quinta-feira, 23 de maio de 2013

CARTA DE UM HOMEM VERTICAL


Transcrição de post do blog: Água aberta ... no OCeano:

Carta que remeti hoje (20 de Maio de 2013)

Senhor jornalista Henrique Raposo

Sob o titulo " Contrato entre avós, pais e netos", no semanário Expresso de 18 de Maio de 2013, dirigiu-se-me Vexa, justificando o roubo das pensões (como sabe "roubo" designa o furto com violência, Vexa não sonha quanta!). O modo como na sua "carta" se me dirige, ternurento, será original, mas, concordará, nesta matéria, é de muito mau gosto, quase, diria, que é ofensivo.

Como fazem todos os seus colegas ideológicos, escamoteia Vexa o facto de que eu, durante a minha vida activa, paguei a pensão dos vossos avós, pais e mães sendo certo que, uma grande maioria delas, até pela profissão, não descontaram nada ou quase nada para a terem. Foi o sentido de justiça social da minha geração que o permitiu.

Os senhores, que beneficiaram de uma melhor educação e estão gordos de cultura sabem muito bem que à luta de classes estão a juntar a luta de gerações e que a actual "crise" mais não é que um ajustamento estrutural do capitalismo que, em consequência do fim da, chamada, "guerra fria", tomou o freio nos dentes e tenta reduzir o aparelho de Estado ao mínimo estritamente necessário para que quem produz o continue a fazer permitindo a apropriação indevida do seu sobre trabalho pelos "mercados"; é da sua natureza que assim seja, não que os homens sejam maus. É que aquilo, na URSS, podia ser mau para as vitimas, mas dava a aparência de uma sociedade mais justa e fraterna que servia de "mau exemplo" pelo que era necessário que cá também houvesse "Estado social" que, claro, desviava dinheiro dos "mercados". Os senhores sabem bem que o problema não é o Estado não poder ser social por não haver dinheiro, o Estado não é neutro e aumenta mais o IRS ou diminui o IRC conforme os interesses que defende. Os senhores sabem bem que uma alta taxa estrutural de desemprego é bom para os "mercados", o problema é gerir o "quantum" para continuar a haver consumidores. A social democracia tenta corrigir isso quando não está como agora dominada por arrivistas.

Tem Vexa a pretensão de ainda vir a auferir uma pensão de 20 a 30% da sua remuneração. Eu quando comecei a trabalhar tive a pretensão de auferir 100% e sabe bem porquê. Porque eram as regras que me levaram, entre outras ponderações, a optar pela profissão que tive. Vexa está à vontade porque ou é rico ou vai acautelar-se com PPRs e quejandos, ou ainda pode vir a ser empresário. Eu, que já estou mais para a morte do que para a vida, fui apanhado por um grupo de serventuários do capitalismo selvagem que nem as suas próprias regras respeita, ou parece-lhe que as empresas funcionam dizendo "olha hoje só pago a fornecedores 50% do que lhes devo?"; se não têm dinheiro ficam a dever, negoceiam as dividas, reformam letras ou vão à falência, mas não podem como o Estado actual, unilateralmente, só pagar o que lhes parece.

Acha Vexa que a pensão não pode ter um valor imutável, tem que estar indexada ao PIB, à evolução da esperança de vida e ao rácio trabalhador reformado. Estou inteiramente de acordo se me der mais quarenta anos de vida. Dá-mos? Não, então façam só para vocês.

Não lhe desejo que na sua velhice lhe aconteça o mesmo; que lhe confisquem na sua pensão, como a mim, que já vou numa redução de 25% da minha expectativa com a ameaça, de que virá mais um corte de 15% e a permanente incerteza do que se seguirá ou que tenha os seus PPR nas mãos de qualquer Madoff. Desejo-lhe felicidades.

Luís A N Paiva de Andrade
Capitão de Mar e Guerra Reformado, 47 anos de descontos "obrigatórios" para a CGA, Militante do PSD

Imagem de arquivo

2 comentários:

Zé Povinho disse...

Este governo aplica normas que nunca apresentou aos eleitores, e usa a retroactividade que nunca foi admissível na lei, demonstrando o mais perfeito desrespeito pela Justiça e pela Constituição.
Abraço do Zé

A. João Soares disse...

Caro Zé,

Fala-se de democracia, soberania do povo, mas este é ignorado e desprezado, como em qualquer vulgar ditadura. Depois fala-se em consenso com a oposição mas entende-se isso como o aplauso e a aprovação de decisões já tomadas, em vez de se procurar o diálogo na preparação das medidas a tomar a fim destas merecerem o tal consenso, a adesão de todos.
É difícil compreender a preparação e a competência destes políticos. Mas, apesar disso, dispõe da conivência e da cumplicidade de um PR cujo comportamento deixa muito a desejar.

Abraço
João