quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Portugal vai ressurgir!!!

A forma como o Hino Nacional é sentido pelas pessoas merece reparos parecidos com os do Pai Nosso. Nem todos o cantam ou rezam, mas muitos dos que papagueiam as suas palavras não meditam nas ideias por elas expressas.

A frase «levantai hoje de novo o esplendor de Portugal» não está devidamente interiorizada pela grande maioria dos portugueses nem, o que é mais preocupante, pela generalidade dos representantes políticos.

Mas já surgem novos sóis a despontar no horizonte

No artigo do Público, «Dura lex sed lex?», Maria José Nogueira Pinto, faz um diagnóstico , que embora não sendo original, diz que «na nossa tradição portuguesa é conhecida a febre legislativa que tem conduzido a leis mal pensadas e pior redigidas. Ora uma má lei é pior que lei nenhuma e uma lei repleta de contradições, omissões e lacunas vai perdendo os fundamentos e os objectivos que a justificaram, de excepção em excepção, transformando-se num mero articulado que todos querem furar»

Já há quase um ano, Cavaco Silva disse que "não é bom que o legislador crie leis que geram expectativas nas populações e depois constata-se que não consegue dar cumprimento àquilo que legislou". No mesmo jornal a deputada do PS Maria Antónia Almeida Santos disse que «é importante haver uma lei que seja efectivamente para cumprir".

É curioso que entidades diferentes em locais distintos e de forma bem significativa, reconheçam a doença dos políticos legislarem para vaidade própria sem terem em atenção a viabilidade do cumprimento das leis que dão à luz. Esse vício insensato cria a descredibilização da política. As leis devem ser cumpríveis.

Não faltam diagnósticos de que existe doença e é preciso aplicar a devida terapia. Vejamos alguns sinais de que ela poderá estar a caminho.

Começo pela notícia de que « MP arquivou queixa de José Sócrates contra o autor do blogue Do Portugal Profundo», por as procuradoras considerarem «que escritos de António Balbino "se inscrevem no exercício do direito de crítica" e Sócrates queixara-se de ofensa pessoal e política. Isto demonstra que a Justiça está independente de eventuais pressões ocultas da parte do Poder, o que é um bom sintoma.

Segundo o artigo «O negócio das ideias», Rui Rio não faz ideia do que há-de fazer com o património municipal, e decide abrir um concurso de ideias (para o Bolhão, para o Ferreira Borges, para isto e aquilo). Há que reconhecer a sua lucidez, sabendo de quem está rodeado, arranjou uma solução engenhosa. Sairia muito mais caro à cidade se a vereação desatasse a pensar pela sua cabeça e a ter ideias de que resultassem mamarrachos disformes para cedo terem de ser demolidos, do que Rui Rio mandar comprá-las fora.

Um outro sintoma de mudança aparece na bancada parlamentar do PSD que recorre à assessoria que a agência de comunicação Cunha Vaz e Associados (CV&A) vai passar a dar ao grupo parlamentar do partido. Realmente, com o recurso a consultores da «classe civil» para suprir a incapacidade dos responsáveis políticos, apesar de profusamente assessorados, começa a sentir-se a aproximação do momento em que se fará a redução dos órgãos do Estado e das Autarquias à expressão mais simples e contratar um mínimo de consultores devidamente seleccionados em concursos, em função da sua competência já comprovada, da sua isenção imparcialidade, honestidade e rigor. Certamente, com um contrato por tarefas bem especificadas em que o objectivo seja servir Portugal e os portugueses, ficaremos melhor servidos e não teremos as leis «mal pensadas e pior redigidas» nem as Autarquias terão pessoal inútil que tenha de ser suprido por «concursos de ideias» ou por contratos de assessoria.

