Há muito que não tenho aqui trazido uma das interessantes conversas com o meu amigo António, velho companheiro desde os tempos da mais tenra infância. Se as conversas anteriores versavam recordações de tempos idos e amigos comuns da escola primária, agora, como a vida nacional lhe está a repugnar com a lavagem de roupa suja a propósito da eleição de um de cinco candidatos para um cargo que dizem não ter qualquer poder e para o qual serviria qualquer português com uma minidose de sensatez, decidiu falar do caso do neto mais velho, mas com apenas 12 anos e poucos meses.
O miúdo, filho de pai português e de mãe americana de ascendência italiana, já aprendeu a pilotar aviões. Fiquei espantado e quis que ele repetisse e explicasse. O miúdo, além de bom estudante, era bom na natação, tendo conquistado vários prémios nas competições em que o seu clube entrava. Em mini-férias de inverno ia com o pai fazer ski para uma serra relativamente próxima e deslocava-se com tal agilidade que o pai sentia-se pouco à vontade para o acompanhar, pelo menos com a vista. Entusiasmado com a aviação teve aulas com um instrutor com qualidades didácticas para ensinar crianças e cedo o miúdo começou a fazer as piruetas permitidas pela fragilidade de um pequeno meio aéreo.
Mostrou-me fotografias a confirmar algo do que dizia, mas a minha incredulidade assentava na dificuldade de cá se obter a carta de condução de um simples carro que se desloca em solo rígido e não no fluido gasoso que se chama espaço aéreo. Então ele explicou que não podemos analisar os países evoluídos em comparação com o nosso rectângulo, onde o Poder tudo regula, por vezes mal o que o leva a fazer excepções e confusões criando um emaranhado «legislativo» em que ninguém conhece as linhas com que se deve coser e que originam a necessidade de cunhas e a respectiva corrupção. Cá nada se deixa, como lá, à liberdade individual suportada pela cultura do respeito pelos direitos e liberdades dos outros e respectiva responsabilização.
A propósito da excessiva regulamentação citou o caso da ASAE que funciona com a repressão da pormenorizada especificação das actividades económicas, em vez de as estruturar, simplificando a burocracia, reduzindo os circuitos de distribuição por forma a diminuir a diferença entre o preço pago ao produtor e aquele que é exigido ao consumidor final. A propósito da liberdade de comercializar os produtos, citou que o sogro de outro filho, também na América, é abastado agro-pecuário e, num dia fixo da semana, envia um camião carregado para vender directamente ao consumidor, no «farmer’s market» da cidade, um espaço maior do que um campo de futebol onde os camiões dos agricultores estacionam e, com uma balança e uma caixa registadora, vendem por um preço que, estando livre de intermediários, é bom para eles e para os clientes. Um país em que há liberdade e ausência de repressão e de caça à multa por parte do Poder.
Quando ouvi o amigo António referis a ASAE, a prioridade dada à repressão e ao cerceamento da iniciativa privada, em vez da reestruturação das actividades económicas, simplificando e tornando-as mais criativas e rentáveis, recordei-me da leitura do livro do amigo Manuel Pedroso Marques «Tempos Difíceis Decisões Urgentes».
Não é por acaso que uns países se desenvolvem e outros decaem, esquecendo períodos de grande sucesso que tiveram de ser relegados para a poeira da história.
O regresso de Seguro
Há 1 hora
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