Cavaco quer melhor democracia, PSD critica «claustrofobia»
A sessão comemorativa do 25 de Abril foi hoje marcada pelo apelo do Presidente da República à qualidade da democracia e pelas críticas do PSD ao clima de «claustrofobia democrática» no país.
No seu discurso perante a Assembleia da República, Cavaco Silva apelou aos políticos para que «unam esforços» a favor da «qualidade da democracia» e defendeu a necessidade de uma «classe política qualificada» e «critérios de rigor ético, exigência e competência».
«É necessário que os agentes políticos se empenhem mais na prestação de contas aos cidadãos, que os portugueses conheçam e compreendam o sentido e os objectivos das medidas que vão sendo adoptadas, que exista clareza e transparência na relação entre o poder político e a comunidade cívica», acrescentou Cavaco Silva que, mais uma vez, não usou o cravo vermelho na lapela.
O Presidente defendeu que deve existir «uma clara separação entre actividades políticas e actividades privadas, que as situações de conflito de interesses sejam afastadas por imperativo ético e não apenas por imposição da lei».
Portugal deve «pensar-se como democracia amadurecida», em que «o escrutínio dos poderes seja assegurado por meios de comunicação social isentos e responsáveis», exemplificou Cavaco.
A comunicação social foi igualmente um dos temas da intervenção do PSD na sessão solene no Parlamento, que defendeu que Portugal vive um tempo de «claustrofobia democrática e constitucional».
«Como garantir e realizar essa democracia de valores, essa república da tolerância e do pluralismo, se nunca como hoje se sentiu uma tão grande apetência do poder executivo para conhecer, seduzir e influenciar a agenda mediática?», questionou o deputado social-democrata Paulo Rangel, uma intervenção classificada pelo primeiro-ministro, José Sócrates, de «bota-abaixismo».
A oposição de esquerda insistiu na degradação da qualidade dos serviços públicos desde o 25 de Abril e aproveitou a sessão solene para exigir a realização de um referendo europeu, enquanto o CDS pediu uma sociedade menos dependente do Estado.
Nas reacções ao discurso de Cavaco Silva, o primeiro-ministro elogiou a intervenção do chefe de Estado, considerando «muito apropriado» o apelo presidencial ao reforço da qualidade da democracia.
Nos partidos, PCP, BE e PEV criticaram as «omissões» de Cavaco Silva quanto às «dificuldades dos jovens» e quanto ao referendo sobre o tratado constitucional.
Por seu lado, o líder do PSD, Marques Mendes, elogiou o discurso do Presidente da República, por «convocar a juventude para os desafios» que o país enfrenta, enquanto o presidente do CDS-PP, Paulo Portas, destacou o «alerta» sobre a necessidade de maior conhecimento histórico.
Apesar de não ter feito qualquer proposta concreta, Cavaco Silva sugeriu que se repensasse o modelo de comemorações do 25 de Abril, para que não se torne «um ritual que já pouco diz» aos portugueses.
Numa sessão mais curta e menos participada do que no ano passado - o ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes não esteve presente -, o presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, defendeu o reforço da competência fiscalizadora do Parlamento à actividade do Governo, no âmbito da reforma do órgão de soberania a que preside.
Antes da intervenção de Jaime Gama, um incidente perturbou por momentos a sessão solene, quando um homem que assistia nas galerias se manifestou aos gritos, sendo rapidamente retirado pela polícia.
A Decisão do TEDH (394)
Há 11 minutos
2 comentários:
«claustrofobia democrática» - mais umas palavras para o vocabulário "politicamente correcto". O PR...é sempre alguém algemado das formalidades e do puritanismo...
Ainda assim...ele existe!!!
Abraço
Paulo
Os políticos, em vez de se esforçarem por encontrar soluções para os grandes problemas do País, preocupam-se em encontrar frases e palavras bombásticas, que nada mais são do que água destilada, que não têm efeitos senão para as suas diatribes inócuas e vazias de conteúdo.
O PR não pode fugir à formalidade e ao bom senso. As suas palavras, dada a posição que ocupa, têm que ser muito ponderadas, porque se diz algo mais ousado cai-lhe em cima o Carmo e a Trindade. Nisso, o Sampaio usava a lábia do homem de direito que é capaz de um discurso «erudito» hermético que ninguém percebia, nem ele!
Mas, o que Portugal precisa não são discursos mas sim acções coerentes e eficazes. Vejamos o que os próximos meses nos trazem.
Abraço
João Soares
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