terça-feira, 7 de agosto de 2007

Burocracia, «empatocracia» e ...

Na ânsia de tudo controlar e de alimentar um ambiente de desconfiança em relação a cada cidadão, os poderes central e autárquico, travam desnecessária e insensatamente a vida sócio-económica do País, de forma ilógica e incoerente. A burocracia tudo empata e só ajuda a corrupção nas suas variantes activa e passiva, com prejuízo para a sociedade em geral.

Veio agora a público que a Sonae pretende exigir uma indemnização dos lucros que deixou de ter, por a CML ter cancelado o alvará anteriormente concedido para a construção de duas torres nas instalações do CC Colombo. Tal cancelamento ocorreu já há alguns anos, sem justificação aceitável, apenas por imposição caprichosa da autarquia. Uma questão de abuso do poder.

Por todo o lado se depara com os atrasos devidos ao excesso de burocracia e a consequente lentidão na tomada de decisões. Na Parede, concelho de Cascais, investiu-se na construção de casas sociais para alojar os habitantes do «bairro das Marianas» e o espaço libertado ainda está desaproveitado. Seria de esperar que, antes de terminada a desocupação e destruição das «casas provisórias», houvesse projecto já avançado para que a construção fosse iniciada sem demora.

Também a praça de touros de Cascais foi demolida e ainda não há sinais de início das prometidas obras. Entretanto a empresa construtora, prevendo demora na aprovação do projecto e para que não lhe ocupem o espaço com construção clandestina, revestiu ligeiramente o solo, colocou blocos de cimento para evitar desportos automobilísticos e chamou-lhe parque de estacionamento (onde durante quase dois meses não estacionou um único carro além do que pertence ao guarda do recinto). Afinal, há projecto para o edifício ou não? Certamente há e está à espera de aprovação pela autarquia, a qual será concedida na próxima década, o que explica as precauções do empreiteiro.

Recordo que a aprovação da construção do edifício Regata demorou vários anos, ao ponto de os muros exteriores começarem a ruir sobre o passeio , criando perigo para as pessoas e para a circulação de carros na rua estreita.

Mas há muito mis casos como o aproveitamento do Parque Mayer, a modernização da área entre Santos e a Praça da Ribeira, a construção de torres na área da antiga fábrica do açúcar na Av. da Índia, junto à ponte sobe o Tejo, as construções na antiga área de unidade militar, junto à praça Afonso de Albuquerque, a leste do Palácio presidencial, etc., etc.

Dizia um indivíduo que, hoje, o mais demorado na construção de um edifício é a abertura da cave, principalmente se o terreno é rochoso. Mas logo outro lhe respondia que estava enganado, pois a maior demora é anterior, na concessão a licença camarária, apenas possível de atenuação através de um «conhecimento» com técnicos da autarquia, renovável depois em cada visita de fiscais. Faz parte das tradições portuguesas e já é considerada uma regra incontornável.

Os políticos responsáveis por estas demoras esquecem que tempo é dinheiro e, depois, ficam espantados com pedidos como o da Sonae de indemnização pela perda de lucros que entretanto podiam ter sido obtidos, e pela ausência de rendimento do dinheiro durante a demora.

4 comentários:

Eduardo Ramos disse...

Isso é uma verdade tão grande... que não serve para nada!
Já andamos desde o tempo do Eça nisto e não mudou nada!
Basta ler a sua crónica acerca da politica feita em Portugal e constatamos como ele à mais de 100 anos estava tão actualizado.
Ainda falam do Nostradamus ...

A. João Soares disse...

Caro Eduardo Ramos,
Por ser verdade não devemos deixar de falar destas coisas Costuma dizer-se que as mentiras repetidas muitas vezes passam a ser aceites como verdades. Mas talvez possamos dizer que as verdades que se calam, esquecem, passam a ser dúvida e, mais tarde, aceites como mentiras, fantasias ou delírios.
É preciso que o povo mais humilde seja esclarecido das verdades mais simples que estão ao alcance da sua compreensão.
Quem vota tem que estar esclarecido daquilo que está a fazer. Para isso tem de reflectir sobre aquilo que se passa à sua volta, mesmo que pareça insignificante.
Abraço

Eduardo Ramos disse...

Exmo.
Isso é outra verdade monstruosamente grande, MAS... se a pequena verdade como IR VOTAR não entra na pequena cabeça de 60% dos Portugueses então como fazer para verem outras verdades?
Julgam que por não votar demonstram a revolta... mas não se lembram que se lhes dão à escolha carne ou peixe e ficam calados, quando afinal até queriam outra coisa, vão ter que comer o que os outros escolherem e não reclamar. Se esses 60% dissessem "Não gostamos nem de carne nem peixe", o cozinheiro então teria que rever melhor a sua posição.

Enfim. Pode ser que a geração que está a nascer agora seja a que vai começar a mudar um pouco as coisas. Afinal... parece que estamos atrasados 40 anos não é?

A. João Soares disse...

Grande sábio é quem raciocina como o Eduardo, tornando as coisas complexas em simples trabalho de escolha do prato a almoçar. O atraso de 40 anos é uma realidade e para não o prolongar muito mais, é preciso que todos, cada um de nós, faça tudo o que puder para se alterar o rumo para o melhor azimute.
A sua geração tem um trabalho árduo a realizar na preparação da juventude. Não podemos esperar que as crianças de hoje cresçam diferentes por milagre. É preciso que pais e professores as ensinem a trilhar as boas pistas. Mas será que os pais sabem? será que os professores sabem? Durante anos tem havido um desencaminhar no afastamento de valores que são essenciais.
É bom, como estamos a fazer neste diálogo, pensar a sério nisto.
Mas não desanime. O Eça já dizia o mesmo da política do seu tempo. Veja os posts que hoje coloquei aqui.
Abraço