segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ter ou não ter «solanum lycopersicum

Transcrição seguida de NOTA:

Masculinidade e virilidade
Jornal de Notícias. 20-09-2010. Por Manuel António Pina

A crer no primeiro-ministro luxemburguês (e um primeiro-ministro luxemburguês está sempre no topo da lista de gente que merece crédito no que toca a bisbilhotices), a discussão entre Sarkozy e Durão Barroso sobre as deportações de ciganos em França terá sido "máscula e viril". A notícia trouxe-me à memória a síntese crítica que João Gaspar Simões um dia fez no DN sobre determinada obra literária: "Máscula e viril, sem deixar de ser realista".


Masculinidade e virilidade (palavras femininas, como judiciosamente observou Prévert) remetem, de facto, mais para o realismo mágico ou a literatura fantástica do que para o realismo puro e duro. Dir-se-iam, por isso, independentemente de eventuais divergências acerca de como "fazer a coisa", adequadas a classificar as diferenças ideológicas que haja entre Sarkozy e Barroso quanto a ciganos e indesejáveis em geral. O mesmo não se pode dizer da oposição do PS à condenação pela AR das deportações de ciganos. Sendo talvez "realista", foi tudo menos "máscula e viril", encaixando-se, sim, no concorridíssimo e previsível género parlamentar da cobardia política.

NOTA: «Cobardia», embora conceito ajustadamente aplicado, parece demasiado «másculo e viril» para os nossos políticos mansos, conformados, tolerantes, acomodados, usando a táctica muito divulgada do tabu e do ‘a bem dizer’. Há muita falta de «Solanum lycopersicum»!!!. Muitas vezes tal audsêm+ncia é camuflada por arrogância, abuso do poder, ou levantamento do braço à voz do pastor, como aconteceu na aprovação por unanimidade da «lei da rolha» no congresso do PSD ou na votação da lei de financiamento dos partidos na AR.

E desta maneira informe, plástica e moldável, em que não se nota sinal de coluna vertebral, se tem receio de rever seriamente a Constituição nascida em época tumultuosa e geneticamente doente, e se vai empurrando Portugal para o fim do mundo, para trás de pequenas repúblicas quase ignoradas.

Venha depressa o D. Sebastião!!!

Imagem da Net

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Pois é, caro João.
Há para aí muito boa gente que gosta de dançar o quebra-nozes.
Como é um bailado complicado, a maior parte quebra mesmo "as nozes".
Um abraço

A. João Soares disse...

E, depois de quebradas as nozes resulta esta apagada e vil tristeza, misto de apatia, de acomodação e de medir tudo em função do benefício pessoal que daí advém.
E em tal estado de depressão, estão prontos a seguir qualquer pastor que lhes aponte o caminho que ele quer que sigam. Os geniais congressistas do PSD, ao chegarem à rua e verem o ar livre, todos unanimemente se arrependeram daquele voto, talvez sob a batuta de outro pastor!!! Um cata-vento em dia de temporal não faria melhor.

Mas o povo vota nesta gente!!!

Um abraço
João
Do Mirante