"Há ideias feitas sobre a revolução"
Isabel Teixeira da Mota
Entrevista historiadora que apresenta hoje o livro que pretende desconstruir mitos.
O período revolucionário continua envolto em muitas ideias feitas e controversas. A Esfera dos Livros pediu à historiadora Maria Inácia Rezola, com uma tese sobre o papel dos militares no 25 de Abril, para dar a conhecer a um público não académico este período da História. A autora aceitou o desafio e hoje é lançado em Lisboa o seu livro "25 de Abril, Mitos de Uma Revolução".
Jornal de Notícias - Não lhe parece um título ousado?
Maria Inácia Rezola - Este livro não pretende ser uma tese académica. O desafio que me foi lançado foi o de fazer uma síntese sobre a Revolução para dar a conhecer a um público não académico este período histórico.
Que não está muito familiarizado com a verdade histórica da Revolução. É isso?
Precisamente. Há ainda histórias por contar, factos não revelados e alguns episódios que ainda hoje geram profunda controvérsia.
Daí que não lhe choque falar em desconstruir mitos da Revolução.
Sim, há de facto algumas ideias feitas e pré-concebidas, por exemplo a visão da revolução como luta entre militares e civis ou o papel do MFA.
Quais são, se se pode dizer assim, esses mitos que pretende desfazer?
A Revolução como luta entre militares e civis; a institucionalização do MFA e o pacto MFA-Partidos; o V Governo Provisório e o perigo de sovietização do país; o 25 de Novembro. São pelo menos alguns assuntos que procurei destacar.
Falemos então do MFA. Que lugar teve, afinal, na transição?
É curioso que o início da legitimidade parte dos próprios partidos políticos, que usaram estratégias de "colagem" por se aperceberem da sua enorme fragilidade. Não se pode dizer, de facto, que foi a sociedade civil que garantiu a transição.
Foram os militares?
Não há dúvidas quanto à supremacia do poder militar sobre o civil - é um facto. O MFA alcançou um grande protagonismo na promoção da democracia pluralista, apesar das correntes que mais tarde vieram a fragilizá-lo.
Sobre o Movimento dos Capitães, o que há a dizer de novo?
A origem do movimento teve, em primeiro lugar, razões exclusivamente corporativas, e isso tem de ser salientado. Em segundo lugar, de prestígio militar, e só muito em terceiro lugar teve como motivação a guerra colonial. Basta ver com atenção a reunião de Cascais de 74.
Também dá largo destaque ao 25 de Novembro e pergunta "quantos existiram". Porquê?
O 25 de Novembro continua a ser um dos episódios com mais leituras divergentes. Não só os próprios protagonistas se sentiram ultrapassados pelos acontecimentos, como subsiste a polémica em torno de se saber se houve ou não uma tentativa de golpe de estado mais ou menos preparado.
A Decisão do TEDH (396)
Há 1 hora
2 comentários:
Sobre os militares de Abril tenho a dizer que só conheci (pessoalmente) dois rectos e desinteressados, embora em lados opostos da barricada naquela manhã de 25 de Abril.
Um é o Coronel David e Silva na reserva, então alferes de Cavalaria 7 e durante muitos anos o oficial às ordens do Marechal Spínola e por quem tenho uma consideração especial.
Outro, o saudoso Tenente-coronel Fernando Salgueiro Maia, de quem e muito bem o definiu assim:
Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu a paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício
Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse
(Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen
Dedicado a Salgueiro Maia)
Pessoalmente, não conheci nenhum destes oficiais. Do que sei de Salgueiro Maia, acho-o merecedor de todas as homenagens, pela sua generosidade sem ambição, sem busca de recompensa, de visibilidade de poleiro. Uma imagem, de homem raro nos nossos tempos, que convém reter na memória colectiva.
Abraço
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