O presidente da República, Cavaco Silva, apelou hoje, aos portugueses que "ponham de lado as divisões", uma vez que o país precisa de "coesão e união de esforços" para enfrentar as dificuldades que sente.
Este apelo ou conselho vem ao encontro do lema muito antigo de que «a união faz a força», mas só pode ser inteiramente aplicável a uma pequena equipa organizada com um líder incontestado e, portanto, disciplinada e disposta a seguir o chefe para onde ele decidir ir.
Ora, na realidade política em democracia, tal chefia incontestada e portanto seguida sem hesitações, não existe. Mesmo dentro dos partidos a união e a coesão em torno do chefe, não passa de miragem. A nível nacional, além da opinião individual há a ausência de monolitismo nos partidos e as diferenças com que estes vêm os objectivos e as estratégias nacionais. Daqui se conclui que só é possível tal coesão e união de esforços se todos os partidos da oposição decidirem apagar-se, colocar de lado as suas ideologias e convicções e, mesmo discordando, se submeterem ao Governo mesmo nas coisas que entendem ser erros crassos contra os interesses dos portugueses. Seria uma democracia asfixiada, extinta, melhor merecendo o epíteto de ditadura.
Portanto aquelas palavras, que parecem sensatas, carecem de conteúdo prático e de uma boa explicação sobre a forma de se tornarem concretas para enfrentar as dificuldades que todos estamos a sentir, desde há demasiado tempo. Gostaria que me dissessem com quem devo ser coeso e a quem devo unir os meus esforços, em cada momento do dia.
Mas, provavelmente, o PR queria referir-se ao caso concreto da aprovação do orçamento. Porém, nesse caso, é preciso negociar as condições, os pormenores do documento, para que ele mereça a aprovação dos votos suficientes para ser aprovado. Não pode ser o PS a ceder em toda a linha nem os outros partidos a aceitarem aquilo de que discordam inteiramente. E será bom que nessa preparação da decisão haja sentido de Estado, seja sempre dada prioridade aos interesses nacionais. Só estes merecem concentrar a coesão e a união de todos os esforços.
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