Numa aula de técnica de informação, o saudoso professor, pai do Professor Luís Campos e Cunha, dizia que o valor da notícia depende da sua raridade, excepcionalidade e exotismo. Um cão morde um homem não é notícia, mas um homem morde um cão já o é.
Por termos diferentes, Mário Crespo expressa conceito semelhante quando defende que é notícia aquilo que os interessados procuram ocultar e negam por todos os meios.
E, quando os lesados negam em voz alterosa e veemente, tornam mais inverosímil a credibilidade da notícia que querem fazer passar, dando mais realce ao que querem ocultar Esta acaba por ser logicamente proporcional ao calor com que é combatida.
A notícia «falsa» ou «intencional» não é anulada pelo bramar furioso dos lesados e que, por serem parte na causa, não inspiram confiança. É raro o arguido confessar o crime!, sendo de esperar que ou não responda ou minta. A boa solução para esclarecer e desmontar eventual «manobra» tem que assentar no esclarecimento cabal levado a cabo por entidade isenta, independente, sem sofrer pressões de qualquer espécie. E, para essa entidade devem ser carreados todos os dados existentes que possam contribuir para clarificar o assunto em causa, a não ser que se trate de contributos que possam ser marginais e de pouca importância para o fim em vista. Qualquer ocultação ou dialéctica desviante das atenções é negativa e gera ou aumenta suspeitas que podem ser de longa duração na memória das pessoas. E quanto maior é o esforço para ocultar a essência do caso, mais elevado é o estímulo para o jornalista valorizar os «indícios técnicos», coligi-los, compará-los até poder fazer uma súmula com lógica e verosimilhança para trazer a público uma grande «caxa».
Não é muito lógico acusar um jornalista de quebrar o sigilo, seja do que for, pois se um assunto é sigiloso, cabe aos funcionários que com ele lidam evitar que chegue ao conhecimento de pessoas não autorizadas.
O jornalista, perante uma resposta do tipo «sobre isso não falo porque que é matéria classificada, apenas tem que respeitar o silêncio do interlocutor e não insistir, embora fique a saber que existe «algo» que não lhe querem divulgar.
Portanto, o que é secreto não deve ser divulgado nem ao maior amigo, o que exige o maior rigor de quem trabalha com ele. O papel do jornalista não é guardar segredo, mas sim, informar os seus leitores sobre tudo o que sabe e as suas notícias têm mais valor se forem inesperadas, exóticas, invulgares, raras do género «o homem mordeu o cão».
Se um funcionário que é obrigado ao segredo, conta um facto sigiloso, a um jornalista não pode esperar deste maior discrição que a sua própria, visto este, por formação profissional, não estar sujeito a qualquer obrigação desse género nem foi ajuramentado para isso. É fácil, por isso, concluir que o sigilo constitui uma responsabilidade intransmissível dos funcionários que são obrigados a guardá-lo.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Valor da notícia
Publicada por A. João Soares à(s) 22:30
Etiquetas: jornalistas, notícia, segredo
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2 comentários:
Caro João,
Como sempre Mário Crespo vem a terreiro com um artigo a desmontar as ameaças aos jornalistas por desvendarem situações sigilosas.
Ele diz e bem que quem as desvenda não são os jornalistas mas quem devendo guardá-las as transmite.
E, mais, ele diz com muita razão que quem se defende não esclarecendo mas ameaçando tudo e todos fica à mercê de dúvida permanente acrescida, até esclarecimento total do assunto.Era bom portanto que em vez de ameaças se prontificassem a dar todas as explicações para que deixassem de haver suspeições. É só isso que se pede mas às vezes é difícil explicar o inexplicável! Não será assim?
Caro Luís,
Vários cronistas dizem o mesmo. Não admira, porque essa é a lógica. Não me recordo se foi o João Miguel Tavares que disse que a justiça pode não considerar suspeito um governante mas o povo se tiver suspeitas e estas não desaparecerem por serem devidamente esclarecidas, serão mantidas para sempre, como uma nódoa indelével no bom nome da pessoa.
Portanto a solução é esclarecer, tirar qualquer dúvida, sem pressões, sem gestos e palavras de fúria, sem malhação. Quem não deve não teme.
Depois o povo que o PS considera sábio e sensato porque lhe deu a maioria absoluta, julgará em seu entendimento.
Um abraço
João Soares
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