Transcrição de post do blog Devaneios a Oriente:
Uma Região, quatro transições
Quando estava a tentar decidir qual o tema que iria abordar aqui no Delito de Opinião, ocorreu-me a ideia de escrever acerca da Região Administrativa Especial de Macau, isto é, de Macau pós-1999.
Especificamente, acerca das várias transições políticas que desde então ocorreram.
É de todos conhecida a transição de poderes ocorrida na noite de 19 de Dezembro de 1999.
Essa seria a primeira transição, a mais visível, a mais noticiada.
A China retomava a administração de um pedaço do seu território, que tinha estado até então sob administração portuguesa.
Não sigo as teorias que falam num retomar de soberania porque ainda não estou convencido que Portugal alguma vez exerceu um poder soberano em Macau.
Mas esse é um outro tema, que poderá eventualmente ser tratado noutra ocasião.
Nesta primeira transição, a Mãe Pátria colocava o poder nas mãos de alguém que andava a ser preparado, quase que desde o berço, para esse destino.
Seguindo a tradição de fulanizar o poder, a China confiava a Edmund Ho Hau Wah a tarefa de assegurar uma governação pacífica, de mostrar ao Mundo as virtualidades da fórmula “um país, dois sistemas” que Deng Xiaoping imaginara.
Pequim, omnipresente, auxiliava na sombra, atrás do biombo.
Com alguns trunfos guardados (a liberalização do mercado do Jogo e a atribuição de vistos individuais a visitantes de várias províncias chinesas), o sucesso económico estava garantido.
Com este, e por arrastamento, a paz social, a contenção de alguma agitação política, importada de Hong Kong e Taiwan.
Este quadro é subitamente alterado, com grande estrondo e alarido, com o rebentar do escândalo de corrupção que envolveu o então secretário das Obras Públicas, Ao Man Leong, logo afastado do cargo e entretanto condenado a 28 anos de prisão.
Entrava-se na segunda transição.
Esta menos visível em termos mediáticos.
Só Ao Man Leong foi afastado do cargo que ocupava, mas Pequim, ainda que com punhos de renda, deixou claro que, doravante, nada mais seria como antes.
A mão do Poder Central tornou-se mais visível, a vigilância da vida política e económica local bem mais apertada.
E ficou claro que assim seria até 2009.
Alguns desmandos na vida local, uns mais visíveis que outros, não seriam mais tolerados.
A tarefa das autoridades locais era agora simplesmente assegurar a gestão corrente da Região.
Chegou 2009, as lutas políticas começaram a ser perceptíveis, e Chui Sai On, o actual Chefe do Executivo, soube posicionar-se de tal modo que se tornou impossível fazer-lhe frente na corrida ao lugar de topo da Administração da Região.
terceira transição.
Chui Sai On é empossado enquanto em Pequim se repete à exaustão a palavra harmonia.
Que se transforma num conceito chave na governação dos dois lados da Porta do Cerco.
Sintomático deste facto, os órgãos de poder então empossados, poucas alterações apresentam.
Em boa verdade, apenas o afastamento da Comissária de Auditoria, Fátima Choi, vítima não de uma má imagem junto do público e da imprensa ( não seria a única...), mas sim das ferozes críticas feitas à gestão dos Jogos da Ásia Oriental.
Debaixo da tutela e da supervisão de Chui Sai On.
Hoje em dia sente-se o forte odor do aproximar da quarta transição.
Com a noção do tempo que só o povo chinês tem, o actual Chefe do Executivo vem, paulatinamente, colocando as pedras no tabuleiro conforme pretende.
Parece clara a intenção de se rodear de pessoas da sua confiança, num processo que tem que ser gerido com toda a cautela para não colocar em causa o referido conceito de harmonia.
Os tempos que se avizinham serão fertéis em novidades.
Que se começam a vislumbrar, mas que se tornarão um pouco mais claras depois da apresentação das Linhas de Acção Governativa no próximo mês de Novembro.
Em bom rigor, as primeiras realmente preparadas por este Executivo.
