sábado, 5 de maio de 2012

ASAE e o consumidor

A Comunicação Social informa que a ASAE investigou o caso da promoção do Pingo Doce para verificar algo de ilícito que prejudicasse as empresas suas concorrentes.

Sem dúvida que a ASAE deve actuar dentro dos limites das atribuições que a lei lhe confere mas, provavelmente, a lei não esteja adequada às realidades que afectam os consumidores finais. Pelo que se depreende, ela procura defender os «tubarões» da distribuição e pune quem der bónus aos clientes consumidores mas não quem sacar a estes o máximo.

É vulgar ter-se conhecimento de produtos agrícolas que o consumidor paga por 100 e que o seu produtor se queixa de os ter vendido apenas por cerca de 10 ou 20. Pode não significar que haja alguém que os compre ao produtor por um preço e os vá vender por cinco ou mais vezes mais. Mas, na maior parte dos casos, existe uma cadeia de demasiados intermediários que, sem aumentar mais-valia ao produto, lhe aumentam o preço.

Já ouvi dizer que, em muitos casos, essa cadeia de elos de intermediários nem se dá ao trabalho de transportar, armazenar e voltar a transportar para o elo seguinte, pois é frequente o mesmo camião carregado no produtor vai descarregar na grande superfície ou nos vendedores finais, passando por sucessivas facturações. É apenas uma escrituração que permite o enriquecimento conivente, em prejuízo de quem produz e de quem consome.

E se não fosse a tal escrituração conivente entre elementos da cadeia, por vezes mais ou menos fictícios, um hipermercado podia legalmente fazer descontos muito superiores aos praticados na badalada promoção, atendendo à diferença entre o preço de venda e o da compra ao produtor.

E, por vezes, acima destes lucros parciais dos elos da cadeia de abastecimento, o vendedor final chega aumentar os preços de 70% ou 80% como a imprensa refere. E essa amplitude de lucros verifica-se com o valor dos descontos em época de saldos. Mas a ASAE não está orientada para punir esses saques ao bolso do consumidor mas para atacar a empresa que faz descontos e dá bónus, porque a lei está orientada para proteger os poderosos à custa dos sacrifícios de quem, economicamente, é apenas consumidor de produtos de primeira necessidade.

Os cidadãos normais deviam apoiar e rezar para as outras grandes superfícies imitarem o Pingo Doce. Mas infelizmente as mensagens que aparecem em e-mails vêm de quem age em defesa das grandes empresas e não dos consumidores. Porém, é urgente que estes se consciencializem e aprendam a resistir à tentação de comprar só para aproveitar os bónus, pois devem aprender a gerir eficazmente o seu dinheiro, principalmente quando é pouco, destinando-o prioritariamente a artigos que lhes são efectivamente necessárias.

Não são visíveis intenções de regularizar e moralizar estes circuitos de distribuição, o que poderia passar por estimular a criação de cooperativas de produtores regionais, geridas por produtores eleitos pelos seus pares.

Devem ser criadas condições de legislação para a ASAE actuar em benefício de quem trabalha na produção e de quem consome. Isso não se resolve com a invenção «inteligente» da ministra da Agricultura com a designação de Taxa Alimentar.

Imagem de arquivo

3 comentários:

André Miguel disse...

Caro João,
Não posso estar mais de acordo.
Nas últimas duas décadas vimos em Portugal o sector dos serviços crescer exponencialmente em detrimento dos transaccionáveis (a produção). Ora isto gerou que a distribuição se modernizou e adaptou muito mais rapidamente que os produtores, pelo que se estes suportam margens mais reduzidas só se podem queixar deles mesmos, agora não podem é culpar os primeiros dos seus males.
Não deixa de ser curioso o que uma simples campanha pode fazer pela discussão de temas tão importantes à nossa economia, entre os quais é óbvio o racionalismo dos consumidores na hora de comprar.
Abraço.

A. João Soares disse...

Caro Amigo André Miguel,

Diz muito bem. Este caso, como muitos outros, deviam se bem analisados em todos os aspectos: implicações, causas e consequências para dele4s se retirarem as melhores lições e serem tomadas decisões adequadas.

Os consumidores, toda a população, durante a sua escolaridade obrigatória, devia ser ensinada naquilo que, durante a vida, lhe é necessário, para bem gerir os seus interesses.
Sem tal informação, o povo acaba por ser um peixe inocente que morde qualquer isco.
E, para suprir essa insuficiência, o Poder cria uma ASAE que serve para defender os tubarões da má concorrência de outros tubarões. O povo ignorante que se lixe...
Será bom que o sector da produção se organize para se defender a si e aos seus trabalhadores, os puros consumidores, que consomem tudo o que ganham.


Abraço
João

A. João Soares disse...

Atenção à notícia:

Bruxelas não vê violação das regras na campanha do Pingo Doce