Pareceu-me ouvir que os carros vão deixar de poder circular nas localidades a mais de 30 quilómetros por hora. E digo «pareceu-me» porque me custa a acreditar que seja verdade e talvez não passe de mais uma «promessa», embora não estejamos em campanha eleitoral. Será possível que pessoas inteligentes como é suposto serem os nossos governantes, caiam numa dessas? Mas se se trata de uma decisão, então fico com a certeza de que o louco não sou eu!
Mas, para iniciar a explicação da minha estupefacção, esboço a definição de dois conceitos que poderão aparecer nas frases seguintes. Excesso de velocidade existe quando se circula a uma velocidade superior à fixada por diploma legal e traduzida pelos sinais colocados na via. Velocidade excessiva é a que não permite ao automobilista controlar eficientemente a viatura de forma a evitar insegurança para esta, para ele próprio, os seus passageiros ou terceiros utentes da estrada.
A velocidade máxima imposta pela autoridade é sempre exageradamente inferior ao limiar mínimo da velocidade excessiva, até porque esta varia com as condições da estrada, com as condições de segurança da viatura e com a capacidade de condução do automobilista, a qual, por sua vez, depende da sua competência, experiência, do seu estado de saúde, de medicamentos que tenha tomado e de alimentos ou bebidas que tenha ingerido, assim como do seu estado psíquico (preocupações, tristeza, alegria, etc.).
Mas a observação da sinalização rodoviária ao, longo de ruas e estradas, evidencia que as restrições da velocidade raramente são efeito de vontade esclarecida de criar segurança, antes são a tradução de abusos repressivos, autoritários e de sadismo (doença do foro psicológico). Parece que o pensamento que precede a implantação de sinais não anda longe do seguinte. Se numa via em que era permitido circular a 90, houve acidentes provocados por carros a circular a mais de 100, os «inteligentes» colocam ali um sinal de 60, como se houvesse perigo em circular entre 60 e 90.
Em Lisboa, junto ao Terreiro do Paço, uma jovem senhora, no início da manhã, atropelou mortalmente peões numa zebra que na altura tinha o sinal verde para os peões. Ia a mais de 100, talvez perturbada pela noite mal dormida, ou distraída e com os reflexos adormecidos. Esse acidente, racionalmente, não seria motivo para que ali se reduzisse a velocidade máxima permitida. O que deveria ser tentado era evitar a repetição de outros abusos homicidas semelhantes aquele.
Com base neste acidente e outros parecidos, os «inteligentes» concluíram que para obter mais segurança a solução é obrigar a circulação a não passar dos 30! Ora, seria interessante saber quantos acidentes graves e com que frequência houve a menos de 40 ou a menos de 50. Não parece lógico que, se a limitação a 40 não impede acidentes a 100, se espere que esse resultado se obtenha com a limitação a 30 ou a 20 ou a menos!!!
Mas há outro aspecto que coloca em dúvida a tal «inteligência» e a atenção às preocupações actuais com a poluição. Circulando a 30, para percorrer uma dada distância, um carro demora um pouco mais do dobro do tempo do que se fosse a 60. E, como a transmissão tem de utilizar uma relação de caixa mais baixa, o motor nesse percurso terá de dar cerca de quatro vezes mais rotações, consumindo uma quantidade de combustível proporcional, do que se conclui que a cidade passa a ter o ar mais poluído, com mais do quádruplo de CO2. Isto é grave numa data em que tanto se fala em defesa do ambiente, da qualidade do ar, e que até se proíbe fumar para proteger a nossa saúde.
Por outro lado, se as ruas já estão tão congestionadas com tanto carro, agora que cada percurso demorará o dobro do tempo, será muito maior a quantidade de carros em movimento, cerca do dobro, passando as ruas a ficar intransitáveis com filas em pára-arranca, situação em que a criação de poluição é mais potenciada. E depois? O que acontece quando não se puder circular? Para onde vão as actividades económicas?
Então as pessoas acabarão por concluir que a solução é irem para o «deserto» da margem Sul do Tejo ou para o interior que alguns ministros têm vindo sistematicamente a procurar despovoar, onde por enquanto o ar é mais puro. Então, lá terá o ministro da saúde de reabrir maternidades, SAPs, urgências, centros de saúde, e outros apoios, para apoiar a multidão fugida das grandes metrópoles!
Onde está o discernimento destes «altos» funcionários? O que pensam realmente do ambiente e da qualidade do ar? O que pensam seja do que for?… Nem as pensam!!!
A Necrose do Frelimo
Há 2 horas
6 comentários:
Caro A. João Soares,
Como, sempre, felicito-o pela clareza e discernimento do seu post. 30 quilómetros por hora, só se for para evitar atropelar tartarugas ou caracóis! Tanta legislação e tudo tão sem nexo... Deviam legislar menos e governar um bocadinho melhor. Seria bem mais saudável, para evitar fugirmos todos para o "deserto" (onde até tenho o infortúnio de morar, calcule-se!).
Um abraço amigo
Parece que o problema ainda está apenas em ideias. Mas é um mau começo, pois trata-se de idiotices. Espero que este erro irracional não vá para a frente.
Não lembra a um macaco dos mais estúpidos. Basta pensar no problema em toda a sua magnitude, para ver que a solução não é aquela.
Se não conseguem fazer cumprir o limite dos 40 muito menos o conseguirão dos 30.
Um abraço
A. João Soares
A proposta é tão estúpida que antes mesmo de abordar este tema no meu blogue, tive de colocar um nariz postiço de palhaço para ver de me concentrava.
Uma vez mais os meus parabéns pela resumida (mas bastante sumarenta) abordagem que fez.
Tu chamas 'inteligentes' eu costumo chamar de 'iluminados'...muitas coisas eu não consigo compreender. Ou porque sou a 'louca' ou a 'estúpida'??!!
Caro LFM,
O post do seu blog está muito interessante. Esta tema não devia passar em silêncio. É um País de loucos em que os políticos são os melhores classificados na selecção. A campanha eleitoral deu um resultado positivo - foram escolhidos os mais carecidos de lucidez e de senso.
Um abraço
Querida Paula,
Ninguém que não tenha loucura igual à deles consegue compreendê-los. As mentiras, as promessas insensatas e mal intencionadas, as justificações que querem dar só servem para uso entre eles, no manicómio que frequentam. As provas disto aparecem diariamente.
Beijos
João
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