Transcrição do post do blog Mentira
Artigo da autoria do Dr. Fernando Paulo Baptista sobre o seu colega Dr. Fernando Nobre. Sem comentários. De lembrar, apenas, que o «barrete» serve a todos os que de um modo ou de outro tenham o mesmo procedimento, o aprovem, ou dos impostores se sirvam; não excluindo os outros, no caso presente, o Pedro Coelho e a sua oligarquia mafiosa dos mestres do rouco, como o se conselheiro Dias Loureiro. Não se limita ao Coelho e é geral. A mentira, a falsidade e o oportunismo pela ignorância e pela imaturidade política dos portugueses há muito que se instalaram no país. Não o ver é aprovar. Por isso se aprovam os corruptos, votando neles. Nada mau – tem-se o que se aprova.
Em Democracia, não deveria valer tudo!…
Por princípio e por formação, respeito a «diferença» que em todos nós existe e nos acompanha inelutavelmente ao longo da vida e, com ela, a inteira liberdade de fazer opções... É nessa base que não posso deixar de ponderar as implicações que decorrem da igualmente livre assunção de compromissos políticos, sobretudo quando se invocam, na ágora da Pólis, princípios de natureza ético-axiológica para fundamentar, sustentar e credibilizar esses mesmos compromissos...
A essa luz, não consigo compreender que tenha sido possível trocar um «Projecto de Cidadania de Homens e Mulheres Livres, Responsáveis e Independentes», um «Projecto» assente em Valores Humanistas Universais como aquele que Fernando Nobre nos propôs e defendeu durante a recente campanha das Presidenciais, como alternativa ao que ele chamou de «sofoco» atrofiante e estagnante da «partidocracia» e da «mediocracia» reinantes — sofoco esse, responsável, segundo ele, pelo «lastimável estado de coisas» a que chegámos e no pressuposto de que as potencialidades da Democracia estão bem longe de se esgotar na intervenção política protagonizada pelos partidos...
Não consigo compreender, repito, que tenha sido possível trocar um tão esperançoso e mobilizador «Projecto», depois de, ainda bem recentemente, ter reiteradamente afirmado e garantido, em tom assertivo e categórico, que jamais aceitaria convites para ingressar em partido algum, fosse ele qual fosse!...
Então o que é que o terá levado a «trocar» esse tão rico, tão sedutor e tão inovador «Projecto» transpartidário pela «adesão» (repare-se que não digo «inscrição» ou «filiação»...) a um partido, independentemente de ser aquele ou de ser outro, mas a um partido que ele igualmente atacou (mesmo que venha agora invocar o protector mas já estafado “guarda-chuva” de que concorre como «independente»...)?...
Então, na sua campanha de candidatura presidencial, não invocou sistematicamente essa mesma prerrogativa da «independência»?... Afinal, o que é que, para Fernando Nobre, passou a significar esta palavra? Que «independência» era aquela que ele defendeu nas presidenciais e que «independência» é esta de que fala agora?...
A resposta para aquela referida «troca» é bem simples, se for tido na devida conta aquilo que todos ficámos a saber... E basta de mais mistificações: trocou tudo por uma aleatória e efémera «cadeira de poder», ou, como diria o meu saudoso Padrinho e Poeta Azevedo Pinto («Rijo»), trocou tudo «pelo tacho e pelo penacho», opção que não deixa de estar em perfeita sintonia com o que ressalta da divulgação do «organograma» (e de vários testemunhos que não são «anónimos», porque, se o fossem, repugnar-me-iam!...) do que tem sido a “nobilíssima” governação da ONG denominada AMI (vejam-se, entre outras, as seguintes referências na Internet, com autoria bem identificada:
http://triplov.com/triplo2/2011/04/16/organograma-da-ami/
http://onlinebackupv.posterous.com/organograma-da-ami
http://groups.google.com/group/ia99/browse_thread/thread/0e5ec131c1e7f701...
http://memoriarecenteeantiga.blogspot.com/2011/05/no-organograma-ami.html
http://aespeciaria.blogspot.com/2011/04/ami-de-fernando-nobre.html
http://s3.amazonaws.com/files.posterous.com/onlinebackupv/IgjnEay5JBnG2JrGElrbbDOIjNtXHx0KZoR1TgW6vOKqpjLNEbKkwX4YBODR/OrganogramaAMI.pdf?AWSAccessKeyId=AKIAJFZAE65UYRT34AOQ&Expires=1305629929&Signature=lCgKwh8MhlA0Bc9pscU41duq7rs%3D).
