O Sr. ministro Aguiar-Branco disse:
“Há uma coisa que é verdade. Nós se calhar não temos comunicado tão bem todos os cortes que temos feito da despesa”
Se calhar, é verdade que o Sr. ministro não reparou no desajustamento das duas partes desta afirmação - «há uma coisa que é verdade» e «nós se calhar» - pois a «verdade» refere uma certeza enquanto que o «se calhar» suscita dúvidas, incertezas.
Se calhar, essa coisa não é verdade…
Se calhar, é verdade que o Sr ministro quer lançar mais confusão e angústia nas mentes já muito perturbadas dos portugueses.
Se calhar, é verdade que, ao atribuir as culpas ao que se passou há muito mais de um ano deseja que os portugueses não pensem nos sacrifícios que lhes têm sido impostos, inutilmente, desde há cerca de um ano e três meses.
Se calhar, é verdade que não gosta que se pense que o número monstruoso de fundações, observatórios, empresas públicas e municipais continua praticamente intacto, apesar das promessas.
Se calhar, é verdade que o Sr. ministro não deseja que se diga que o aumento do IVA e de todos os cortes em benefícios, existentes desde há muito, apenas afectam os mais necessitados e deixam de fora aqueles que o professor Freitas do Amaral classifica de privilegiados, muito privilegiados e tubarões.
Se calhar, é verdade que não reparou que de todos os sacrifícios impostos não veio melhoria para os portugueses, nem no défice, nem no desemprego, nem na actividade económica (baixou o consumo, a venda de automóveis, de combustíveis e as pequenas empresas têm fechado em grande quantidade), nem no número de sobre-endividados, nem na quantidade de suicídios, nem na violência doméstica e entre amigos, etc.
Se calhar, é verdade que o Sr. ministro não quer assumir que tem aumentado no Governo a quantidade de assessores jovens e inexperientes que não foram ajudar os governantes a decidir mais correctamente e evitar erros que depois se vêem na necessidade de corrigir.
Se calhar, é verdade que o Sr ministro não quer confessar que tem havido muitos abusos na utilização de funções para fazer favores a amigos e coniventes.
Se calhar, é verdade que o Sr ministro não esperava que os eleitores do PSD, depois de ouvirem as promessas eleitorais e as que se seguiram à posse do Governo, têm sido muito surpreendidos por a vida dos mais pobres ter piorado drasticamente desde há 15 meses e não verem sinal de a queda ser atenuada.
Se calhar, é verdade que o Sr. Ministro não concorda com a JSD quando ela
exige ao Governo mais equidade na distribuição de sacrifícios e medidas de corte na despesa.
Se calhar, é verdade que o Sr ministro não quer confessar que sabe que com a nova dose letal de austeridade, os salários mais baixos da função pública são os que podem perder mais dinheiro.
Se calhar, é verdade que o Sr ministro, como profundo conhecedor do Direito, não discorda dos Magistrados que consideram "inconstitucionais" novas medidas de austeridade.
Se calhar, se calhar, sabe-se lá…
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