segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Contra acumulação de pensões e salários

Há notícias muito esclarecedoras sobre o funcionamento da nossa democracia. Vejamos esta: Governo concorda com fim da acumulação de pensões e salários de ex-políticos. A ideia para o corte vai ser avançada pela coligação parlamentar, depois de ser tornada pública uma lista de diversos políticos que acumulam ordenados do sector privado com uma subvenção vitalícia prevista por lei para quem deixou de ter cargos políticos. Para os ex-políticos que recebam salário do sector público, esta acumulação já não é permitida.

A lista veio a público na notícia Conheça os ex-políticos que acumulam pensões com salários no privado e dela constam, como exemplo:

Álvaro Barreto. Ganha 3400 euros mensais. Cargo actual - Reformado com funções não executivas, nomeadamente na Tejo Energia. Cargo anterior - Ministro de várias pastas.

Zita Seabra. Ganha 3000 euros mensais. Cargo actual - Presidente da administração da Alêtheia Editores. Cargo anterior - Deputada do PCP e do PSD.

Joaquim Ferreira do Amaral. Ganha 3000 euros mensais. Cargo actual - Membro não-executivo da Administração da Lusoponte. Cargo anterior - Ministro do Comércio e Turismo.

Jorge Coelho. Ganha 2400 euros mensais. Cargo actual -Presidente da Comissão Executiva da Mota-Engil. Cargo anterior - Foi deputado e ministro adjunto e das Obras Públicas.

Ângelo Correia. Ganha 2200 euros mensais. Cargo actual - Presidente do Grupo Fomentinvest da Lusitaniagás. Cargo anterior - Deputado e ministro da Administração Interna.

Duarte Lima. Ganha 2200 euros mensais. Cargo actual - Advogado na área de gestão de fortunas. Cargo anterior - Deputado, antigo líder parlamentar do PSD.

Rui Gomes da Silva. Ganha 2100 euros mensais. Cargo actual - Advogado e vice-presidente do Benfica. Cargo anterior - Deputado, ministro dos Assuntos Parlamentares.

Armando Vara. Ganha 2000 euros actuais. Cargo actual - Presidente da Camargo Corrêa. Cargo anterior - Deputado, ministro da Juventude e membro do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos.

António Vitorino. Ganha 2000 euros mensais. Cargo actual - Advogado na área de negócios. Cargo anterior - Deputado, eurodeputado, comissário europeu e ministro da Defesa.

Dias Loureiro. Ganha 1700 euros. Cargo actual - Ex-gestor da SLN, detentora do BPN. Cargo anterior - Deputado e ministro dos Assuntos Parlamentares e da Administração Interna.

Bagão Félix. Ganha 1000 euros mensais. Cargo actual - Professor catedrático da Universidade Lusíada e gestor. Cargo anterior - Deputado e ministro das Finanças.

A notícia sugere várias reflexões que não são novidade mas nem sempre são olhadas como merecem.

Primeira reflexão: A legalidade com que os políticos argumentam para justificar os seus abusos, é uma criação sua que foi crescendo em parasitismo, transformando-se num vício difícil de exterminar. Para retirar este cancro, tal como os dos abusos de subsídios de alojamento e outros, é preciso coragem heróica. Mas esta não aparece espontaneamente, pois precisa de um estímulo, uma espoleta exterior à máquina obesa do Estado.

Ao falar-se em tal estímulo, surge a segunda reflexão que versa o facto de os políticos terem tendência para as rotinas pachorrentas meio adormecidas e só actuam activamente quando são pressionados. Sem pressão não abandonam a modorra.

Aparece assim a terceira reflexão, a necessidade de a comunicação social, os sindicatos e outras formações sociais, conscientes do seu papel democrático, alertarem para factores patológicos e mostrarem a necessidade de os curar, a fim de evitar convulsões indesejáveis. Neste caso, a primeira notícia referida diz que o Governo se propõe agir «depois de ser tornada pública uma lista». Fica assim realçado o papel aqui desempenhado pelos jornais. Estes, com efeito, apesar dos muitos senãos que lhes são apontado, devem ter um papel muitíssimo importante na recuperação de uma verdadeira democracia pressionando os políticos no sentido de respeitarem os interesses nacionais, dos cidadãos, em nome dos quais, como seus mandatários, gerem o funcionamento da máquina do Estado. Sem tal denúncia, assiste-se ao desprezo das pessoas, sacrificadas a números manipulados friamente sem olhar aos efeitos na população.

Imagem de arquivo

3 comentários:

A. João Soares disse...

Duas opiniões sobre este tema:

Marcelo defende limitação à acumulação pensões

Louçã critica pensões vitalícias na política e diz que corte vem “tarde”

O Governo irá agir e já o devia ter feito. É certo que perderá os votos dos tachistas que serão lesados por terem de parar com a mama. Mas ganhará votos de uma grande parte da população se estas medidas forem explicadas de forma clara e leal. O resultado será bom, será a recompensa de uma boa acção.

Táxi Pluvioso disse...

O povo vota e depois não quer pagar? o povo vota por convicções clubísticas e não por projetos ou honestidade política. E até gosta. Há caso mais exemplar que o Mário Soares? fez a descolonização exemplar, foi votado e revotado, deu várias voltas ao mundo à conta do erário, para se vingar de Salazar que o confinara a Paris, meteu Portugal, por falta de discernimento e favor à social-democracia europeia, numa moeda falsa chamada euro, e agora é um savant português. O povo gosta, tem de pagar, não há sábios de borla, tal como não há almoços.

A. João Soares disse...

Caro Táxi Pluvioso,

É estranho que não surja um «acto de indignação» mais visível e audível do que as mansas manifestações de rua.
Onde estão os descendentes do Viriato e do D. Nuno Álvares Pereira?

Abraço
João