sexta-feira, 8 de junho de 2012

Guerra de alecrim e manjerona

Uma medida sócio-política ou económica ou de outro sector da vida, em princípio, resulta de um estudo e de comparações entre várias hipóteses possíveis, e da escolha de uma destas, depois de avaliadas as vantagens e os inconvenientes de cada uma. Por vezes, a escolha não é fácil porque nada é isento de inconvenientes e a decisão pode ficar dependente da maior ou menor cotação atribuída a um dos factores.

Por isso, nada é isento de críticas, principalmente por parte daqueles que se debruçam obsessivamente sobre um factor que consideram mais importante. E, como há liberdade de expressão, cada um pode emitir a sua maneira de ver as coisas, a discordância com uma ou outra medida.

No entanto, quando o País se encontra perante uma crise que exige as mais correctas decisões em todos os aspectos, todas as opiniões e sugestões devem ser positivas e orientadas para os melhores objectivos nacionais e, nessa ordem de ideias, deve evitar-se perder tempo com variações semânticas, palavras com sonoridade mas sem conteúdo prático, malabarismos oratórios, recordando a «guerra do alecrim e da manjerona». Deve ser dada prioridade à estrutura do edifício e, só depois, aos enfeites da fachada.

D. Januário Torgal comparou Passos Coelho a Salazar tendo, em declarações à TSF, usando a sua conhecida frontalidade, dito que “Portugal não tem Governo neste momento, e vão certos senhores dar uma passeata um certo dia a fazer propaganda tipo União Nacional, de não saudosa memória, pelo país a dizer que somos os melhores do mundo”, e continuou: “Ao fim, ainda aparece um senhor que, pelos vistos, ocupa as funções de primeiro-ministro, dizendo obrigado à profunda resignação de um povo tão dócil e amestrado que merecia estar num jardim zoológico”. E referiu “parecia-me que estava a ouvir o discurso de certa pessoa há 50 anos atrás”.

Segundo o conceito expresso no início destas reflexões, estas palavras pouco têm de positivo para a escolha de pistas de saída da crise sócio-económica, embora façam uma crítica a palavras de «água destilada», inócuas, e sem interesse de alguém que devia preocupar-se mais em apontar aos portugueses factos reais de interesse para a vida nacional. As palavras de Torgal não parecem ser de nível inferior a estas.

Mas, na mesma passagem ao lado do que poderia ser importante para os portugueses e para sua motivação para lutar pela vida surgiu Marques Mendes a dizer que "comparar Passos Coelho a Salazar não é só ridículo. É ofensivo." E que o "senhor bispo não precisa de ser elogioso. Cada um tem as ideias que quer. O que não devia era ser insultuoso. E foi."

As palavras de Luís Manuel Gonçalves Marques Mendes (ex-presidente do PSD, actual comentador político no canal TVI 24, agraciado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2008) podem não ser consideradas «insultuosas», mas pecam por ser pouco comedidas e tolerantes para uma opinião que lhe não agrada. Com a sua vasta experiência na função pública e na política, bem podia aproveitar as suas aparições públicas para sugerir pistas práticas, viáveis, adequadas, para o crescimento nacional, em áreas como o emprego, o ensino, a saúde, a justiça, a segurança, etc.

No momento actual não podemos desperdiçar recursos, sejam tempo, palavras ou ideias, cada um na sua área de influência e de acordo com as suas capacidades.

Imagem de arquivo

3 comentários:

Anónimo disse...

Como já comentei no site da AOFA considero que o meu amigo D. Januário exagerou na crítica ao PM, pois até existem, segundo alguns comentadores, indícios de que a economia está a inverter a ida para o "buraco". E se não tem ocorrido problemas de OP nas ruas, como na Grécia, é porque as org.s sindicais têm conseguido controlar as manifs efectuadas.

Anónimo disse...

Comentário anterior da autoria de Manuel Bernardo

A. João Soares disse...

Obrigado Bernardo pela visita e pelo comentário.

Pessoalmente concordo que Torgal usou uma linguagem que evito.

Portou-se como um cidadão normal, um «piegas», mas a posição dele não faz esperar dele uma frontalidade como a que usa frequentemente. Devia ser mais comedido.

Mas da parte do PM, do Gaspar e de apoiantes, também há demasiada tendência para se mostrarem e dizerem banalidades e «inverdades» que os não beneficiam e conduzem a que se tenha por eles menos apreço.
Há um ano que insistiam nos termos «garanto que...» ou «asseguro que..» ou outra promessa parecida, que, algum tempo depois, não se concretizou, antes pelo contrário. Têm andado a brincar com o povo inocente, pacífico e tolerante. Mau será se, em vez de palavras menos corteses, começarem a aparecer actos de desespero e violência contra políticos e seus familiares.

Os meus artigos do género deste pretendem ser alertas para os governantes aperfeiçoarem o seu procedimento e pensarem mais nas pessoas e nas realidades do que em fantasias inconsequentes e não concretizáveis.

Abraço
João