O desenvolvimento da quarta transição, a ter lugar no ano de 2011, promete ser dos mais interessantes de acompanhar.
Publicada por Pedro Coimbra no blog Devaneios a Oriente
Especificamente, acerca das várias transições políticas que desde então ocorreram.
É de todos conhecida a transição de poderes ocorrida na noite de 19 de Dezembro de 1999.
Essa seria a primeira transição, a mais visível, a mais noticiada.
A China retomava a administração de um pedaço do seu território, que tinha estado até então sob administração portuguesa.
Não sigo as teorias que falam num retomar de soberania porque ainda não estou convencido que Portugal alguma vez exerceu um poder soberano em Macau.
Mas esse é um outro tema, que poderá eventualmente ser tratado noutra ocasião.
Nesta primeira transição, a Mãe Pátria colocava o poder nas mãos de alguém que andava a ser preparado, quase que desde o berço, para esse destino.
Seguindo a tradição de fulanizar o poder, a China confiava a Edmund Ho Hau Wah a tarefa de assegurar uma governação pacífica, de mostrar ao Mundo as virtualidades da fórmula “um país, dois sistemas” que Deng Xiaoping imaginara.
Pequim, omnipresente, auxiliava na sombra, atrás do biombo.
Com alguns trunfos guardados (a liberalização do mercado do Jogo e a atribuição de vistos individuais a visitantes de várias províncias chinesas), o sucesso económico estava garantido.
Com este, e por arrastamento, a paz social, a contenção de alguma agitação política, importada de Hong Kong e Taiwan.
Este quadro é subitamente alterado, com grande estrondo e alarido, com o rebentar do escândalo de corrupção que envolveu o então secretário das Obras Públicas, Ao Man Leong, logo afastado do cargo e entretanto condenado a 28 anos de prisão.
Entrava-se na segunda transição.
Esta menos visível em termos mediáticos.
Só Ao Man Leong foi afastado do cargo que ocupava, mas Pequim, ainda que com punhos de renda, deixou claro que, doravante, nada mais seria como antes.
A mão do Poder Central tornou-se mais visível, a vigilância da vida política e económica local bem mais apertada.
E ficou claro que assim seria até 2009.
Alguns desmandos na vida local, uns mais visíveis que outros, não seriam mais tolerados.
A tarefa das autoridades locais era agora simplesmente assegurar a gestão corrente da Região.
Chegou 2009, as lutas políticas começaram a ser perceptíveis, e Chui Sai On, o actual Chefe do Executivo, soube posicionar-se de tal modo que se tornou impossível fazer-lhe frente na corrida ao lugar de topo da Administração da Região.
Chui Sai On é empossado enquanto em Pequim se repete à exaustão a palavra harmonia.
Que se transforma num conceito chave na governação dos dois lados da Porta do Cerco.
Sintomático deste facto, os órgãos de poder então empossados, poucas alterações apresentam.
Em boa verdade, apenas o afastamento da Comissária de Auditoria, Fátima Choi, vítima não de uma má imagem junto do público e da imprensa ( não seria a única...), mas sim das ferozes críticas feitas à gestão dos Jogos da Ásia Oriental.
Debaixo da tutela e da supervisão de Chui Sai On.
Hoje em dia sente-se o forte odor do aproximar da quarta transição.
Com a noção do tempo que só o povo chinês tem, o actual Chefe do Executivo vem, paulatinamente, colocando as pedras no tabuleiro conforme pretende.
Parece clara a intenção de se rodear de pessoas da sua confiança, num processo que tem que ser gerido com toda a cautela para não colocar em causa o referido conceito de harmonia.
Os tempos que se avizinham serão fertéis em novidades.
Que se começam a vislumbrar, mas que se tornarão um pouco mais claras depois da apresentação das Linhas de Acção Governativa no próximo mês de Novembro.
Em bom rigor, as primeiras realmente preparadas por este Executivo.
O desenvolvimento da quarta transição, a ter lugar no ano de 2011, promete ser dos mais interessantes de acompanhar.
Publicada por Pedro Coimbra no blog Devaneios a Oriente
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