De um Professor indignado... porque competente!
Indignado... porque ama ensinar!
Indignado... porque se realiza no trabalho produzido com os alunos!
Indignado... porque procura preocupar-se com o essencial!
Por isso a publico.
From: Fernando Pena
To: cartasaodirector@sol.pt
Senhor Director,
Li há pouco que o Ministério da Educação decidiu acrecentar meia hora ao tempo de resolução do exame nacional de Matemática de 12º ano. A medida não é nova; já o ano passado se fizera o mesmo. Um destes dias os alunos que contem com farnel.
Curiosamente, ao acréscimo de tempo do ano passado não correspondeu qualquer aumento de tamanho ou dificuldade da prova. Pelo contrário, as questões eram simples (simplórias seria mais adequado) e ainda se retirou a penalização por resposta errada nas perguntas de escolha múltipla, abrindo-se a porta à lotaria dos ignorantes. Presumo que no presente ano a coisa não mude muito.
Temos, assim, uma nova operação de cosmética académica, em que a má preparação dos alunos é disfarçada por portaria. O que me parece bizarro é que os senhores professores da indignação assistam impassíveis à degradação recorrente do ensino. Gerações sucessivas de alunos têm sido aniquiladas pelo "eduquês", por modas pedagógicas criminosas, pelo laxismo, por programas imbecis, por uma escola que não ensina nem educa. Os donos da educação em Portugal têm cavado o abismo do nosso futuro, sem que os docentes saissem para a rua, cuidados que estavam das suas reduções de horário, da sua progressão por antiguidade, das suas folgas semanais, do seu absentismo justificado, das suas acções de formação inúteis, da sua função moderna de «facilitadores da aprendizagem».
Os resultados em Matemática repetem-se à saciedade: médias negativas nos exames nacionais, dificuldades extremas nas disciplinas universitárias, prestações muito insatisfatórias em estudos internacionais. Pode o Ministério superiormente mascarar o desastre com medidas avulsas de sucesso fabricado. Mas o essencial não muda, neste nosso modelo centralizado, dirigido pelo Estado, sem mudança nem esperança.
Sou professor num estabelecimento de ensino que lecciona o Bacharelato Internacional, curso secundário de reconhecido prestígio mundial. Olho de relance, no final desta carta, para os livros de texto dos meus alunos. Quase um milhar de páginas sóbrias e sérias, sem puerilidade nem diversão. A solução está aqui tão próxima: currículos exigentes, avaliação rigorosa, esforço, estudo, mérito. De alunos e professores.
Num país em liquidação, como é que se enche as ruas por um prato de lentilhas?
Fernando Pena
A Decisão do TEDH (399)
Há 9 minutos
8 comentários:
Vamos lá a ver se nos entendemos:
Que tipo de cidadãos são desejados para este país?
Cidadãos competentes, bem preparados nas diversas áreas de trabalho, possuidores de um sentido crítico forte?
Então só há um caminho a seguir:
Educação que passe por "currículos exigentes, avaliação rigorosa, esforço, estudo, mérito. De alunos e professores."
Cidadãos mal preparados, que necessitem sempre de uma supervisão adequada, de uns cães de guarda, e que se limitem a fazer aquilo que lhes dizem para fazer, dando-lhes como rebuçado uns futebóis, uns empréstimos para carros novos e para uns leitores de DVD e aparelhgens de som, que já os deixam felizes e contentes, enfim a chamada "carneirada"?
Para este objectivo só há um caminho a seguir:
O actual.
P.S.- Mas... não era disto que já nos queixávamos há 50 anos atrás?
Caro A. João Soares,
A carta que publicou é de grande interesse, embora, na minha modesta opinião, tente desvalorizar a luta da classe dos professores, face a outras questões não menos importantes.
O que tem estado em questão na recente luta dos professores são questões que afectam a qualidade do ensino em geral, não apenas exigências corporativistas. É para que possa haver melhor qualidade de ensino, como refere o prof. Fernando Pena, que não se enchem as ruas "por um prato de lentilhas".
