Transcrição de artigo que deve ser lido com atenção e espírito crítico, para se tentar descortinar o rumo que deveria ser seguido:
Manuela Ferreira Leite: "Estamos a andar ao contrário"
Jornal de Negócios. 10 Outubro 2013, 11:37 por António Larguesa | alarguesa@negocios.pt
Ex-ministra das Finanças considera que a incompreensão da estratégia governativa, a elevada carga fiscal e falta de confiança no Estado minam o equilíbrio das contas públicas e a recuperação da economia.
Manuela Ferreira Leite disse esta quinta-feira que "o caminho que temos de percorrer é muito longo e, em questões essenciais, estamos a andar ao contrário". Lembrando que "o êxito assenta na compreensão da necessidade [do ajustamento], na clareza dos meios utilizados e nos seus objectivos", pois "só assim os cidadãos estarão empolgados neste processo de mudança", a ex-ministra referiu "não perceber a estratégia nem o que se espera no fim dela ser aplicada" pelo Executivo.
Durante as jornadas AEP/Serralves, que decorrem esta quinta-feira na fundação portuense, Ferreira Leite notou que "não augura nada de bom" ter uma "classe média em regressão acelerada com políticas que a enfraquecem" e frisou que "não há crescimento económico com elevadas cargas fiscais". Nem que "a prática esteja a ser dar-lhes outros nomes, como contribuições", criticou.
"Um Estado que não mereça a confiança dos cidadãos é um entrave a que se tomem decisões de longo prazo. Todos os sinais dados no sentido de não criar confiança no Estado são muito prejudiciais", acrescentou a antecessora de Pedro Passos Coelho na presidência do PSD.
"Empresas desabam ao primeiro abalo"
Sublinhando que "é impossível executar um plano de desenvolvimento se ele for incompreendido pelas pessoas", Manuela Ferreira Leite denunciou igualmente as falhas na receita de austeridade aplicada a Portugal, que "tomou todas essas medidas [apontadas como] necessárias para que em 2013 estivesse anulado o défice orçamental", mas onde "essa correcção está muito longe de ser conseguida".
"A receita que nos foi imposta não se aplica à nossa estrutura produtiva nem tomou em conta os níveis de endividamento das pessoas e das empresas. Tentar corrigir o desequilíbrio das contas públicas sem ter em conta a nossa estrutura produtiva e o nível de endividamento provocou efeitos recessivos. Com uma receita simultânea de aumento de impostos e redução de salários a sectores endividados, o impacto no consumo é elevado e violento", resumiu a ex-ministra das Finanças.
Por outro lado, detalhou que a estrutura produtiva nacional é composta por micro, pequenas e médias empresas. "E quando estão endividadas, quando têm dificuldades no acesso ao crédito, quando há uma quebra na procura interna e um aumento de impostos, elas são pequenas para suportar este abalo. E por isso desabam ao primeiro abano. Por isso esta receita teve efeitos perniciosos porque foi aplicada a uma realidade que não foi considerada", concluiu Ferreira Leite.
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