Há algumas décadas, um dos humoristas portugueses, não me recordo se era Raul Solnado ou Camilo Oliveira, numa série televisiva, sempre que o agente da autoridade levantava o Cassetete ouvia-se nitidamente «toma que é democrático.
Esta frase vem agora á memória quando vi a notícia Passos Coelho foi vaiado e insultado em Matosinhos. A população desabafou assim da sua indignação e do seu descontentamento:
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho foi esta tarde vaiado e insultado por dezenas de pessoas, à entrada e saída do Centro de Arte Moderna (CAM) Gerardo Rueda, que inaugurou em Matosinhos.
À saída foi mesmo necessária a intervenção policial para afastar uma mulher mais exaltada, com uma criança ao colo, que ainda bateu por algumas vezes com a mão na viatura onde se encontrava já o primeiro-ministro (...)
Curiosamente, aqueles populares, com a exteriorização da consciência preocupada, embora de forma menos protocolar, manifestaram-se e mostraram estar sintonizados com o pensamento do Primeiro-Minitstro, quando este disse que ‘Cada oportunidade perdida é uma pequena tragédia de que nunca recuperamos’. E esses populares quiseram aproveitar a oportunidade da proximidade do PM.
Dizia-se há algumas décadas que o povo é quem mais ordena, que a democracia é o poder do povo. No entanto, tem havido ausência de DIÁLOGO entre o Governo e os portugueses, do que resulta uma adulteração da democracia e torna o regime numa ditadura, mais ou menos disfarçada, em que os governantes armam-se em detentores únicos da verdade absoluta e decidem sem atender aos interesses colectivos do povo. Sacam dinheiro aos contribuintes da classe média para dar aos bancos, enquanto os mais ricos do país fogem descaradamente ao fisco como foi noticiado acerca de Américo Amorim. Mas poderá haver milhares como ele.
Desta falta de transparência, desta ausência de esclarecimento honesto e eficaz surge a angústia do povo, a sua indignação, o seu descontentamento e o resultado começa a ser notado. Este caso de Matosinhos não deve ser interpretado como caso isolado e episódico, pois pode ser o primeiro sinal visível do descontentamento popular e não pode ser ignorado pelos governantes que devem rever os seus comportamentos.
O Diálogo serve para conhecer o mais completamente possível a situação com todos os factores e as causas do problema actual e serve, depois, na análise e avaliação das hipóteses de solução com vista á escolha fundamentada da melhor. Há que evitar o diálogo sem saída do estilo do usado por António Guterres, em que não se avançava para a escolha da melhor solução e para a decisão e sua implementação. Marcava-se passo em vez de marchar para o objectivo. Perdia-se tempo que é um recurso muito valioso e irrecuperável. Assim se criou o pântano a que o PM Guterres se referiu.
E o povo quando vê demoras na chegada da decisão que lhe interessa, pode gritar «toma que é democrático!». Pode exigir, de forma musculada, mudanças que não serão devidamente ponderadas e, portanto, inconvenientes. Como foi dito no post anterior, não se deve «mudar por mudar». Infelizmente, na realidade recente e actual, tem havido mudanças destinadas apenas a enganar os pacóvios, pois acabaram por deixar ficar tudo na mesma, senão pior.
Imagem de arquivo
Mais uma conquista para António Costa
Há 3 horas
3 comentários:
Em relação à necessidade de um diálogo positivo para conhecer as realidades com os problemas a resolver e esclarecer as pessoas da ponderação que conduziu às medidas tomadas, há mais sinais de alerta:
Passos Coelho confrontado com queixas de alunos em Aveiro
Passos Coelho não sabe que deve governar para o povo e não contra ele, e vai pagar caro por isso, mais cedo ou mais tarde.
Cumps
Caro Guardião,
Passos Coelho poderá não durar o tempo todo para que foi eleito e, se não agradar às forças que dominam os governos (algumas são exteriores, da finança internacional), poderá não chegar ao fim de 2012, com golpe não democrático como os da Grécia e da Itália.
Não é por ser ele. O artigo referido no post Ciclo vicioso da política mostra que as trocas entre os extremos opostos nada alteram o comportamento dos governantes, pois estes parecem estar acorrentados por forças poderosos que lhes condicionam totalmente os comportamentos. Entram numa máquina trituradora que os transforma numa massa apática, robotizada, tipo fantoche que se mexe por cordelinhos invisíveis que não controla.
E sendo assim, é preciso que os cidadãos mais válidos se decidam a Preparar um futuro melhor. Enquanto houver democracia (o que parece estar a passar de moda), o povo tem que exigir que os governantes governem com o povo para o povo. As duas notícias das ocorrências com Passos em Matosinhos e em Aveiro, mostram que o povo está acordar, consciente dos direitos de receber a contrapartida dos sacrifícios que a austeridade lhe está a impor.
Oxalá o Governo se consciencialize das suas funções perante o povo, os eleitores, e actue de forma a evitar convulsões violentas de que só beneficiam aqueles que já são poderosos.
Abraço
João
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