Além desta réstia de esperança num futuro melhor, há uma outra que muito me agradou. Alimentava uma ligeira fé que na geração das actuais crianças de 10 anos apareça meia dúzia de superdotados que se insurjam contra a herança podre que recebem dos pais e avós, dêem um ponta-pé no sistema e avancem segundo um rumo que conduza a objectivos mais consentâneos com o desenvolvimento do bem-estar e do poder de compra da população.

Essa fé parece ter sido ultrapassada e parece não ser preciso esperar tanto tempo para que se levante de novo o esplendor de Portugal. Segundo a notícia «100 jovens querem desenvolver o país», uma centena de empreendedores de várias áreas, com menos de 45 anos, e que não pretende ser mera "espectadora de Portugal", vai apresentar um documento com as "opções de uma geração" para o futuro do país. "Não se trata de um movimento contra nenhum Governo, mas de uma geração que se recusa a aceitar tranquilamente as escolhas de outros». «É uma geração que herdou da geração anterior a democracia e a integração no espaço europeu, mas entende que isso hoje não basta e é preciso outro tipo de exigência." "Não é um ponto de chegada, mas de partida", será uma tomada de posição de uma geração "que não se revê num Portugal sentado de mão estendida para Bruxelas, à espera de um cheque para resolver os problemas". "Devemos ser actores, não espectadores".

O País precisa de inteligências, com boa vontade e honestidade que definam objectivos e programem a acções que a eles conduzam, com metas bem fixadas e resultados quantificados sem fantasias e combatam as iniquidades, corrupções e desperdícios de recursos. Só uma organização eficiente servida por pessoas motivadas para a criatividade, a produtividade e o rigor, se consegue a competitividade que traz o prestígio de que necessitamos. Esse prestígio que desejamos e não temos não se consegue com corridinhas na Praça Tianmen ou nos jardins da Casa Branca. Essas manifestações não passam de vaidade infantil com ambição de visibilidade. O verdadeiro valor dum País e a sua melhor imagem assentam em valores muito mais elevados.

8 comentários:

São disse...

O patriotismo e a religião , por vezes, são só fachada, meu caro!
Abraço.

A. João Soares disse...

São,
Mas acha mesmo que Portugal vai ressurgir? Acha que os sintomas referidos indiciam mudanças próximas?

O seguinte artigo do Público de hoje esclarece um pouco a dúvida expressa por estas perguntas.

Contestação à "arrogância" do Governo cresce no PS
Público. 25.01.2008,
Leonete Botelho

Para uns, foi a reunião "mais complicada" dos últimos tempos; para outros, apenas uma reunião "viva e participada", como "é timbre do PS". Certo é que no grupo parlamentar socialista ouviram-se ontem fortes críticas à actuação do Governo, ou pelo menos de alguns sectores do executivo.

A crítica é recorrente e prende-se com a acusação de falta de diálogo entre ministros e o grupo parlamentar sobre políticas difíceis e de grande impacto público. Mas ontem, subiu de tom, com os ministros da educação e da saúde a serem acusados de falta de espírito democrático e de arrogância pela forma como lidam com os deputados e os cidadãos.

Dois dos protagonistas foram Luís Fagundes Duarte e Teresa Portugal, ambos da comissão parlamentar de educação, que na véspera tinha reunido com a ministra Maria de Lurdes Rodrigues. A reunião prendia-se com a análise de dois decretos-leis que, como instrumento legislativo do Governo, não passaram pelo Parlamento: o da avaliação dos professores (publicado) e o da gestão das escolas (em discussão pública).

Os deputados quiseram, ainda assim, analisar os dois, na medida em que têm recebido muitas contribuições e queixas de cidadãos e professores. Mas a reunião não terá corrido bem e acabou com acusações mútuas: a equipa do ministério considerou que os deputados estavam a dar voz a "professorzecos", enquanto estes lembraram os governantes de que só estavam no Governo porque existia a maioria parlamentar.

