No JN de hoje, com o título de "Interesse público", o jornalista Manuel António Pina aborda, com a sua subtileza e a perspicácia habituais, aspectos curiosos da corrupção. Por um lado, os jornalistas pegam com pinças deontológicas os casos criminais de corrupção que envolvem muitos zeros ou gente para quem os muitos zeros são triviais. O respeitinho é muito lindo e os jornalistas sabem tê-lo em atenção quando se referem aos detentores do poder, seja qual for o aspecto de este se evidenciar, político, económico, empresarial.
Por outro lado, à semelhança do touro manso que, inesperadamente, se toma de brios, encrespam-se em defesa do «interesse público», por causa de simples amendoins, o que foi notório há dias quando tantos «jornalistas correram para a porta de um tribunal onde eram interrogados uns árbitros e uns dirigentes do futebol regional, suspeitos de câmbio de 500 euros pelo resultado de um jogo». O "interesse público" da semana era o Lamego-Cinfães. E a notícia era que o resultado foi, mais euro menos euro, 2-2.
A volubilidade de conceitos jornalísticos, como o de "interesse público", seria tema interessante para uma tese de doutoramento em Comunicação Social. É que parece ninguém se ter interessado minimamente por saber quais são as "grandes empresas" que o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais acusou de estarem envolvidas em crimes de fraude fiscal, provavelmente de valor superior a 500 euros! Bem tentou o secretário de Estado espicaçar a curiosidade de jornais e jornalistas com a lista das "1000 maiores empresas portuguesas" e bem o presidente da CIP deixou cair, como as senhoras púdicas de antigamente deixavam cair o lenço, a pista das construtoras civis. Em vão. Aqui os jornalistas não conseguiram descortinar o «interesse público», tal é a sua miopia. Ou haverá vantagem em tal conivência, do ponto de vista da segurança profissional e pessoal?
O tal respeitinho pelos poderosos caídos na tentação da corrupção ou a leve esperança de cada português poder vir a beneficiar com tais habilidades levou há meses o PGR a afirmar que o combate à corrupção é extremamente difícil porque o povo não a condena e não a denuncia. Quem, então, a pode eliminar dos costumes usados no enriquecimento fácil? Parece que ninguém está interessado nisso, porque quem era suposto realizar tal tarefa, não evidencia o mínimo interesse pessoal nela, antes pelo contrário. Recordem-se as reacções do poder político às propostas de João Cravinho.
A Necrose do Frelimo
Há 2 horas
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