo chinês no que respeita aos direitos humanos continuou mau e agravou-se em certas regiões”, citando em particular “a repressão das minorias étnicas na região autónoma uigure e no Tibete”. Washington denuncia ainda as “eliminações e torturas” infligidas aos opositores e as perseguições sofridas pelos dissidentes, defensores dos direitos humanos e os seus advogados, nomeadamente no período dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Compreende-se que a China, candidata a grande potência mundial e senhora de uma história milenar de poder hegemónico na Ásia e no Extremo Oriente, o Império do Meio, tem características civilizacionais próprias e não gosta de ser apontada como em situação inferior seja em que aspecto for. Por outro lado, a América não será bem vista se continuar a assumir um papel de polícia do mundo.
Mas o mundo que se considera mais civilizado não resiste à tentação de exigir condições mais humanas quanto aos direitos humanos e, dada a globalização da economia, muitos países asiáticos, com salários de miséria e horários de trabalho muito alargados, bem como o trabalho infantil, constituem uma concorrência desleal que, se não for moderada, arruinará os produtores do mundo Ocidental.
Haverá, por isso, que, de forma adequada, convencer esses países a usarem de métodos semelhantes aos restantes membros das Nações Unidas, por forma a construir-se um ambiente internacional de concorrência sã, em clima de confiança, compreensão e cooperação, para bem das populações de todos os continentes.
O regresso de Seguro
Há 27 minutos
4 comentários:
Mais uma vez se prova que a China é a maior potência mundial. Os Estados Unidos, como segundos, ainda se julgam primeiros. Mas afinal, quem desafia quem ? Não é a China que intervem no Iraque ou Afgnanistão, não tem Guantanamo, não tem problemas de terrorismos.
Os direitos humanos ? Conceito muito relativo, sem dúvida...
A minha grande questão é um pouco diferente, e contorna a ideia do seu post:
O mundo precisa de um polícia ? E se a resposta for sim, quem deve ser o policia ? E se existir esse policia, como garantir que ele seja respeitado e obedecido ?
Resposta óbvia: As Naçoes Unidas...
Pois... mas quem é que imagina as Naçoes Unidas a impôr o que quer que seja à China ? E mais caricato ainda... quem é que acredita que a China acataria essa autoridade ?
Pessoalmente, sou céptico.
Caro Entremares,
Vejo que deposita muita fé nas NU. A organização apenas tem funcionado em problemas de saúde e de apoio a refugiados e, mesmo assim, com falhas graves.
O CS não funciona, apenas fazendo uns papéis com «condenações» platónicas, como contra a Somália, o Sudão e o caso de Darfur, etc. Prometeram um referendo para a Caxemira há 60 anos e ainda não foi encontrada uma solução para o território nem o referendo foi feito. Somália, Zimbabwe, Myanmar (Birmânia)Israel-Palestina continuam a matar-se sem a ONU fazer algo definitivo.
Não há polícia do mundo e, se houver, como o Clube Bilderberg pretende, não será para bem das populações mais desfavorecidas.
O Ocidente industrializado não gosta do desrespeito dos direitos humanos na Ásia, por causa do problema económico: a mão de obra mais barata deles rebenta com toda a indústria ocidental e deixa de haver trabalho, sendo o desemprego uma ameaça terrível. Não se trata de compaixão pelos pobres chineses, indianos ou taiwanes.
Um abraço
João Soares
Caro João,
Se o Clube Bilderberg pretende uma polícia será unicamente para impôr a sua política e essa já nós sabemos que não interessa nem ao "Menino Jesus"! Considero ser uma UTOPIA algum país arrogar-se a ser "Polícia do Mundo" pois todos têm pôdres que por muito escondidos não deixam de ser conhecidos.Portanto não têm moral para o fazer!
Caro Luís,
Realmente, como cada País tem as suas tradições e formas de vida, cada um deveria resolver os problemas sociais da forma mais adequada á sua população. Mas numa época de globalização da economia e dos sistemas financeiros, a concorrência merece sérios cuidados, para evitar que a mão-de-obra demasiado barata e explorada crie condições concorrenciais que destruam a economia dos outros Estados. Tudo está relacionado e os Estados têm necessidade de se controlarem entre si.
A actual crise foi originada por falta de controlos rigorosos e generalizados nas operações financeiras o que levou a especulações e actividades menos honestas que colocaram todo o mundo em crise. Simplificando: o civismo é indispensável a todos os níveis, sendo a sua falta mais grave nos mais altos escalões.
Não parece sensato pensar numa polícia mundial. Nem os EUA, nem outro Estado, nem a ONU que é inoperante como se tem visto, podem assumir um tal papel.
É urgente que os diplomatas passem a ir além da diplomacia do copo e do croquete! É preciso que discutam valores éticos e sociais e chamem a atenção dos parceiros para estes problemas. É um papel de todos e de cada um.
Há que acabar com a estratégia dos canhões e se passe a utilizar uma diplomacia eficaz, consistente e convincente. Para isso é preciso seleccionar e preparar bem os seus agentes, os diplomatas de todos os escalões para intervirem de forma activa e bem orientada, no culto dos valores, na economia e nas finanças.
Um abraço
João Soares
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