O mal-estar transbordou para a reunião da bancada depois de um vice-presidente ter feito um reparo quanto ao elevado número de declarações de voto entre os socialistas na votação da lei eleitoral autárquica. E depois de Maria de Belém ter levantado a voz contra a falta de consideração do ministro Correia de Campos pelos parlamentares. Mas também se ouviram vozes apaziguadoras. E o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, acabou por ser elogiado como um bom exemplo de articulação entre o Governo e o grupo parlamentar.

Abraço

José Lopes disse...

Os valores mais elevados têm pouca hipótese de vingar enquanto uma classe política de má qualidade e alapada no poder, não se afastar, ou for afastada. Duvido da possibilidade de renovação dos nossos partidos políticos, organizados em função do poder e dos interesses instalados.
Cumps

Victor Nogueira disse...

Viva
Retribuo a tua visita. Sobre o Hino Nacional uma «letra» que além de não ser pacifista, estava em contradição com a Constituição de 1976, que já foi mandada às malvas. Mas assim como na 1ª República se transformou o «contra os bretões, marchar, marchar» em «contra os canhões, marchar, marchar», este estribilho deveria ter passado a ser «contra os patrões, marchar, marchar». Agora, com o Tratado de Lisboa a mudança deixou de ser possível.
Como fazes para que as notícias surjam apenas com o início?
Abraço
VN

Oliver Pickwick disse...

O pior, prezado João Soares, é que tem alguns que sequer sabem papagaiar, ficam de boca fechada mesmo.
Não é apenas no seu país, mas esses valores - obrigatórios a meu ver, estão desaparecendo a cada dia. Aqui, no Brasil, também não é exceção.
Obrigado pela visita lá no condado.
Abraços, e ótima fim de semana!

A. João Soares disse...

Guardião,
Tem razão. Mas não podemos perder a esperança. Os políticos, tal como estão a funcionar, limitando-se à luta pelo Poder, alimentando tricas entre si, e a serem centros de emprego para os jovens da confraria, estão condenados à ineficiência, como ficou demonstrado nas eleições autárquicas em que muitos votos foram para candidatos independentes, à margem e em conflito com os seus partidos, chegando a dar a vitória aos de Oeiras, Gondomar e Felgueiras e quase nas intercalares de Lisboa.
Agora já há demasiados desentendimentos dentro dos partidos, até no do Governo, o que é muito sintomático.
E estão a surgir grupos de pensadores, e a iniciativa de 100 jovens empresários que pretendem fazer ressurgir Portugal.
Para haver um futuro melhor é indispensável que cada Português tenha uma vontade séria de o construir dentro das suas possibilidades e, para começar, é preciso estar informado e criticar e pensar em novos rumos para haver ressurreição, para haver restauração (já houve a de 1640).
Está nas nossas mãos. Não devemos ficar parados e espera que outros nos venham trazer a casa o vigésimo premiado.
Um abraço

A. João Soares disse...

Victor Nogueira,
O hino nacional tem uma data. O francês é mais belicista do que o nosso.
Mas enquanto não for mudado deve ser o nosso guia, embora lhe demos o melhor entendimento, para ser útil. E há frases como a citada que é, oportuna para orientar o esforço dos portugueses, hoje tão desprendidos de valores e tão agarrados aos seus interesses mais mesquinhos e transitórios.
Temos que ter esperança e fazer por ela, como disse no comentário anterior.
Abraço

A. João Soares disse...

Oliver Pickwik,
Creio que em todo o Mundo Ocidental é evidente este fenómeno de as pessoas estarem enojadas da política de baixa qualidade e não quererem meter-se nela. Mas, com isso, deixam que gente mal intencionada e mal preparada se apodere do Poder para seu benefício pessoal e da sua confraria e degrade as condições de vida e de felicidade da população. Há que reagir antes do caos final para que estamos a caminhar a passo demasiado rápido.
Nos comentários anteriores deixei ideias que julgo merecerem ser aprofundadas e colocadas em prática, sem demoras.
Um abraço