Dos novos-ricos não reza a história. Só pelos maus motivos. O poder do dinheiro leva-os a manifestar a sua pequenez através de decisões folclóricas. Com níveis de pobreza assustadores, Angola quer construir uma nova capital, a norte de Luanda.
O arquitecto Oscar Niemeyer já foi contactado por Eduardo dos Santos para tal efeito. Ao que parece, Brasília é o máximo para a nomenclatura angolana. E como o dinheiro não falta, paga-se o que for preciso. Niemeyer vai-se fazer pagar bem. É o único arquitecto centenário de renome mundial.
Com a nova capital pretende-se um "começar de novo". Para quem? A resposta oficial é fácil de adivinhar: para os angolanos. Mas as barracas e os pobres não entram. Os membros da burguesia burocrática, corrupta e completamente improdutiva, serão os novos habitantes da nova metrópole. Juntamente com os estrangeiros, que sempre dão um ar cosmopolita. E as sedes de empresas multinacionais. De petróleo e diamantes.
De repente veio-me à memória Houphouët-Boigny. Construiu uma réplica da Basílica de S. Pedro em Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim, um país maioritariamente muçulmano. E Jean-Bédel Bokassa, o imperador canibal do “Império” Centro-Africano. Mandava fazer tronos em ouro maciço para se sentar.
O que há de comum em todos eles? A pobreza extrema em que vive o seu povo. Os sonhos megalómanos dos dirigentes são concretizados à custa de milhões de pessoas que lutam diariamente pela sobrevivência.
A riqueza de um país não pertence aos seus governantes nem à burguesia nacional. É um bem público, que deve ser administrado para o bem de todos. Num país onde nem sequer há um presidente eleito nem uma democracia consequente, é fácil adivinhar o rumo que tudo isto vai tomar. Os palácios na Europa, os aviões privados e os milhões de dólares em bancos estrangeiros já são uma realidade há muito tempo. Agora só falta a cidade e o trono, para o show off. A História anda aos círculos e as vítimas são sempre as mesmas. Haja decoro.
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