segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A ocultação da história

Há já alguns anos, assisti ao lançamento de um livro no Palácio Galveias em Lisboa em que foi orador o professor Borges Macedo. O livro relatava casos concretos vividos na guerra de África e o apresentador iniciou a sua oração referindo o respeito que deve haver em relação à história, para o que foi estimulado pelo facto de no jardim haver uma colecção de retratos em azulejos dos reis de Portugal, excepto os três Filipes. Criticou essa falha porque eles também foram reis de Portugal, por mais que isso nos posa causar desgosto. Quer se queira ou não é um facto histórico a que não podemos fugir, e que nada adianta ocultar.

Vem isto a propósito de dois artigos de jornal que me chegaram às mãos, segundo os quais a União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) entrega hoje no Parlamento uma petição com 16 mil assinaturas, pedindo aos deputados que travem a criação de um museu dedicado a Salazar, em Santa Comba Dão. A URAP pretende assim contrariar a intenção de construir no Vimieiro (terra natal de Salazar) o "Centro Documental Museu e Parque Temático do Estado Novo". Para isso, a autarquia conta já com parte do espólio de Oliveira Salazar - um terço dos bens imóveis da herança da família, que recebeu por doação de um sobrinho-neto.

Quanto a esta polémica, o autarca de Santa Comba, João Lourenço, diz que o "Centro Documental" é sobre "a história dos 48 anos do Estado Novo". E se o antigo ditador é a figura central do projecto, é porque "foi ele que fundou o Estado Novo". A garantia é de que os mentores da obra não querem "uma homenagem" a Salazar. "Nunca ninguém falou nisso. Pelo contrário, a fazer uma homenagem, é a quem lutou contra o fascismo! Não queremos lições de democracia!"

2 comentários:

Al Cardoso disse...

Mas que raio de democracia querem estes que so concordam com os que estam com eles.
Nao sou defensor do antigo regime, mas com muitos defeitos tambem teve algumas virtudes.
Devido ao facto de ter existido pelo bem e pelo mal nao deve ser borrado da nossa historia, alem disso a esse museu como aos outros so la ira quem quer!

Um abraco do Al d'Algodres.

A. João Soares disse...

Caro Al Cardoso,
Obrigado pelas suas palavras sensatas e frontais.
A este post noutro blog recebi como comentário que o museu poderia ser um local de romagem de fascistas.
Podia ser isso. Tal como as imagens dos nossos reis Filipes e dos outros. Mas daí, com a vigilância e as escutas que estão a ser implantadas, não viria grande mal. Nos estádios de futebol há romagens muito frequentes e ninguém tem medo das desordens que daí vêm. Ninguém fecha as discotecas, onde há frequentes crimes de alta violência, ninguém proibe a Festa do Avante, nem as romarias a Fátima.
Penso que será apenas um preconceito, um falso medo e de que resulta a intenção de ocultação das realidades de uma época de grande duração, com graves restrições de liberdades políticas, que seria bom conhecer para se aprender o que deve ser evitado e o que vale a pena ser imitado na política.
Destes preconceitos e medos acabam por resultar coisas inesperadas como a eleição do maior português de sempre. Conhecer a história, com o mal e com bem que ela nos mostra, só traz vantagens para a cultura de uma Nação.
A vida dos povos desenvolve-se condicionada pelo medo e pelo Amor, não devendo encostar-se demasiado a estas margens, antes mantendo-se no meio, com sensatez, lógica e coerência.
Ter medo do defunto Salazar, já falecido há quase quarenta anos constitui uma psicose a necessitar de tratamento adequado. De nada vale evitar comparações, ter medo delas. A melhor solução é fazer agora melhor do que então, em todos os aspectos e não temer comparações.
Um abraço