As palavras são empregues muitas vezes sem ser tomado em devida conta o seu significado. Dizer que Portugal, pelo simples facto de ter sol e praias, é um País de turismo, não parece uma afirmação correcta. Que espécies de turismo: científico, religioso, desportivo, cultural? Que pólos de atracção existem por todo o rectângulo para cativar quantidades de visitantes com poder de compra?
No Público de hoje, vem o artigo de Maria Antónia Zacarias, com o título «Património rural e arquitectónico do Alentejo está esquecido». Mas, infelizmente, pelo interior do Portugal Profundo, encontramos muito outro património arqueológico, arquitectónico, cultural, em que é de salientar a quantidade de antigas fortificações ao longo da fronteira das Beiras, Trás-os- Montes e Minho, bem como de património arquitectónico propriamente rural de que fazem parte pontes, fornos, adegas, chaminés, estábulos, moinhos, fontes e celeiros, entre outros tipos de construções rurais, como as pequenas oficinas de alfaias agrícolas.
Como a autora do artigo diz, «há imensos recursos que podem ser aproveitados para desenvolver as condições sócio-económicas das populações transfronteiriças». Mas as ruínas são a imagem mais visível, evidenciando um desprezo que nada nos valoriza aos olhos de qualquer turista com apreço pelos aspectos culturais.
É urgente elaborar um guia que seja ser um verdadeiro e rigoroso inventário do património,de todos os recursos arqueológicos, arquitectónicos e rurais e com identificação precisa dos que necessitam de intervenções urgentes e, depois, proceder a contactos com as agências turísticas para a sua integração em rotas que os valorizem aos olhos dos interessados.
Há actividades regionais, artesanais, culturais que seriam valorizadas e contribuiriam para o desenvolvimento sócio-económico-cultural das populações locais. O investimento que se faça neste sentido, valorizando, recuperando e conservando tal património, pode não ter efeitos imediatamente visíveis, mas, a médio e longo prazo, traz dividendos ao conjunto do País. E, então, poderá dizer-se que somos um País de Turismo.
Mas é preciso que as autoridades locais e centrais se consciencializem de que se deve começar por chamar a atenção para o mau estado de conservação em que se encontra grande parte do património.
É de esperar que se inicie uma linha de investigação e valorização do património arquitectónico regional, como contributo para o desenvolvimento social, económico e turístico das zonas rurais e para reforçar os elementos de identidade da população. Não posso deixar de referir uma campanha de divulgação das antas, dólmans ou orcas da Beira Alta, levada a cabo pelo blogue AquidAlgodres a que outros da região se associaram. Iniciativas deste género são um contributo interessante para dar a conhecer as riquezas de uma região e atrair turistas culturais.
A Necrose do Frelimo
Há 4 horas
2 comentários:
Eu até já tenho dúvidas se Portugal é um país...
Boa semana!
São,
Parece que, se analisarmos as palavras dos políticos, talvez cheguemos a uma de duas conclusões:
1. Portugal é apenas uma faixa litoral de 40 Km de largura de Setúbal a Viana do Castelo. O resto é «interior» onde não há direito a escolas, centros de saúde, tribunais, etc.
2. Uma outra conclusão, muito visível no Verão, é que Portugal é apenas o litoral Algarvio.
E, quando se fala em turismo parece que não se sabe bem o que é. A preocupação é criar camas em hotéis sem se pensar que para haver dormidas é preciso oferecer aos turistas algo de que gostem, algo que os atraia e que os leve para as suas terras a fazer boas referências ao País.
E, pensando com certa elevação, não podemos desprezar os factores culturais e científicos, para atrair estudiosos e indivíduos de cuja visita nos sintamos orgulhosos.
Um abraço
Enviar um comentário