É, na verdade, muito triste e muito preocupante não saber honrar a palavra dada e inequivocamente repetida em público perante todo o País!...
Na minha qualidade de Membro Honorário do Movimento Internacional da Telemedicina, eu era um velho amigo e admirador do médico Fernando Nobre, Presidente da AMI. Acreditei nele, ao ponto de ter tido a intervenção que tive no dia da apresentação da sua candidatura em Viseu, quando, na sequência do «diagnóstico» e da caracterização «patológica» da actual situação política, afirmei, em registo metafórico-alegórico, perante a numerosa assembleia de apoiantes: «O País está tão doente que só um Médico o pode salvar!... É por isso que também estou aqui para apoiar Fernando Nobre!...».
Sinto-me, consequentemente, defraudado e envergonhado, tanto mais que não estou filiado em partido nenhum. E, embora respeite os partidos, não sinto «vocação» para a vida partidária, pelo que prefiro ser um cidadão realmente independente de qualquer «máquina» dessa natureza e porque, na «visão franciscana», englobante e «inteira» (íntegra) do mundo e da vida que tento cultivar, me sinto despojado de qualquer ambição de poder...
Defendo, sim, um «Projecto de Cidadania» humanista e universalista, holística, polifónica, integral, intercultural, inclusora e respeitadora de todas as diferenças, à escala local, nacional, europeia e planetária... Esse é o sonho que me move e que dá sentido à minha existência: veja-se, a propósito, o que venho defendendo, há largos anos, nos meus estudos, ensaios e reflexões, nomeadamente, no Polifonia, Poiese & Antropopoiese...
Devo confessar, porém, que tenho bons Amigos em todos os partidos dos diferentes quadrantes, alguns deles com indiscutível valor e que muito admiro pela sua cultura, competência, coerência e integridade... Mas não posso deixar de reconhecer também, com toda a frontalidade, que anda por lá muita gente inculta, medíocre e oportunista, apenas à espreita de um lugar bem remunerado no «poleiro» do poder, em troca de uma «fidelidade» (no fundo a si próprios e aos seus mesquinhos «interesses» pessoais...) e de uma militância sem nível, sem ideias e sem grandeza...
Por outro lado, e salvo honrosas excepções, não tem havido, a nível nacional, lideranças com qualidade estratégica, pelo que a condução política do País é o que se tem visto, sobretudo nestas duas últimas décadas pós-25 de Abril, apesar de tanto dinheiro que veio da Europa...
É por tudo isso que não consigo esquecer-me daquilo que um ex-ministro, meu amigo, escreveu e um dia me reiterou acerca de um famoso e devorador «monstro» (e de seu esfíngico «pai»...) que tem persistido até hoje: basta pensar, num contexto de tanta dificuldade, pobreza e sofrimento, na intocada manutenção das altas remunerações e mordomias, seja no sector público, seja no sector privado!... Como se o nosso tão calvariado Povo e País não fosse aquele mesmo e único País e Povo, já com mais de oito séculos de História!... Só que os «abutres» e os «vampiros» que tantas vezes se autoproclamam de «Patriotas» não o largam: sugam-lhe a carne e chupam-lhe os ossos... Basta recordar a sempre actual «lição» do nosso imortal Camões: Os Lusíadas, IX, 27-28:
«E vê do mundo todo os principais,
Que nenhum no bem público imagina;
Vê neles que não têm amor a mais
Que a si somente, e a quem Filáucia ensina;
Vê que esses que frequentam os reais
Paços, por verdadeira e sã doutrina
Vendem adulação, que mal consente
Mondar-se o novo trigo florescente.