Um abraço amigo
Nem sempre é fácil avaliar conhecimentos, ou sequer adequar os programas às necessidades dos cursos a que os estudantes podem ter acesso. Penso que grande parte dos problemas se situa nos programas que se administram, onde se crescentam coisas muitas vezes absolutamente desnecessárias. Os curriculos escolares estão demasiado sobrecarregados com matérias sem aplicação prática, dpois recorre-se ao facilitismo para que não seja evidente a falta de aproveitamento.
Cumps
Xelb,
Mesmo que fosse assim há 50 anos atrás, já não é cedo para entrarmos na modernidade, na era da informática, da informação, do saber.
Os nossos herdeiros merecem que lhes deixemos um País melhor do aquele que nós recebemos. E, por mais que façamos, eles irão chamar-nos muitos nomes feios pela desgraça que vão receber. É altura de melhorarmos a herança!
Temos de entrar em força na sua primeira hipótese.
Abraço
A. João Soares
Caro Jorge Borges,
Tenho aqui manifestado apreço pelos professores. Mesmo que os haja de má qualidade, não tenho dúvidas de que a maioria é competente e está entusiasmada com o seu trabalho e interessada em que este possa contribuir para a criação de gerações melhores do que a anterior. Nem todos estão a lutar por um prato de lentilhas.
O mal está na mentalidade de quem está no ministério e que não sabe as realidades do ensino. Este ministério virou-se contra os professores em vez de procurar melhorar o ensino com eles, com a sua colaboração positiva. O mesmo se passou com o ministério da saúde contra médicos, enfermeiros e farmacêuticos, e na Justiça contra os juízes.
Alguns membros do governo parecem apostados em destruir o País e as suas estruturas.
Um abraço
A. João Soares
Amigo Guardião,
Palavras de quem conhece. Estou convencido de que isso é verdade. A minha experiência diz que é uma ambição inepta querer saber tudo com pormenor. O ideal parece ser aprender o essencial, que possa servir como base para futura especialização e aprender a investigar a ter curiosidade em ir à procura dos pormenores, das interacções entre os factos. O gosto pelo estudo é mais fértil do que decorar muitos manuais.
Já tinha 10 anos de profissão quando fui fazer um curso que hoje poderia chamar-se de pós-graduação, em que era preciso perceber um pouco de tudo, mas um dia um professor alertou: Vocês não são especialistas, para resolver os problemas precisam de consultar os especialistas respectivos, mas têm que saber dialogar com eles e utilizar depois as conclusões deles e fazer a conjugação dos dados dos diversos sectores.
Penso que estas palavras não são tontas, pois um rapaz não deve perder-se em pormenores demasiado miúdos num disciplina esquecendo as outras e ficando sem uma visão de conjunto para poder gerir a sua vida e resolver os problemas que venham a surgir-lhe. Melhor do que dar uma cana é ensinar a pescar.
Abraço
A. João Soares
Caro a. joão soares:
Apenas me referi a 50 anos atrás, porque o que se passava então, é o mesmo que se passa agora. Só que hoje é tudo encapotado. Toda e qualquer restrição à liberdade de cada um, nesse tempo era feita com prisão; hoje é feita com frases que invariavelmente começam com:
"Para sua segurança..."
"para sua própria defesa..."
Os governantes deste país (e de outros) não são apenas incompetentes. E quem assim pensar será no mínimo ingénuo.
Xelb
O argumento que refere «para sua segurança» é realmente um truque que está a ser muito utilizado para usar todos os meios ditatoriais para controlo das populações, para restringir as liberdades da população. Já temos a videovigilância por todo o lado e teremos em breve a campanha da implantação de chips em idosos, para os recuperar quando se afastam de casa, já desmemorizados pela idade, e nas crianças para as encontrar quando são raptadas.
Dentro em breve o chip acabará por ser obrigatório, «para sua segurança».
Estas campanhas, inserem-se em campanhas já descritas nos anos 30 no livro de George Orwell, 1984, em que o principal personagem era o Bigbrother.
Vale a pena ler as obras que se referem às tácticas em uso para o domínio totalitário do mundo por grupos já bem conhecidos. A marcha para os objectivos está em andamento regular.
Um abraço
A. João Soares
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