O inspector-geral da ASAE foi apanhado a fumar, no primeiro dia deste mês, após ter entrado em vigor a guerra ao tabaco, numa sala de casino com muita gente e apresentou uma desculpa muito tosca. Isto veio recordar-me o tema do post «Obsessão da Burocracia», em 24 de Dezembro, em que referia o pretexto muito discutível de uma alta funcionária da Câmara de Setúbal que justificava a ausência de actuação do serviço que dirige contra a situação catastrófica de uma suinicultura em que morreram de fome e sede centenas de suínos, pelo facto de essa empresa não ter existência oficial, embora fosse do seu conhecimento, há mais de cinco anos que ela ali estava. Sabia na realidade, mas não sabia por via oficial!
Este caso veio confirmar que a maioria dos funcionários são formatados num sistema operativo castrador que os faz cristalizar no «sistema ortorrômbico», impeditivo de utilização cabal dos seus neurónios, nem sempre muito abundantes, como as suas atitudes parecem querer provar.
Agora, a notícia canalizada por vários meios da comunicação social, de que após a entrada em vigor da lei que proíbe fumar em recintos fechados para benefício da saúde de todos principalmente dos não fumadores que devem ser preservados dos abusos dos que fumam, foi fotografado de cigarrilha na boca o inspector-geral da ASAE. Ao ser interrogado por jornalistas, seria compreensível uma resposta do género de que o ambiente de festa da passagem de ano e o hábito o levaram a distrair-se, e estava penalizado por causar incómodo aos presentes. Mas não. Não conseguiu despir o capote de funcionário, formatado na obediência cega e incondicional à burocracia, esqueceu «o espírito do legislador» e respondeu que a lei não se aplicava aos casinos, ou talvez querendo dizer que a lei não se aplica aos locais onde ele estiver. E mesmo esta resposta parece, segundo alguns comentadores, não corresponder exactamente ao teor da lei.
E é neste sentido que um parecer emitido pela autoridade de saúde, na semana passada, considerava que os locais de jogo estão abrangidos pela legislação, pelo que neles é interdito o fumo. Francisco George, director-geral da Saúde, considera que os casinos e salas de jogo, "sendo locais fechados, não podem deixar de se incluir no âmbito da aplicação da lei", além de estarem abrangidos na lei por "serem locais de trabalho".
Isto passou-se, com o responsável pela ASAE, que é um organismo suposto zelar pelas condições de higiene e de saúde dos cidadãos! Parece lógico, racional, que se a lei não se aplica a Casinos seria de esperar que ele, com a responsabilidade inerente à instituição que dirige, já tivesse proposto que em tais locais, como em qualquer recinto fechado onde se encontram várias pessoas, algumas não fumadoras, deve ser proibido fumar. Nada deste texto se dirige contra a ASAE que, desde o início das suas actividades se tem mostrado muito dinâmica, até demasiado activa, na opinião de muitos empresários.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Mau uso da burocracia
Publicada por A. João Soares à(s) 09:28
Etiquetas: burocracia, Lei, obsessão
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5 comentários:
Sendo burocracia só pode, oder?
Abraço.
Caro A. João Soares,
Ora aqui está um exemplo bem típico da esquizofrenia do poder. O responsável da ASAE/PIDE deixa de o ser, a partir do momento em que está a transgredir as normas que a sua instituição implementa, por capricho, prepotência, porque lhe apetece...
Quantos cigarros teremos que acender para deitar abaixo tanta autocracia?
Um abraço amigo
Caro Jorge Borges,
Há pouco tempo, levantou polémica a opinião do IGAI (Inspector-Geral da Administração Interna) que disse que as Polícias vêm em cada cidadão um inimigo. A sensação com que se fica é que essa doença é comum a toda a máquina do Estado. O dono da ASAE provou, com a sua justificação ao ser apanhado a fumar em restaurante fechado, que a lei que proíbe esse acto, não é para beneficiar os cidadãos, mas sim para prazer do Poder em PROIBIR mais uma liberdade do povo. E ele, como privilegiado, beneficiado com a imunidade dos poderosos, não teve o mínimo escrúpulo em a infringir.
Olhando a lei pelo lado do benefício que traz aos NÃO FUMADORES, conclui-se que tal senhor, em vez de defender os cidadãos de acções que prejudicam a saúde, como devia ser apanágio da ASAE, não tem pejo em prejudicar com o seu fumo as pessoas que se encontram com ele em ambiente fechado. Falta de consciência e aquilo que o amigo diz: esquizofrenia, capricho, prepotência, porque lhe apetece.
É a doença do PODER colocado em mãos criminosas.
Abraço
Amigo A.João Soares.
Gostei do post.
E também da sua resposta ao J.Borges.
Ora, perante este estado de coisas, pergunto:
-Os portugueses perderam a coragem?
-São adeptos do medo?
-Não vão resistir a esta arrogância?
....
Fico estupefacto desta passividade.
Falam tanto da PIDE/DGS, que era assim; que era assado...
Afinal, a ASAE é bem pior (nunca a PIDE proibiu tanto)... e ficam calados, quietos, cheinhos de medo.
Então? Aonde estão os "revolucionários"...
Os lutadores pelas causas da liberdade?
Os campeões que luta contra a opressão e o... "fáxismo"?
Aonde estão aqueles que até se gabam de ter fugido das cadeias da tenebrosa PIDE, para o exílio?!!!
Que é feito dos "heróis"?
OU SERÁ QUE NUNCA O FORAM?!!!
OU, PIOR AINDA...
QUANDO FUGIRAM,(se é que fugiram) DERAM-LHES A FUGA?!!!
Será que o 25 de Abril, em vez de dar a "tal" liberdade ao "poBo" "uprimidu", em vez de o libertar... capou-lhe os tomates?!!!
Dá-me que pensar...
Um Abraço Amigo J.Soares.
Camilo,
Dá mesmo que pensar!
Estas e outras mostram que o País está na lama ou no pântano como disse Guterres. E não se vislumbra motivo para uma esperança fundamentada.
Parece que esta estupidez é característica do nosso povo, defeito de fabrico. Há textos do Eça, do Guerra Junqueiro e de outros que já mostram queixas semelhantes. Os portugueses mais válidos tiveram a feliz ideia de emigrarem. Os outros ficaram como sedimento inerte no fundo do charco e, dos piores que nem sequer servem para vendedores ambulantes, sairam os políticos!
Um abraço
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