Transcrevo o artigo seguinte que traduz as dificuldades da maioria dos portugueses no estilo irónico que é habitual ao autor. No fim acrescento uma NOTA sobre este tema que julgo ser oportuna.
A proeza
Por Manuel António Pina
O Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (pelos vistos, existe um Ministério da Solidariedade Social) assegurou ontem, naquele tom vitorioso que usam os treinadores de futebol de equipas dos "distritais" quando saem do Dragão, de Alvalade ou da Luz com uma derrota por menos de 3-0, que 90% dos reformados não irão perder poder de compra em 2008. E o sucesso, diz o Governo, é ainda maior isso acontecerá pelo segundo ano consecutivo.
O solidário Ministério chegou a essa conclusão fazendo contas aos aumentos das pensões inferiores a 611 euros (90% dos reformados vivem com menos, a grande maioria com muito menos, de 611 euros), que serão iguais à inflação "prevista" para 2007. O problema - há sempre um problema neste género de contas - é que, com tais aumentos, os reformados irão comprar o pão (que vai subir 30%), o leite (12%), pagar a electricidade e o gás (3,6%), os transportes (3,9%), e por aí fora, que a procissão ainda vai no adro, em 2008, e não em 2007.
Ora se passarão a comprar menos coisas com mais dinheiro, como é que os reformados (ó suave milagre da economia e da propaganda) não perdem poder de compra? E, mesmo se fosse verdade: era uma proeza assim tão grande o Governo ter conseguido que eles ficassem tão pobres como eram?
NOTA: O aumento dos preços obriga-me a continuar a tentar perceber qual é o conteúdo do «cabaz de compras» que o Governo, ou o Banco de Portugal, utiliza para calcular a inflação de forma a aumentar os salários de 2,1% quando tudo está aumentar muito mais do que essa percentagem. E os sindicatos acabam por aceitar esse número que lhes é imposto sem justificação honesta. Com as notícias que nos chegam, concluímos que a inflação deste ano não irá ficar abaixo dos 3%. E é por isso que o aumento esperado dos juros BCE virá a ser uma realidade. Andamos a ser explorados mais do que se estivéssemos em regime ditatorial e poucos se manifestam de viva voz contra os partidos que se coligam para partilhar entre si o bolo do PODER. Poucos se dizem determinados a entregar o voto em branco nas próximas eleições, como prova de desprezo pela autodenominada «classe política» e para que a percentagem de vitória acabe por ser reduzida ao mínimo, aos votos dos parasitas do poder, que já são demasiados!
A Necrose do Frelimo
Há 4 horas
2 comentários:
Caro A. João Soares,
Não há dúvida de que é, no mínimo, "estranho" que algumas Federações sindicais tenham aceite o aumento salarial de 2,1%... Afinal, para que é que servem os sindicatos? Embora politicamente não me identifique com a CGTP, o que é facto é que esta abandonou a Concertação Social, que era o que deviam ter feito todos!
Desta forma, governo e patronato combinaram o seu ano idílico. O nosso triste ano de 2008.
Um abraço amigo
Jorge Borges,
Mas como se calcula a inflação? Como se faz uma previsão tão rigorosa para todo o ano?
Como é uma pessoa culta, sabe que o Sábio Luís de Camões, não foi por acaso que fechou o último verso dos Lusíadas com a palavra inveja. Com isso teria querido definir o maior defeito dos portugueses que tolhem o desenvolvimento.
Mas há outra palavra que, nos dias de hoje, define muito do que se passa à volta do Poder é a GRATIDÃO, fazem o favor ao amigo para receberem outro favor em troca. Há quem lhe chame corrupção e outros mais eufemisticamente lhe chamam tráfico de influências ou enriquecimento ilícito. Acaba por ser, em termos populares, pouca vergonha, desonestidade, imoralidade, etc
Tudo é cozinhado por eles numa caldeira que é só deles. E aqui englobo todas as moscas que pairam à volta da mesa do orçamento, directa ou indirectamente. Todos se entendem muito bem. Na mente deles, o povo que se lixe e só pensam nele quando lhe querem sacar o voto, com promessas falsas que esquecem no dia da ida às urnas.
Pouca vergonha!!!, para não dizer um palavrão.
Abraço
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