Vê que aqueles que devem à pobreza
Amor divino, e ao povo, caridade,
Amam somente mandos e riqueza,
Simulando justiça e integridade;
Da feia tirania e de aspereza
Fazem direito e vã severidade;
Leis em favor do Rei se estabelecem,
As em favor do povo só perecem.»
Perante a decepção provocada por esta tão grave incoerência e «traição» de Fernando Nobre (que pensava serem exclusivas dos habituais «cata-ventos» e «troca-tintas» que têm proliferado na nossa nevoenta cena política politiqueira), não posso silenciar a minha indignação, motivada pela sua aceitação de um convite que se me afigura muito mais «oportunista» do que outros de que nos vamos dando conta, sobretudo nos partidos do chamado «arco da governação». Mais ainda: chega mesmo a ser confrangedor vê-lo, sem o menor recato, a percorrer o País, na posição de «fiel seguidor» do seu novo «líder»... Ou seja: do autónomo e esperançoso «Líder-Presidente» que se nos afirmou nas Presidenciais, aceitou transformar-se num banal figurante de arruadas e assumir o triste, medíocre e dependente papel de um vulgaríssimo «liderado», esquecido por completo de que sobre si próprio passou a impender a implacável «lição» daquele famoso passo do De imitatione Christi, segundo o qual, no fim de tudo: quam cito transit gloria mundi!... [quão depressa passa (ou quão efémera é) a glória do mundo!...] (Cf. Thomas a Kempis: De Imitatione Christi, Liber Primus, cap. I, 6).
Modelado que fui pelos grandes ideais e valores da Bíblia (Livro de Job, Livro da Sabedoria, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes...) e da «Paideia Clássica» (lato sensu: Greco-Latina e Hebraico-Cristã), destacando, na dimensão mais «politeica» da existência, os que me foram legados, entre outros, pelos Imortais Homero e Vergílio, por Poetas como Hesíodo, Safo, Anacreonte, Xenófanes, Teógnis, Píndaro e Horácio, pelos Grandes Tragediógrafos Ésquilo, Sófocles e Eurípides e por Pensadores como Heraclito, Sócrates, Platão, Aristóteles (ai como a «Ética a Nicómaco» é tão actual e tão necessária na República!...), Cícero, Séneca e Santo Agostinho, este tipo de prática «política» (com «p» minúsculo) que vem marcando a actualidade mete dó… E sentir dó, por motivos desta natureza, faz mesmo sofrer...
Mas seja-me permitido acrescentar ainda o seguinte, porque entendo que em Democracia temos a obrigação de ser transparentes e frontais: quem decidiu convidar um homem que tanto atacou o «sufoco» do esclerosado e medíocre sistema «partidocrácico» vigente, de um homem que inesperadamente perjurou e abandonou todos quantos tão confiadamente nele acreditámos e lhe demos o nosso sincero e convicto apoio, em suma, de um homem que não soube honrar os compromissos assumidos nem a palavra dada, quem decidiu convidá-lo, insisto, também não sai nada dignificado com o convite que fez: é que, por arrasto, vem à memória a escandalosa «promoção» ao nível da liderança parlamentar de certa «ave migratória» ideologicamente oriunda de um bem demarcado e inconfundível «comité central», situado nos antípodas do partido convidante!... Afinal, para quem assim perspectiva o País e a Pólis, tudo parece valer, prestar ou servir: o «euro» — € — da nossa política está mesmo falido...
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Em Democracia Não Devia Valer Tudo
Publicada por A. João Soares à(s) 15:45
Etiquetas: Democracia, dignidade, sentido de Estado, transparência
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1 comentário:
Caríssimo Amigo João,
Claro que em Democracia não devia valer tudo! Mas será que vivemos em Democracia?
Não acredito nisso e tu bem sabes o que penso desta trapalhada toda em que vivemos! A maioria rouba tudo e mais alguma coisa e os outros estão "piados"!!!
Um abraço amigo e solidário.
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