Transcrição de artigo de interesse pelo alerta e os conselhos que transmite:
A maré baixa deixa ver quem anda nu
ISABEL STILWELL | EDITORIAL DESTAK 28 | 10 | 2010
O dinheiro faz falta. O dinheiro vai fazer-nos muita falta no próximo ano. Mas aprender a viver com menos, desde que esse menos seja digno, não é necessariamente mau. A verdade é que valorizamos mais as coisas quando são bens escassos, e fazer omoletes sem ovos até nos pode obrigar a ser mais criativos e a alocar recursos com mais inteligência.
Por tudo isso, não são orçamentos mais apertados que me metem medo, mas sim a irracionalidade e a falta de visão que alguns cortes revelam, a falta de carácter e a incompetência que as dificuldades deixam mais evidente, porque como disse um político britânico há dias, «Quando a maré baixa deixa ver quem nada sem fato de banho». De facto, quando há dinheiro, a desorganização interna do Estado, das empresas, e mesmo a das famílias, passa despercebida.
Mas, no dia em que é preciso definir prioridades, decidir qual é, afinal, o negócio principal da empresa, ou os valores que regem uma família, fica claro que os elementos daquela equipa, que aparentemente trabalhavam por um objectivo comum, têm afinal “agendas” muito particulares. E se não houver a capacidade de traçar um plano claro, e de consenso, a estrutura que parecia tão sólida vai partir-se aos bocadinhos, para não deixar nada. Nessa altura, vão culpar os bancos, as bolsas, o político do dia, mas a verdade é que a culpa é interna, é só delas.
E é esse o lado mais sinistro da crise que vivemos e aquele que, de um dia para o outro, nos pode deixar sem chão, realmente perdidos. E é contra este perigo que devemos lutar. Até porque a instabilidade que a mudança provoca, a incerteza que deixa, torna o clima emocional explosivo. Mais do que nunca é preciso que as relações sejam leais, que os amuos e os rancores fiquem no quarto de brinquedos, e que as injustiças dos actos e das palavras não sirvam de rastilho. Essa é a crise que me assusta.
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