Os governantes devem ser pessoas instruídas como generalistas, dotados de capacidade de dialogarem com especialistas dos vários ramos, aptos a raciocinar com lógica e bom senso, tomando as diversas opiniões e pareceres em devida conta mas sem os seguir cegamente.
Dessa forma, fugiriam aos inconvenientes da visão única e indiscutível que os especialistas querem impor, à força, sem admitir hesitações nem controvérsia, como catedráticos de antanho seguidores do sistema «magister dixit».
A propósito da actual crise financeira global estranhei a uniformidade de opiniões dos nossos economistas e por vezes, timidamente interrogava-me, onde estavam eles quando a crise iniciou e se foi desenvolvendo até deixar de poder ser ocultada dos olhos das populações afectadas.
A essas minhas dúvidas veio agora o esclarecimento na notícia «Ciência económica dominante é "altamente responsável" pela crise» em que constam as seguintes palavras do catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra José Reis, que atribuiu responsabilidades na crise à ciência económica dominante, defendendo ser possível uma posição alternativa a esta da economia enquanto ciência.
Ora vejamos algumas das citações:
- "Há uma responsabilidade do pensamento económico, do conhecimento técnico e dos economistas na crise. Temos que reflectir, pensar e criar uma alternativa à ciência económica dominante".
- (…)a economia "não se limite a ser a ciência dos mercados".
- "A economia, enquanto ciência, tem de alargar o seu objecto: tem de estudar também as formas concretas como as pessoas e a produção se organizam, que factores culturais, sociais e políticos intervêm".
- "a economia enquanto ciência tem muita matéria de que se ocupar e pode fazer melhor do que a ciência económica dominante".
- «Deve preocupar-se com os próprios fins da riqueza, com a forma como as pessoas vivem e alcançam o bem-estar».
- "Na maioria das faculdades de Economia continua a ensinar-se Economia como se nada se tivesse passado nos últimos meses".
O seminário "A Economia e o Económico" foi organizado pelo Núcleo de Estudos sobre Governação e Instituições da Economia do CES e do Programa de Doutoramento em Governação, Conhecimento e Inovação CES/FEUC e teve lugar no Centro de Estudos Sociais (CES) da UC.
NOTA: É permitido subentender daqui que os economistas professores, têm vivido demasiado agarrados aos manuais, ignorando as realidades resultantes da ciência que defendem e difundem, sem lhe darem uma feição humana e flexível tornando-a adaptável às situações vigentes. Recordo uma leitura referente à Argentina quando após Fevereiro de 1996, o Presidente Carlos Saúl Menem recorreu ao FMI para pagar cerca de 5 biliões da sua dívida externa, em que se acusavam as condições desajustadas impostas pelos teóricos do FMI que iriam arruinar a Argentina por serem incompatíveis com as condições reais do País. Eram citadas opiniões extremamente negativas sobre os efeitos desastrosos do aconselhamento dos «sábios» dos FMI, nos países onde impuseram regras teóricas, sem saírem dos seus gabinetes.
El País
Há 8 minutos
2 comentários:
Caro João,
Não sendo um expert na matéria mas por uma razão de bom senso concordo inteiramente com esta maneira de pensar sobre o assunto em causa e pelo comentário em apoio ao artigo.
Na realidade tem-se teorizado muito a "economia" mas por outro lado tem-se andado muito afastado das pessoas para quem ela seria de utilidade.Assim, de costas voltadas para os seus "utlizadores" dificilmente serão encontradas as melhores soluções para a crise que apareceu. Há que se olhar a "economia" por um prisma humanista pois ela é para servir as pessoas e não as pessoas para a servir! Esse tem sido o grande erro e o fundamento das diversas crises que se têm verificado!
Caro Luís,
Nem é preciso ser expert em coisa alguma, o melhor é ser generalista. A diferença, salvo o natural exagero é: o generalista sabe nada de tudo, o especialista sabe tudo de nada. Isto quer dizer que o generalista sabe um pouquinho de tudo, enquanto o especialista sabe muito de um sector muito estreito. A vantagem do generalista é que tem facilidade de diálogo com todos os especialistas, pode ir ouvir conferências de qualquer coisa que não está a olhar para o éter.
Repara na Educação onde estão governantes sem experiência de ensino e teimam contra os professores a impor soluções que os professores sabem que não são aplicáveis. Mas há muitos mais casos, como ocorreu na saúde, na polícia, na Defesa. Um professor catedrático vive no espaço dos conceitos teóricos, não servindo para governar nem para gerir. Entre ele e os «operários« tem de haver muitos técnicos, gestores, quadros intermédios, com quem o cientista não stá habituado a falar.
Esta crise suscita muitas meditações sobre este fenómeno.
Um abraço
A. João Soares
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