sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vale do Tua. Desprezo por turismo e agricultura

Transcrição de artigo:

Há algo de podre no vale do Tua
Diário de Notícias. 01-12-2010. Por DANIEL CONDE (Movimento de Cidadãos em Defesa da Linha do Tua)

Há algo de podre no vale do Tua, e não é o fantasma do futuro a trazer um travo a esgoto das águas eutrofizadas da albufeira do Tua.

Há algo de errado quando um Estudo de Impacto Ambiental e um Relatório de Conformidade Ambiental de Projecto de Execução (RECAPE) afirmam numa base científica que a barragem vai ser desastrosa a nível regional e insignificante a nível nacional, mas a barragem avança.

Há algo de errado quando a Linha do Tua tem vindo a ser abandonada ou mesmo mencionada no caso Face Oculta, mas a culpa da má manutenção da via e estações é atirada como que para os próprios utentes que a utilizam. Há algo de muito errado quando um consultor da UNESCO afirma deslumbrado que a Linha do Tua tem todas as condições para ser considerada Património da Humanidade, reiterando o que disse o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) sobre o seu valor patrimonial único, mas depois os ministérios do ambiente e da cultura (e depois o próprio Igespar) concluem que nem o vale nem a Linha do Tua têm valor patrimonial ou ambiental algum, arquivando com uma celeridade desconcertante o processo de classificação desta como Património Nacional.

Algo não está bem quando os comboios da Linha do Tua ficam sobrelotados de turistas, quando o Plano Estratégico Nacional de Turismo e o Plano Regional de Ordenamento do Território do Norte prevêem maravilhas turísticas para esta região, e quando um projecto de turismo ferroviário para a Linha do Tua fica em terceiro lugar num concurso nacional de empreendedorismo, e a CP e a Refer fecham as portas à sua exploração turística.

Algo de muito errado se passa quando com um projecto ferroviário de baixo custo se poria um madrileno em Bragança em duas horas, e nos debates havidos em Trás-os-Montes sobre desenvolvimento ninguém diz uma palavra sobre caminhos-de-ferro.

Muito mal vai o estado da Democracia quando a voz de 18 mil peticionantes contra a construção da barragem do Tua e a favor da reabertura, modernização e prolongamento da Linha do Tua, defendendo inclusivamente métodos alternativos mais baratos e mais eficientes de produção e poupança de energia, não é ouvida ou não é suficiente para calar a de meia dúzia de indivíduos mal intencionados e de carácter duvidoso.

A lista de incongruências, atropelos, e laivos de actividades amplamente contempladas no Código Penal avoluma-se. Vagas de estudos científicos e pareceres de especialistas - de entre os quais UNESCO e Comissão Europeia - que apontam um severo dedo à barragem do Tua e coroam de louros o vale e a Linha do Tua, esboroam-se com um rumor de espuma do mar contra sabe-se lá que perigosos rochedos e contracorrentes.

Chegados a este ponto é lícito perguntar: em que mundos vive o Ministério Público e a PJ, ou será que o vale e a Linha do Tua é que já não pertencem a este mundo? Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto fede...

Imagem da Net

4 comentários:

Luis disse...

Caríssimo Amigo João,
Tive a possibilidade e o gozo de por duas vezes ter feito um passeio turistico pela linha do Tua quando ainda era "viva"!
Que pena, de facto, o que vão fazer! Porque não aproveitam as marés e os ventos para a obtenção de energia eléctrica que essas formas não colidem com a natureza!
Mas o sócrates diz e o mundo tem que aceitar como bom o que ele apregoa mesmo sendo mau... Não pensam, não estudam convenientemente os assuntos, é tudo feito sobre o joelho... Que pena!
Um abraço amigo e solidário.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

São crianças mimadas, «provincianos ofuscados». E reagem assim. Porquê? Porque sim!
O PM fala que uma barragem dá muito emprego. A quem? Já visitaste uma barragem? Viste muitas dezenas de trabalhadores?
Não te esqueças das gravuras de Foz Côa. Pararam uma barragem inserida num conjunto que permitiria o transvase de água do Douro para o Tejo para depois ir irrigar os montes alentejanos. Criaram um museu cujos visitantes são escolas. Agora criaram uma «Fundação» com altas individualidades na administração, nos conselhos fiscal, científico, técnico, de gestão financeira, de gestão de pessoal, de manutenção das instalações, de marketing, de relações públicas, etc. etc. Provavelmente não haverá tantos,... mas com o tempo eles aparecerão. A não ser que o regime mude. O FMI está fazer falta!!!

Vamo-nos rindo enquanto pudermos!!!

Um abraço
João
Sempre Jovens

Zé Povinho disse...

Os interesses económicos da clique que dá emprego aos retirados da política tem mais força que a razão e os interesses colectivos.
Abraço do Zé

A. João Soares disse...

Caro Zé,

Esse factor que o amor refere é o único que tem peso nas decisões desta clic que, infelizmente, tem muito mais «camaradas» do que os 40 do Ali-Bábá.
Agora li um e-mail sobre o brinquedo chamado Fundação Cidade de Guimarães , com uma folha de pagamentos que mete inveja a qualquer americano ou emir árabe.
E, deste forma, se aumenta o défice e, em consequência, nos sobem os impostos.
E, entretanto, continuamos a ler notícias do Médio Oriente e do Magrebe, sem pensarmos na nossa estúpida apatia, perante este saque sistemático e imparável.

Abraço
João
Sempre Jovens